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Festa do Mastro de Capela: 85 anos de tradição e alegria 

O evento em homenagem a São Pedro consiste no levantamento de um grande tronco de árvore, seguindo uma tradição europeia que se adequou aos festejos juninos

às 20h22
A festa realizada desde 1939 em Capela surgiu de uma antiga tradição de erguer mastros em homenagem aos santos juninos, e hoje é patrimônio imaterial de Sergipe (Reprodução/Portal A8SE)
A festa realizada desde 1939 em Capela surgiu de uma antiga tradição de erguer mastros em homenagem aos santos juninos, e hoje é patrimônio imaterial de Sergipe (Reprodução/Portal A8SE)
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Todos os anos, milhares de pessoas mergulham em uma tradição que mistura o sagrado ao rústico e ao profano. Neste mergulho, praticamente todos os participantes saem cobertos de lama, festejando e carregando um mastro a ser erguido em homenagem a São Pedro, o terceiro santo do ciclo junino e primeiro Papa da Igreja Católica. Esta é a chamada Festa do Mastro, que acontece há 85 anos na cidade de Capela (a 67 quilômetros de Aracaju) e, desde então, é uma das manifestações populares mais aguardadas do período no interior de Sergipe, além de uma das tradicionais do tipo no Brasil.

Ela segue um antigo rito que surgiu na antiga Europa, onde as tribos pagãs tinham o costume de celebrar o levantamento de um tronco de árvore, para representar a força, a virilidade e a fertilidade masculina, além de celebrar a colheita das lavouras plantadas. Com o aumento da predominância católica, estes rituais foram “cristianizados” e atribuídos aos santos juninos (São Pedro, Santo Antônio e São João). Assim, a Festa do Mastro passou a ser uma cerimônia dedicada a São Pedro é composta por três etapas de execução: antes da festa, quando o mastro é escolhido, cortado e puxado; a fincada dele no centro da praça, durante a festa; e o final, quando esse mastro é derrubado ao chão. 

Estes ritos que acabaram trazidos ao Nordeste brasileiro ao longo do século XVI, com a chegada dos colonizadores católicos portugueses. Uma vez no Brasil, as celebrações passaram a se envolver mais com as comemorações populares dos povos originários que já habitavam a terra. A tradição foi ganhando força ao longo dos anos, à medida em que as festas foram ganhando outros elementos de música, dança e comidas típicas. No caso da Festa do Mastro, estes elementos foram o forró (e seus trios pé-de-serra), as comidas juninas (a base de milho), os fogos de artifício e os estrondosos tiros de bacamartes, disparados por grupos de bacamarteiros que participam dos cortejos. 

A Festa do Mastro foi introduzida em Capela no dia 29 de junho de 1939, a partir de uma brincadeira feita pelos quatro irmãos Francisco de Melo: Anderson, Napoleão, Nelson e Wilson. Com a participação da família e de outros moradores, eles saíram às ruas da cidade e fincaram o mastro pela primeira vez, para comemorar o dia de São Pedro. Desde então, passou a ser realizada no dia 29 de junho ou no primeiro domingo após essa data, quando ela não cai em um fim de semana.

Preparativos

A festa capelense começa a ser preparada muito antes. No último dia de maio, acontece a Sarandaia, também chamada “nega baiana”, na qual um homem vestido de baiana, com saia rodada e um grande cesto na cabeça, sai pelas ruas da cidade para recolher presentes que serão colocados no mastro, principalmente fitas, arranjos e bebidas alcóolicas. O cortejo é acompanhado por zabumbeiros e bacamarteiros. 

No dia de Corpus Christi, uma árvore com mais de cinco metros de altura é escolhida, marcada e tem seus galhos baixos retirados. No dia da festa, milhares de pessoas vão até a mata do Junco buscar um tronco previamente escolhido. Antes da derrubada é feito o ritual da saudação. No local, são plantadas novas mudas para evitar o desmatamento. É festa e lama para todos os lados na ida e na volta para fincar o mastro na Praça São Pedro, quando acontece a salva de tiros dos bacamartes, com muita a animação do público. 

A festa se difundiu ao longo dos anos devido a alta participação popular e passou a atrair visitantes de todo o estado de Sergipe e também de outros estados. Isso se dá não apenas pelas devoções ao padroeiro São Pedro, mas também pela crença muito popular entre os homens da região, os quais acreditam que, ao tocarem o tronco, conservam vigorosas as suas faculdades sexuais. 

Em 2019, a Festa do Mastro de Capela foi transformada em Patrimônio Cultural do município através da Lei nº 557/2019, de 18 de outubro de 2019, sancionada pela Prefeitura local. Em 2021, ela se tornou Patrimônio Cultural Imaterial de Sergipe, através da Lei estadual nº 94/2021.

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