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Criar rituais de despedida é um caminho diante da proibição do adeus

Familiares podem encontram caminho para despedida de entes queridos mesmo com proibição de velórios e funerais por protocolo sanitário

às 21h02
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A pandemia do novo coronavírus tem deixado perdas sem medidas e inéditas para muitas gerações. Essa falta de referência sobre relatos de luto, sem a possibilidade da despedida em velórios e funerais, demanda que se busque construir um novo caminho para trabalhar este momento de luto pelas vítimas fatais da Covid-19

Isso é o que explica a psicóloga clínica Luciana Andrade, professora do Centro Universitário Tiradentes (Unit Alagoas). Para ela, é necessário que os familiares dos que partiram, sem a possibilidade da despedida de um adeus, construam novos caminhos para lidar com a dor da perda. 

“Encontramos relatos de filhos que enterraram seus pais e em seguida enterraram seu filho. Esse deslocamento de gerações pode levar o ser humano a sentir uma dor irreparável, preenchida de vários sentimentos, que podem ser confusos para a pessoa. Velar o corpo do outro pode ser uma etapa muito dolorosa, mas uma saída, ou o começo dela, para vivenciar a situação”, explica a mestre em Psicologia.

A proibição dos velórios foi orientada pelo protocolo do Ministério da Saúde, devido ao risco de transmissão associado ao contato entre familiares e amigos. A recomendação é que falecidos por Covid ou suspeita podem ser enterrados ou cremados, mas sem funerais e cerimônias de despedida.

“Mas o que percebi e ouvi de algumas pessoas é que mesmo sem poder velar o corpo ou enterrar um ente querido foi necessário encontrar outra saída. Alguns rezaram e criaram um “clima de velório” (uma cena no momento) em suas próprias casas, junto aos seus parentes ou amigos; pediram uma palavra de conforto a um padre (para quem é religioso); ou um momento de comunhão em família”, conta Luciana Andrade.

Para a psicóloga, esses são alguns exemplos para mostrar que o ser humano pode encontrar uma saída simbólica para uma perda irreparável. Para isso, muitas vezes é necessário um acolhimento para que a pessoa encontre um caminho que faça sentido para ela.

A cerimônia de sepultamento deve ocorrer em lugares ventilados e, de preferência, abertos e com a presença de, no máximo, dez pessoas durante o sepultamento, respeitando a distância mínima de, pelo menos, dois metros entre elas, assim como as demais medidas de isolamento social e de etiqueta respiratória. 

O adeus sem a despedida 

Diante dos familiares das vítimas fatais da Covid-19 mais um sofrimento se impôs com a proibição de velórios e funerais de pacientes confirmados ou suspeitos da doença infecciosa causada pelo novo coronavírus. Para lidar com a despedida sem a possibilidade de um adeus, novos caminhos têm sido construídos para lidar com a dor da perda. 

A psicóloga Luciana Andrade destaca que a pandemia deixou perdas sem medidas, inéditas para muitas gerações e essa falta de referência sobre relatos de luto em uma pandemia demanda que se busque construir um novo caminho para trabalhar este momento de luto. 

“Encontramos relatos de filhos que enterraram seus pais e em seguida enterraram seu filho. Esse deslocamento de gerações pode levar o ser humano a sentir uma dor irreparável, preenchida de vários sentimentos, que podem ser confusos para a pessoa. Velar o corpo do outro pode ser uma etapa muito dolorosa, mas uma saída (ou o começo dela) para vivenciar a situação”, explica a mestre em psicologia e professora universitária.

Segundo a profissional, para que haja um sentimento de superação, muitas vezes é necessário um acolhimento para que a pessoa encontre um caminho que faça sentido para ela. Buscar a terapia é uma opção para quem busca falar sobre a sua perda e ver um sentido para a dor.

Protocolo do adeus

O Ministério da Saúde recomenda a presença de, no máximo, 10 pessoas durante o sepultamento, respeitando a distância mínima de, pelo menos, dois metros entre elas, assim como as demais medidas de isolamento social e de etiqueta respiratória. 

O protocolo recomenda ainda que seja evitada a permanência de pessoas que pertençam ao grupo de risco: maiores de 60 anos, gestantes, lactantes, portadores de doenças crônicas e imunodeprimidos. Além disso, a presença de pessoas com sintomas respiratórios também deve ser evitada como, por exemplo, febre e tosse. 

Se a pessoa confirmada ou suspeita de infecção por coronavírus falecer em casa, é necessário comunicar a morte imediatamente ao serviço de saúde, como Bombeiros, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192), ou mesmo ao médico de confiança da família, que não deve ter contato com o corpo. As pessoas que moram com o falecido deverão receber orientações de desinfecção dos ambientes e objetos, usando água sanitária. Durante todo o sepultamento o caixão deve permanecer fechado para evitar qualquer contato com o corpo.

Asscom | Grupo Tiradentes

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