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Corpus Christi: tradição e fé movem produção de tapetes em São Cristóvão

Tradicionalmente, o Corpus Christi é uma festa devotada ao Corpo de Deus, ou Corpo de Cristo.

às 15h04
Foto: Heitor Xavier/Prefeitura de São Cristóvão
Foto: Heitor Xavier/Prefeitura de São Cristóvão
Foto: Heitor Xavier/Prefeitura de São Cristóvão
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O Corpus Christi é uma celebração cristã que está ligada à Páscoa. A data é celebrada 60 dias após a Páscoa e logo depois do Domingo de Pentecostes e da Festa da Santíssima Trindade. O catolicismo narra o nascimento da festa do Corpus Christi como procedente de Liége (Bélgica), no século XIII. Nesse local, Juliana de Cornion, em epifania, assegurou ter visto Cristo dando-lhe evidências de que seu desejo era que a Eucaristia, o sacramento, fosse confirmada em destaque nas celebrações. 

O professor e historiador da Universidade Tiradentes (Unit), Rony Silva, explica que tradicionalmente o Corpus Christi é uma festa devotada ao Corpo de Deus, ou Corpo de Cristo. 

“É uma data adotada pela Igreja Católica para comemorar a presença real de Deus no sacramento da Eucaristia. Corpus Christi, no Brasil, é considerada um feriado nacional. A alteração, ou variação de sua data em cada ano é calculada como sendo a primeira quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, ou mesmo sessenta dias depois do domingo de Páscoa. Sua comemoração acontece numa quinta-feira, em referência à Quinta-Feira Santa que, nas narrativas bíblicas, faz referência à última ceia dos seguidores de Cristo, os apóstolos, com Jesus, conhecida como Eucaristia. Na ceia, Cristo dá simbolicamente sua vida aos seus seguidores e assinala para que comam o pão e bebam o vinho que seriam seu corpo e sangue transformado em alimento e fé”, destaca. 

Dessa forma, a tradição percorreu os séculos chegando mais tarde a Portugal e em demais terras lusitanas como em Algarve e nos Açores, tendo desaguado, futuramente, no Brasil. A tradição da festa teve início em Ouro Preto, Minas Gerais. 

Tapetes de Corpus Christi

Rony explica que a confecção dos tapetes, mesmo não sendo inicialmente parte do rito, ou seja, instrumento indissociável da liturgia tradicional do Corpus Christi se efetivou como tradicional, como “ornamentação essencial” para a celebração da data. “Assim ele foi compreendido por muitos dos participantes como um motivo e um fim dessa festa. Desta maneira, e como parte da festa, os tapetes valendo-se de cores, formas, cheiros e texturas, podem nos sensibilizar a enxergar a cidade de São Cristóvão como local onde novas relações sociais potencialmente educativas podem emergir”, conta. 

No processo de feitura dos tapetes, são desenvolvidas gestualidades na execução do desenho das diferentes simbologias e os efeitos estéticos resultantes da combinação de cores, materiais e formas. “O trabalho se inicia às 5 horas, e os tapetes precisam estar prontos até às 14 horas, portanto, um pouco antes da missa. Esses tapetes são confeccionados em um clima de fraternidade e partilha. Há uma mobilização expressiva de voluntários, sobretudo, religiosos”, destaca. 

Para realizar a confecção dos tapetes são usados diversos materiais. Em outras partes do Brasil são utilizadas tampinhas de garrafas pintadas; cones de cartolina colorida; panos pintados à mão; papéis laminados dourados e prateados colados sobre peixes impressos em papel; algodão presente no corpo de ovelhas pintadas em tecido; flores inteiras; pétalas avulsas e folhas de vários tipos de plantas; sal; farinha; café; grãos variados e pequenas pedras coloridas. No caso de São Cristóvão, o historiador destaque que o diálogo com a cultura local, os tapetes são confeccionados com derivados de madeira inutilizável, como maravalha e pó de serra, além do sal grosso, pó de café, cascos de sururu e massunim, anilinas e pó xadrez. 

“O tapete ilustra a liturgia em seu principal contexto – morte/renascimento – portanto, possivelmente, aponta limites acenados pelo barroco. Neste, corpo e alma, matéria e espírito, efêmero e indelével, aproximam-se e se complementam. Todos os tapetes serão ilustrados com vários símbolos que representam temas importantes e urgentes na sociedade, como sustentabilidade, energias renováveis, educação, meio ambiente, redução das desigualdades, além do símbolo da Unesco e dos desenhos, que vão ocorrendo de acordo com a criatividade dos colaboradores. São alguns dos exemplos de renovação no uso de materiais e de como a tradição vem se dinamizando através das novas gerações”, frisa.

Em São Cristóvão, além da procissão e da missa, a Fundação Municipal de Cultura e Turismo João Bebe Água (Fumctur) realizou a celebração cristã em conjunto com a equipe organizadora do evento, igreja e voluntários. O trabalho em equipe se deu para manter viva a tradição secular da confecção dos tapetes que cobrem nove ruas do Centro Histórico para dar passagem ao Santíssimo, que é reverenciado pelos fiéis em procissão. 

Foram confeccionados 1200 metros de tapetes, com derivados de madeira inutilizável, como maravalha e pó de serra, além do sal grosso, pó de café, cascos de sururu e massunim, anilinas e pó xadrez. Todos os tapetes foram ilustrados com vários símbolos que representam temas importantes e urgentes na sociedade, como sustentabilidade, energias renováveis, educação, meio ambiente, redução das desigualdades, além do símbolo da Unesco e dos desenhos, que vão ocorrendo de acordo com a criatividade dos colaboradores.

“As comunidades preparam as ruas para testemunhar o Cristo entre nós. É um grande ato de fé e eucarístico. Além de se tratar de uma expressão cultural que compõe a devoção do povo sergipano que junto com a Fumctur insere a festividade no circuito do turismo religioso da cidade de São Cristóvão”, conclui.

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