Historicamente, o homem sempre gerou resíduos. Com a escala de crescimento populacional no mundo ultrapassamos a marca dos sete bilhões de pessoas. Esse dado não teria tanto impacto ao meio ambiente não fosse pela forma como estamos consumindo. Após a Revolução Industrial a sociedade planetária foi impulsionada a consumir muito, com consequente descarte de tudo que se é adquirido. A indústria explora recursos naturais, põe na linha de produção e abastece o mercado altamente voraz por consumo.
Segundo Profa. Msc. Luciana Rodrigues de Morais e Silva, coordenadora do Programa de Meio Ambiente Tiradentes Conduta Consciente, na antiguidade o que nossos ancestrais consumiam produtos que tinham origem 100% natural e por isso não havia o acúmulo de lixo, sendo biodegradável todo o material descartado. “Hoje, entramos numa onda insana de adquirir produtos “inhos”, como suquinhos, biscoitinhos, danoninhos, com muita embalagem. O que leva uma indústria alimentícia a produzir 25 gramas de suco em uma caixinha que vem embalada num plástico acompanhada de um canudo que também está embalado num plástico?”, questiona.
Diante desse cenário o momento pede sensatez, revisão de costumes, pressão dos consumidores sobre a indústria, enquanto eles continuarem produzindo lixo plástico (embalagens), sem nenhuma ética ambiental, estaremos enxugando gelo no quesito sensibilização e consciência ambiental. O lixo é hoje, e vem sendo há muitas décadas, um problema global.
Destinação do lixo
O Brasil conta com uma vasta Legislação Ambiental, porém, com muita lei de gaveta. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, que vigora desde 2010, vem a passos lentos impondo a extinção dos espaços conhecidos popularmente como lixão, mas para especialistas, o problema precisa ser pensado desde a fonte geradora de todos os resíduos. Isso porque boa parte da população principalmente no Brasil, não faz questão de se engajar no processo da Coleta Seletiva, um processo de tomada de responsabilidade no qual cada um deveria se preocupar com o que consome e como irá descartar. “Seria o processo chamado de pré ciclagem, quando eu penso antes de comprar de determinado fabricante que não leva em consideração às questões ambientais”, sugere
Segundo Luciana, em 2018 foram gerados 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos no Brasil, o que aponta como país campeão da América Latina, gerando em média 541 mil toneladas/dia. A previsão é que em 2030 sejam 100 milhões de toneladas/ano. Um em cada 12 brasileiros não têm acesso a coleta regular de lixo, mais de 3 mil municípios ainda mantém espaços altamente insalubres, os ditos lixões, apenas 10% dos resíduos gerados no nosso país são reciclados e esse índice está estagnado há quase uma década.
“O que nos leva a compreender que existe uma falta de percepção da importância da gestão adequada dos resíduos sólidos, que envolve o poder público, a população de um modo geral e de toda a cadeia produtiva. Com a desculpa dos altos custos para coleta e manutenção dos aterros, seguimos com números deprimentes que em nada contribuem para o tão necessário equilíbrio ambiental que mantém as populações saudáveis com menos riscos de doenças emergentes, riscos de epidemias e pandemias”, alerta.
Gestão de resíduos sólidos
A produção em larga escala associada ao consumo exagerado e com descarte totalmente inadequado é uma conta que não fecha. As consequências são apresentadas em números e atinge em cheio a saúde pública com o aparecimento de doenças advindas de insetos, a exemplo de dengue, Chikungunya, zika, e ainda poluição da água, ar e solo, degradação das matas ciliares e florestas, extinção de espécies.
“O lixo jogado em local inadequado, produz chorume que polui os lençóis freáticos que nos abastecem em nossas casas, atraem insetos e roedores com propagação de doenças, degradam os ambientes e leva animais a extinção. O viés social também precisa ser levado em consideração, quantas famílias sobrevivem de forma altamente insalubre nesses espaços sem o mínimo de dignidade catando lixo, com riscos de contaminação. A gestão dos resíduos apresenta-se hoje de forma imperativa, cada indivíduo precisa se sentir convocado a se responsabilizar que resíduo gerado, não cabe mais empurrar a sujeira para a porta do vizinho”, atenta a docente.
Em análise, Luciana ressalta que levando-se em consideração os princípios do Desenvolvimento Sustentável que diz para sermos economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente equilibrado, requer visão sistêmica de gestores do setor público e da iniciativa privada. “O desenvolvimento carece ser benéfico para todos. No quesito produção de lixo, estima-se que mais de 800 mil pessoas sejam catadores de material reciclável, é um grupo de pessoas “invisível”, prestam um enorme serviço à sociedade e são altamente desvalorizados, principalmente pelas Prefeituras municipais. A Gestão do Resíduo Sólido é condição sine qua non para atingirmos o patamar de outros países desenvolvidos. Essa gestão vai desde a exploração, transformação, produção, consumo até o descarte, envolve vários atores sociais.
Os oceanos
Todo o resíduo tóxico jogado em ambientes naturais traz consequências para a própria humanidade. Pesquisas já indicam a presença de micro plástico no organismo do homem resultado também do consumo de peixes, mariscos e crustáceos contaminados. “Isso é o efeito bumerangue, tudo que vai, um dia volta. Então preservar o ambiente é uma questão de sobrevivência humana”.
Outro processo é a extinção de espécies. “Já temos algumas ilhas de plástico, a exemplo do Pacífico, onde os animais confundem esse lixo com alimento e terminam morrendo. Estamos acelerando o processo de extermínio de espécies em todos os ecossistemas da Terra. Muito das nossas riquezas de fauna e flora está sendo perdida. Se não houver uma mudança de comportamento, a futura geração conhecerá esse mundo no qual vivemos em museus e fotografias. Esse será o nosso legado, infelizmente!”, finaliza.