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Projeto de egressa de Arquitetura e Urbanismo é destaque em evento mundial

“Coração de Negro marca o encontro da minha história e ancestralidade com o caminho profissional que escolhi”, declara egressa de Arquitetura e Urbanismo, Vanessa Costa

às 13h07
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“Motivada pelos contatos que tive com as populações e territórios em condição de vulnerabilidade, eu me senti e continuo me sentindo como um instrumento que pode promover fortalecimentos humanos por meio da minha atuação profissional. Quando aprofundei a pesquisa e tive contato direto com a comunidade Quilombola de Sítio Alto tive várias intuições, sobretudo senti que era ali onde eu gostaria de estar enquanto pessoa/profissional e promover essa intervenção. Foram trocas constantes de saberes e fazeres que me fizeram perceber o quão forte é a minha relação e necessidade em trabalhar com os quilombos”, enfatiza Vanessa dos Anjos Costa, egressa do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tiradentes. 

Foi na Unit que Vanessa começou a se interessar pela pesquisa. Na disciplina Projetos Escolares, a egressa compreendeu a relevância da Arquitetura Escolar no papel social. Com esse ponto de partida, amadureceu a ideia de fazer a pesquisa do seu Trabalho de Conclusão de Curso voltada para essa linha. Unindo essa ideia com a reconexão da sua infância na zona rural do município de Simão Dias, a pesquisa foi direcionada para os territórios rurais desvalorizados pelas políticas públicas. Assim, culminou no conceituado e renomado projeto que foi seu Trabalho de Conclusão e Curso: ‘Coração de Negro – Complexo Escolar Quilombola’, apresentado em 2019.

Trata-se de um Complexo Escolar desenvolvido para a comunidade rural quilombola do Sítio Alto, no município de Simão Dias. Vanessa, nascida no município, propõe no “Coração de Negro” o atendimento às crianças de 0 a 14 anos, de forma integral, auxiliando no processo de equidade social e fortalecimento das potencialidades da cultura e economia local. O conceito do projeto é fundamentado na identidade quilombola e aborda, como referência, o marco territorial e ancestral da árvore Coração de Negro, situada na extremidade da comunidade de Sítio Alto.

O projeto foi destaque no 27º Congresso Mundial de Arquitetos (UIA2021RIO). Além disso, Vanessa dos Anjos Costa também teve seu projeto entre os três selecionados no 4º Prêmio de TCC de Arquitetura e Urbanismo do CAU/SE, realizado de forma virtual em dezembro de 2020. Já pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, está entre os 51 projetos/planos que devem compor o 2º Guia IAB para a Agenda 2030.

Arquitetura e Urbanismo

“A minha inquietude com as problemáticas sociais também é um fator relevante. Acredito que estou nesse processo de entender quais são as maneiras e caminhos que devo traçar para trabalhar em prol de uma aproximação mais humanizada entre a arquitetura e a sociedade. O Coração de Negro não significa apenas um projeto para mim, ele marca o encontro da minha história e ancestralidade com o caminho profissional que escolhi”, declara a egressa de Arquitetura e Urbanismo da Unit.  

A estrutura da Unit foi fundamental para Vanessa dos Anjos Costa, que encontrou nela o fomento para o apoio e desenvolvimento profissional. “Proporcionalmente ao resultado do Coração de Negro foi o incentivo por parte alguns professores da instituição e que possuo como mentores até hoje. Com certeza a Ma. Shirley Dantas, o Me. Édulo Lins e a minha orientadora de TCC Me. Colette Dantas possuem um papel especial em minha trajetória acadêmica, já que desde os primeiros contatos que tive sempre me incentivaram a produzir algo mais próximo da escala do usuário e isso me estimulou a descoberta de uma ótica mais aproximada de quem eu sou para a Arquitetura. A admiração e os ensinamentos são coisas que com certeza eu levo para o resto da minha vida”, revela. 

“O professor Édulo Lins sempre incentivou os estudantes a investirem nessas possibilidades diante das produções de trabalhos acadêmicos e profissionais. Juntei esse conhecimento ao meu sentimento de inquietude pandêmica em não manter esse projeto apenas como encerramento de um ciclo, mas sim abertura de outros novos e foi esse o resultado”, expõe.

Acerca das perspectivas para o futuro, a pesquisa é o caminho mais cobiçado por Vanessa. “Nós não prevemos o futuro, mas podemos sonhar e planejar ele. Os meus objetivos estão cada vez mais consolidados em meu coração, sempre prefiro me sentir primeiro e depois seguir minha intuição tateando os caminhos que quero ir. A pesquisa com certeza é um deles, faz parte de quem eu sou e as estradas que quero cruzar para realizar meus sonhos, contribuindo com uma sociedade mais justa e equitativa por meio da Arquitetura que carrego em meu olhar”, destaca. 

Já a materialização do projeto, ela informa que ainda não foi possível por falta de financiamento. “O Projeto ainda não foi executado, seria um sonho a consolidação e materialização dele. Mesmo depois de 2 anos de formada eu continuo estudando as possibilidades para implantação dele na comunidade. Embora tenha uma Arquitetura mais próxima da coerência do Quilombo de Sítio Alto, sua execução exige recursos financeiros que precisam ser subsidiados. Eu estou no papel de Arquiteta e idealizadora, portanto dependo do interesse do poder público ou de instituições que tenham a pretensão de financiar a proposta”, elucida.

 

Projeto Coração de Negro – Complexo Escolar Quilombola

O Coração de Negro é um Complexo Escolar desenvolvido para a comunidade rural quilombola de Sítio Alto, município de Simão Dias, região Centro-sul do Estado de Sergipe, nordeste do Brasil. O projeto pretende atender crianças entre 0 à 14 anos, em período integral, auxiliar no processo de equidade social, e fortalecer as potencialidades da cultura e economias locais. Seu conceito fundamenta-se na valorização da identidade quilombola, trazendo como referência o marco territorial e ancestral da árvore Coração de Negro, situada na extremidade da comunidade. Foram incorporados elementos da sua morfologia orgânica de copa circular, raízes, conexões e nós, atribuindo-a como um elemento forte de valorização cultural, memória e identidade local. O partido promove a conexão entre as tradições locais, ancestralidade, crenças e métodos construtivos utilizados no processo de formação do povoado. Os materiais utilizados são abundantes na região, com o uso de terra nas vedações, estruturas em madeira de reflorestamento e coberturas de piaçava.

As estratégias bioclimáticas são destacadas nos elementos de aberturas em cobogós, janelas em muxarabis, diferenças de níveis e aberturas nos telhados para exaustão do calor interno dos espaços. Essas soluções permitem a ventilação cruzada, iluminação natural e constante em todos os ambientes das edificações. A infraestrutura escolar possui um planejamento que possibilita a redução na produção de lixo, baixo consumo energético e tratamento de esgoto ecológico para o seu pleno funcionamento no pós-obra. Nesse contexto a sustentabilidade é um valor intrínseco e se destaca no uso equilibrado dos materiais e soluções arquitetônicas. Além de atender a sustentabilidade sociocultural com o fortalecimento da identidade local, educação digna de forma equitativa, valorização do trabalho no campo, e estímulo à agricultura de subsistência familiar, possibilitando ao Sitio Alto se tornar autossuficiente em seu próprio território.

 

Com informações da CAU/BR

 

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