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Fogueira: uma tradição junina com vários significados

O ato de acender fogueira passeia entre a sacro e o lúdico com uma série de elementos míticos e folclóricos

às 19h46
Foto: Felipe Goettenauer (Emsurb)
Foto: Felipe Goettenauer (Emsurb)
Professor Rony Silva
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A fogueira é uma representação cultural presente no mês de junho, principalmente na região nordeste do Brasil. Seu significado passeia entre o sacro e o lúdico, mas o que não se pode deixar de lado é que há uma série de elementos míticos e folclóricos, cheios de simbolismo, ao redor da cultura de acender fogueira.

O professor de História da Universidade Tiradentes (Unit), Rony Silva, comenta que a origem da tradição das fogueiras juninas refere-se a relatos bíblicos. “Isabel, a mãe de João Batista, era estéril e estava em uma idade avançada. Mesmo em meio a essas adversidades ela engravidou e disse a sua prima Maria, que seria mãe de Jesus Cristo, que comunicaria o nascimento do seu filho acendendo uma grande fogueira. Esta versão ligada à sacralidade explicaria a prática de se acender fogueira no dia 23 de junho”, lembra.

“Por outro lado, alguns pesquisadores atribuem o ato de se acender as fogueiras às práticas europeias pagãs. Determinados povos viam no fogo um elemento mágico para espantar as pestes da lavoura. Ainda existe a versão mítica folclórica na qual São João dorme no ápice profano das festas juninas e se caso acordasse e presenciasse a forma como se comemora o seu nascimento, ele desceria do céu e perderia a santidade”, destaca.

É importante lembrar que a figura do São João comemorado no Nordeste brasileiro na dimensão profana é ele em sua infância. “Podemos perceber em alguns quadros pintados com um menino mestiço com cabelos encaracolados segurando um carneirinho. Na perspectiva do catolicismo formal e popular, venera-se o São João Batista como padroeiro de uma determinada localidade”, conta.

O professor lembra que acender fogueira para os santos juninos pode variar de intenção. “O ato de acender fogueiras pode variar conforme as crenças e objetivos de quem acende. Fogueiras são acesas para Santo Antônio, em 13 de junho, geralmente, por moças solteiras que buscam por um casamento. Mas, sem dúvida, a fogueira mais difundida popularmente é a oferecida a São João, dia 23 de junho e, por fim, para São Pedro, a grosso modo, acendida por viúvos, em 29 de junho”, detalha.

Segundo Rony Silva, a fogueira acesa na frente das casas tem um papel paradoxal. “O mesmo fogo que, temido como símbolo do inferno, para onde vão os pecadores, é o fogo que, nas festas juninas do passado, tinham um sentido ligado à purificação e a celebração e que, no presente, expressa a comemoração festiva e religiosa em homenagem a um dos santos mais festejados do calendário católico brasileiro”, diz.

A fogueira é o elemento principal para a celebração junina que tem como objetivo reunir para congregar. “A fogueira acesa na porta de casa é um indicativo de que naquela residência comemorava-se o São João e, portanto, é oferecido comidas e bebidas típicas para a degustação tanto de pessoas com estreitas ligações familiares ou afetivas como também para visitantes que fazem parte do círculo de amizade dos donos da casa”.

 

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