Dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) mostram que, de 16 de março de 2020 a 24 de setembro de 2021, 12.211 crianças de até seis anos ficaram órfãs de um dos pais vítimas de covid-19 no Brasil. Com essa situação, o Governo Federal criou o Projeto de Lei 1305/21, que estabelece uma pensão individual e mensal para esse público até a maioridade. Em Sergipe, o Governo do Estado sancionou a Lei 8.910/21 para a criação do Cartão Mais Inclusão – CMais Sergipe Acolhe.
Segundo a assistente social e mestra em Sociologia, Kátia Maria Araújo Souza, coordenadora do Núcleo de Apoio Pedagógico e Psicossocial da Unit (NAPPS), a pandemia foi algo inesperado e que ainda causa a perda do provedor da família, e isso ocasiona problemas financeiros, emocionais e sociais.
“Aliado à perda afetiva, vivenciamos a crise econômica com pessoas desempregadas, empresas fechadas e um mundo às escuras. Até o acolhimento era distante, sem o abraço que acalenta ou o ombro para chorar. Passado esse momento, em que cada um sofreu com o distanciamento, aos poucos voltamos a um ‘normal’, visto que precisamos nos cuidar, respeitar os espaços, usar máscaras e nos vacinar. O medo ainda nos persegue. Tanto aos órfãos como aos que não querem ser órfãos”, disse.
Para ela, o benefício é importante, mas outros cuidados também são essenciais. “Suporte financeiro é necessário e imprescindível, porém o suporte psicológico e, em alguns casos, psiquiátrico, tanto para os órfãos como para os familiares, devem ser ofertados, pois as consequências para a saúde mental têm sido significativas e os transtornos, se não devidamente cuidados, podem ter consequências desastrosas”, disse.
Acima de tudo, é importante que a sociedade contribua para o acolhimento dos órfãos e outras pessoas que também perderam familiares e amigos para a covid-19. “A sociedade precisa sair do discurso para a ação. Acolher, encaminhar aos serviços públicos ou privados e exigir que esses serviços sejam ofertados, mas também serem sensíveis às escutas. Exercer a empatia, o se colocar no lugar do outro, isso não significa que tenho que viver o sofrimento do outro, mas entender e ter uma palavra de conforto. É isso que nos faz humanos”, concluiu a assistente social.
Outras instituições como igrejas e escolas também possuem responsabilidade social e devem complementar, sem fundamentalismos, a proteção, orientação e acolhimento de órfãos.
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