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MPB: saiba a história do clássico “Águas de Março”

É preciso regressar até março de 1972, e revisitar a atmosfera de um sítio em Poço Fundo, no Rio de Janeiro, refúgio do mestre da Bossa Nova

às 20h39
Imagem: Unsplash
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Composição que transcende gerações foi ‘divisor de águas’ na carreira de Tom Jobim, um dos mestres da MPB

Poderia ser somente uma referência à mudança das estações, a transição entre verão e outono marcada pelas águas de março, ou seja, as chuvas que caem em grande volume no terceiro mês do calendário. Mas, a verdade, é que um dos clássicos da Música Popular Brasileira, a música “Águas de Março”, composição de Tom Jobim, vai muito além disto.

Para resgatar a história da canção, que transcende gerações, é preciso regressar até março de 1972, e revisitar a atmosfera de um sítio em Poço Fundo, no Rio de Janeiro, refúgio do mestre da Bossa Nova. Foi neste ambiente, cercado pela natureza e também, por uma certa tristeza que pairava nos dias do compositor, que a inspiração surgiu. A revelação foi feita pelo próprio Tom Jobim durante uma entrevista.

Os versos da canção vieram após um dia cansativo de trabalho na ‘roça’. Abatido por problemas de saúde, esse foi um período de desesperança, onde o artista bebia muito e reclamava, pois ninguém ouvia suas músicas. Acompanhado por seu violão, ele começou a dedilhar e assim surgiram as primeiras frases, até chegar ao clássico refrão: “são as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração”.

A música, que transcende gerações, foi também um literal ‘divisor de águas’ na carreira do artista, que obteve reconhecimento como músico, compositor e cantor. A versão cantada com Elis Regina, em 1974, sacramentou o sucesso da canção que também ganhou versão em inglês, composta por Tom Jobim.

Em uma pesquisa realizada pelo jornal Folha de São Paulo, em 2001, a canção foi eleita por jornalistas e membros da classe artística, a melhor música brasileira de todos os tempos. Em um ranking da revista Rolling Stones, “Águas de Março”, ficou em segundo lugar, atrás apenas da composição de Chico Buarque, “Construção”.

Confira a íntegra da letra: 

“Águas de Março”

Compositor: Tom Jobim

 

É o pau, é a pedra, é o fim do caminho

É um resto de toco, é um pouco sozinho 

É um caco de vidro, é a vida, é o sol

 É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol

É peroba no campo, é o nó da madeira

Caingá candeia, é o matita-pereira

É madeira de vento, tombo da ribanceira

É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira

É a viga, é o vão, festa da cumeeira

É a chuva chovendo, é conversa ribeira

Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira

Passarinho na mão, pedra de atiradeira

É uma ave no céu, é uma ave no chão

É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho

No rosto um desgosto, é um pouco sozinho

É um estepe, é um prego, é uma conta, é um conto

É um pingo pingando, é uma conta, é um ponto

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando

É a luz da manhã, é o tijolo chegando

É a lenha, é o dia, é o fim da picada

É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama

É o carro enguiçado, é a lama, é a lama

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã

É um resto de mato na luz da manhã

São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José

É um espinho na mão, é um corte no pé

São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho

É um resto de toco, é um pouco sozinho

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã

É um belo horizonte, é uma febre terçã

São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração

Ascom | Grupo Tiradentes

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