Apesar de quase 14 milhões de negros empreendem no país, muitos desafios são enfrentados para o sucesso desses empreendedores. Em razão das recorrentes crises, sejam elas motivadas pela recente pandemia, por guerras ou desequilíbrios econômicos, pode-se observar o crescimento de novas modalidades econômicas que as pessoas usam na tentativa para a independência financeira. O afroempreendedorismo é um desses exemplos, sendo uma estratégia para a valorização do trabalho da população negra e sua ascensão social.
No Brasil o potencial de atuação de afroempreendedores é elevado por conta da grande população de pessoas negras no país. Segundo dados do mais recente censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do Brasil subiu para 212,7 milhões em 2021, alta de 7,6% em comparação com 2012. Nesse período, o percentual de pessoas que se autodeclaram brancas caiu de 46,3% para 43%. De pretas, subiu de 7,4% para 9,1%. Pardas, de 45,6% para 47%. Os negros representam mais de 56% da população brasileira, o que dá uma dimensão da potência do afroempreendedorismo no Brasil.
O professor membro da Comissão Permanente e Disciplinar da (CPD) Unit, José Walter Filho, explica que esse movimento é importante porque promove a criação de negócios e empregos para pessoas negras, ajudando a reduzir a desigualdade econômica e social. “O afroempreendedorismo também contribui para a diversificação da economia e pode inspirar outras pessoas negras a iniciar seus próprios negócios. Além disso, esse movimento pode ajudar a preservar e celebrar a cultura afro-brasileira”, destaca.
Ao ser questionado do porquê as pessoas negras precisam desse apoio, o professor ressalta as dificuldades socioculturais que esse grupo enfrenta. “As pessoas negras precisam ser apoiadas em suas iniciativas afroempreendedoras porque têm vários desafios para ingressar no mercado de trabalho. Um deles é a discriminação racial, que pode se manifestar de diversas formas, incluindo a recusa em contratar ou promover pessoas negras, ou oferecer salários mais baixos para elas”, explica.
Outro desafio a se enfrentar é a desigualdade educacional, já que muitas pessoas negras têm menos acesso à educação de qualidade. “Essa problemática na educação implica na qualificação, por isso, são menos procuradas para ocupar cargos de maior remuneração e prestígio. A falta de políticas públicas eficazes para combater a discriminação racial e promover a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho também contribui para essa dificuldade”, aponta.
De acordo com José Walter, é por meio do Afroempreendedorismo que esse grupo pode superar esses desafios. “O empreendedor passa a ser um gerador de empregos, ele cria o seu próprio trabalho aproveitando oportunidades que o mercado não permitiria por conta da sua origem”, ressalta.
Além disso, o afroempreendedor pode dar sentido a outras motivações:
– Criatividade e inovação: muitos afroempreendedores tem ideias inovadoras e estão desejosos de colocá-las em prática.
– Autonomia e independência: o afroempreendedorismo permite que os negros tomem decisões e controlem seu próprio destino, em vez de depender de um empregador.
– Realização pessoal e profissional: muitos negros veem no afroempreendedorismo uma chance de alcançar seus objetivos e metas pessoais e profissionais.
Como e por que apoiar negócios de pessoas negras?
“Uma das soluções de apoio negócios de pessoas negras, por exemplo, é o Marketplace Black Money que permite a conexão entre empreendedores e consumidores Negros. Através da plataforma a pessoa negra e que tem um negócio pode se cadastrar e vender, seja fornecendo serviços ou produtos, para os membros do Movimento Black Money. E do outro lado, uma pessoa negra ou aliada pode se cadastrar na plataforma e apoiar os empreendedores negros que oferecem seus produtos ou serviços no ambiente. Um Hub de inovação para inserção e autonomia da comunidade negra na era digital”, explica.
“Outra iniciativa de apoio é a Diáspora.Black, Uma rede de anfitriões e viajantes interessados em vivenciar e valorizar a cultura negra. Para quem quer se conectar com a memória afro, fortalecer identidades e fomentar engajamento”, destaca.
Mais algumas iniciativas:
InfoPreta: empresa de tecnologia formada por afroempreendedores que oferecem assistência técnica, consultoria tecnológica e coleta de lixo eletrônico para que o descarte seja feito ecologicamente.
Painel BAP: primeiro painel de consumidores afro-brasileiro. É uma plataforma onde as pessoas participam de pesquisas de mercado online e são recompensadas com dinheiro, produtos e serviços fornecidos por afroempreededores.
PretaHub: Hub de criatividade, inventividade e tendências pretas. É o resultado de dezoito anos de atividades do Instituto Feira Preta no trabalho de mapeamento, capacitação técnica e criativa, aceleradora e incubadora do empreendedorismo negro no Brasil.
Conta Black: comunidade financeira que se propõe a ampliar o acesso a serviços financeiros a todas as pessoas sem burocracia e educação financeira, por meio de ferramentas simples, para que o crédito não se torne um inimigo.
Alfabantu: aplicativo voltado para o público infantil e que tem como proposta ajudar no processo de alfabetização das crianças através de jogos digitais além de enfatizar uma das contribuições africanas no falar brasileiro.
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