Um espaço que envolve a formação técnico-profissional dos alunos com a discussão de soluções e o atendimento de demandas reais da população de baixa renda, em uma área que muitas pessoas desconhecem. Assim é o Núcleo de Projetos, Pesquisa e Extensão em Arquitetura e Urbanismo (Nuppe), ligado ao curso de Arquitetura e Urbanismo, que firmou-se em 2023 como um dos mais atuantes entre os projetos de extensão da Universidade Tiradentes (Unit), e que presta assistência técnica na área a indivíduos e comunidades em situação de vulnerabilidade social.
Através de um trabalho conjunto com o Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ), ele realiza principalmente serviços relacionados à usucapião, procedimento legal que dá o direito de posse sobre um bem imóvel. A partir das demandas encaminhadas, a equipe de alunos, que participam do Nuppe, sob a supervisão de professores, realiza visitas de campo aos endereços indicados, para elaboração de projetos para fins de usucapião. Nessas ações, os alunos desenvolvem planta baixa, planta de situação e localização, e memorial descritivo, entre outros serviços relacionados. Após a construção destes projetos, com todas as taxas exigidas, o material é devolvido ao NPJ, que segue com o processo de usucapião.
De acordo com a coordenadora do Nuppe, professora Rayane de Oliveira Alves, foram cerca de 55 famílias atendidas pelos alunos e professores do núcleo entre os anos de 2022 e 2023, incluindo 28 atendimentos entre janeiro e novembro deste ano. O total inclui pessoas que deram entrada em seus pedidos de usucapião ainda em 2019, antes da pandemia de Covid-19. Os locais visitados se situam em bairros de Aracaju como Japãozinho, Palestina, Santos Dumont, Coqueiral, 18 do Forte, Atalaia, Zona de Expansão e Coroa do Meio, além das cidades de São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro. “Todos os projetos têm um significado importante para a nossa equipe, pois sabemos que estamos realizando sonhos dessas pessoas”, diz a professora.
Além dos processos de usucapião e das atividades, o Nuppe também desenvolve outras ações relacionadas ao ensino e à pesquisa em Arquitetura e Urbanismo: a digitalização dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) que eram entregues em CD/DVD, a elaboração da Revista Épura, que traz todos os melhores projetos das disciplinas de projeto do semestre anterior; e a publicação de conteúdos para engajamento e visibilidade em mídias sociais, como a página do Nuppe no Instagram. O núcleo ainda presta apoio na organização e realização de eventos ligados ao curso, como o 1º CAUD (Congresso de Arquitetura, Urbanismo e Design de Interiores) e a Feivest (Feira do Vestibular).
“O aluno que vivencia o Nuppe tem a oportunidade de conhecer diversas formas de atuar no mercado de trabalho. No núcleo, eles desenvolvem não somente projetos de escritório, mas também projetos para as camadas sociais mais baixas, têm a oportunidade de desenvolver o senso criativo através da elaboração de mídias e da revista, de fazer uma boa rede de contatos e aprendem, sobretudo, a trabalhar em equipe, com cooperação, paciência e persistência”, define Rayane.
Preparo e aprendizado
Esse aprendizado diário é vivenciado diariamente por estudantes como Laila de Almeida, que faz o sexto período de Arquitetura e Urbanismo. “Eu só ouvia coisas boas sobre o núcleo e imaginei que teria uma alta concorrência, mas pra minha sorte, consegui entrar e foi uma das melhores experiências da minha vida. Depois que eu entrei no núcleo eu comecei a ter uma visão totalmente diferente do curso. Antes, eu pensava que a arquitetura só fazia projeto, ela só fazia casa, não tinha essa visão tão ampla. Hoje eu faço parte do usucapião no Nuppe e a gente tem a vivência de ir na casa das pessoas, fazer o levantamento cadastral e era uma área que eu tinha zero conhecimento antes de entrar aqui”, afirma.
Outra participante é a aluna Késia Silva Alves, que está no quarto período e também integra a equipe que executa os levantamentos cadastrais. “Além de conhecer outras pessoas do curso e ajudar pessoas de vulnerabilidade social, que foi um dos pontos que mais me chamou atenção, aprendi que a arquitetura é necessária em diferentes meios, não apenas na estética, mas em otimização de espaços, ventilação, etc. É necessária e fundamental para as pessoas que têm vulnerabilidade social, que ainda há um preconceito que acham que arquiteto só é preciso para pessoas de classe alta”, completa.
O preparo também acaba chamando a atenção do mercado. Muitos dos participantes do Nuppe acabam sendo encaminhados para estágios em grandes empresas do ramo de construção e arquitetura. “Muitos alunos que passaram por lá hoje são arquitetos de renome no mercado. Muitos arquitetos me procuram para indicação de alunos para vagas de estágio. Os alunos que compõem o núcleo são muito bem preparados e possuem mais engajamento dentro do curso por estarem envolvidos nos ‘bastidores’ das organizações dos eventos, por exemplo”, conclui Rayane.
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