Comer sem pressa, mastigando devagar e apreciando cada sabor e textura. Essa é a essência do Mindful Eating, ou comer com atenção plena, uma prática que vem ganhando cada vez mais adeptos como forma de combater a compulsão alimentar e cultivar uma relação mais saudável com a comida.
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), cerca de 5% da população brasileira sofre de compulsão alimentar, um transtorno que se caracteriza por episódios frequentes de consumo excessivo de alimentos, geralmente acompanhados por sentimentos de culpa e vergonha. A gastróloga e professora de Gastronomia da Universidade Tiradentes (Unit), Romy Barros, explica como o Mindful Eating pode ser aplicado na prática.
“Ao dedicar um maior foco no momento presente, seus praticantes desenvolvem uma maior habilidade de interromper a tendência automática a reagir aos pensamentos e ruminações, pois estão mais conscientes de seus padrões alimentares, das razões por trás das suas escolhas e dos sinais de saciedade do corpo. Isso pode levar a uma seleção mais cuidadosa de alimentos e a uma menor ingestão de alimentos pouco saudáveis”, orienta a gastróloga.
Diferenciais
Em um mundo onde dietas restritivas e abordagens tradicionais muitas vezes fracassam, o Mindful Eating se destaca. A diferença fundamental reside na atenção plena ao ato de comer. Não se trata apenas do que se coloca no prato, mas de como se relacionar com a comida. A prática do Mindful Eating promove a consciência total, desde as sensações físicas até as emoções associadas à alimentação, oferecendo uma abordagem mais holística e sustentável.
“Essa consciência se relaciona com as sensações físicas, como sabores, texturas, cheiros dos alimentos, assim como as emoções e pensamentos que surgem durante a refeição. Um outro aspecto fundamental da prática do Mindful Eating é praticar a aceitação e o não julgamento em relação aos próprios hábitos alimentares e corpo. Isso significa cultivar uma atitude de compaixão e gentileza consigo mesmo, em vez de se criticar por escolhas alimentares ou padrões de comportamento”, elenca.
O Mindful Eating além de proporcionar uma maior consciência no ato de comer também propicia que seus praticantes reconheçam os sinais naturais de fome e saciedade. Isso envolve comer quando se está realmente com fome e parar quando se está satisfeito em vez de seguir padrões de alimentação baseados em horários fixos ou porções predefinidas.
“A prática proporciona que os indivíduos reconheçam a ligação entre emoções e alimentação, o que possibilita a compreensão dos sentimentos que podem influenciar seus hábitos alimentares. Isso pode ajudar a distinguir entre fome física e fome emocional, promovendo escolhas alimentares mais conscientes e saudáveis”, infere.
Escolhas conscientes
A prática do Mindful Eating promove uma apreciação mais profunda dos alimentos e de seus benefícios para a saúde. Isso consequentemente reflete na escolha de alimentos mais nutritivos e ricos em vitaminas, minerais e antioxidantes, em vez de alimentos altamente processados ou pouco saudáveis. “Ademais, o Mindful Eating promove uma maior consciência dos efeitos dos alimentos no corpo, tanto a curto quanto a longo prazo. Isso pode motivar as pessoas a escolherem alimentos que promovam a saúde e o bem-estar geral, em vez de alimentos que possam causar desconforto digestivo ou outros efeitos negativos”, destaca Romy.
Romy ainda ressalta que integrar o Mindful Eating no contexto da culinária e da gastronomia envolve trazer consciência plena para todas as etapas do processo alimentar, desde a escolha dos ingredientes até a preparação e apreciação dos alimentos. “Dessa maneira, os alimentos devem ser selecionados e preparados de forma cuidadosa, buscando o enfoque nos produtos frescos, locais e sazonais e nas técnicas culinárias que destaquem suas cores, texturas e aromas. Assim, a técnica possibilita não apenas a criação de uma experiência alimentar mais significativa e gratificante, conectando-se mais profundamente com os alimentos, como também garante um processo de preparação e de apreciação dos sabores e texturas de maneira mais consciente”, explica.
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