Um dos principais desafios de quem emigra para o exterior, ou de quem vem para o Brasil, está em aprender o idioma local, o que se torna ainda mais intenso nas escolas, tanto para professores quanto para alunos estrangeiros. Ele é abordado em uma tese que está sendo desenvolvida pela pesquisadora Manoela Barbosa Pinto, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPED) da Universidade Tiradentes (Unit). A pesquisa foi uma das aprovadas no recente edital do Programa de Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE), promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), e terá uma parte de seus trabalhos desenvolvida na University of Massachusetts (UMass Boston), em Boston (Estados Unidos).
Trata-se de um estudo comparado sobre o uso e os efeitos da translinguagem como abordagem pedagógica no ensino de língua inglesa e portuguesa para estudantes em situação de imigração nos estados de Sergipe, no Brasil, e Massachusetts, nos EUA. A translinguagem é uma abordagem de ensino onde duas ou mais línguas podem ser usadas simultaneamente em sala de aula. Ou seja: um mesmo assunto pode ser explicado, escrito e compreendido em português e em inglês na mesma aula.
De acordo com Manoela, trata-se de uma continuidade da pesquisa realizada para a dissertação de mestrado, igualmente realizada no PPED e com o mesmo estudo comparado, sobre essa modalidade de ensino, mas sob a perspectiva e a visão dos professores. “Dessa vez, eu procurei trazer o foco para os alunos, especialmente aqueles que estão em situação de imigração, em localidades onde sua língua materna não é falada pela grande parte da sociedade local. Com isso, eu irei testar a translinguagem como uma abordagem de ensino de línguas, que terá como propósito ensinar uma segunda língua e uma nova cultura, ao passo em que mantêm a língua materna e a cultura inicial desses indivíduos”, afirmou ela.
Manoela destaca ainda que o objetivo principal desta pesquisa é analisar os efeitos da utilização da translinguagem como abordagem pedagógica com alunos imigrantes, compreendendo como ela pode influenciar na constituição do repertório linguístico de aprendizes imigrantes e na relação que eles possuem com suas línguas. Diz também que a pesquisa não focará apenas nos aspectos culturais, linguísticos, sociais e políticos de cada região, mas também nas relações emocionais que os imigrantes possuem com as línguas presentes em seus repertórios linguísticos.
Outro ponto do estudo é entender como a translinguagem poderia afetar ou não essas conexões afetivas dos alunos imigrantes, tornando menos traumática a inserção e a integração destas pessoas às sociedades locais. “A importância social desta pesquisa está na necessidade de nós lançarmos um olhar mais atento para essas minorias linguísticas que estão cada vez mais presentes em nossa sociedade e procurar soluções para manter suas culturas, suas histórias e suas línguas vivas”, acrescenta Manoela.
Em Boston
Por seis meses, entre junho e dezembro deste ano, a doutoranda da Unit ficará em Boston, principal cidade do estado de Massachusetts, que possui uma grande presença de famílias de imigrantes do Brasil, de Portugal e de países lusófonos como Cabo Verde e Angola. O objetivo será entrevistar brasileiros que estudam em escolas bilíngues, muito presentes no sistema educacional do estado, graças a uma lei que dá aos pais o direito de exigir para os filhos a ministração de aulas na língua de origem. “Nós escolhemos Massachusetts para compor esse estudo porque ele é um dos pioneiros da Educação Bilíngue nos Estados Unidos, possui legislação e documentos norteadores que podem servir como parâmetro para o desenvolvimento dessa modalidade de ensino aqui em Sergipe”, explica.
A instituição escolhida foi a UMass Boston, uma das primeiras parceiras internacionais da Unit, com quem mantêm relações desde 2015. Fundada em 1964, ela é uma das cinco componentes da University of Massachusetts, um sistema público estadual de ensino superior existente desde 1863. Na tese, Manoela está sendo orientada pela professora-doutora Simone Amorim, do PPED/Unit, que já se dedica a outras pesquisas e atividades relacionadas ao ensino bilíngue e à educação de imigrantes no estado americano. A co-orientadora será a professora Panayota Gounari, da UMass Boston. A previsão é de que a tese seja defendida em 2026.
Como estava planejado
O doutorado-sanduíche já era algo planejado desde o início por Manoela e por Simone, por conta da natureza da pesquisa, isto é, da necessidade de acompanhar in loco, nos Estados Unidos, a forma como o ensino bilíngue vem sendo aplicado. A princípio, elas participaram da seleção de bolsas para o sanduíche prevista para este ano, mas a Capes lançou um edital do PSDE em novembro do ano passado, o que acelerou os planos. A decisão foi bem-sucedida, pois o projeto foi o primeiro na seleção interna do PPED e em seguida aprovado na seleção nacional.
A expectativa da pesquisadora é que o período de estudos em Boston e o contato com a cultura americana amplie sua visão de mundo e a perspectiva da pesquisa, além de contribuir para a divulgação da ciência e da educação brasileira, por meio de publicações em revistas internacionais e participação em eventos e congressos. “Essa etapa é muito importante pois representa meu crescimento como pesquisadora e como profissional da Educação. Com isso, eu pretendo contribuir com minha pesquisa para a melhora da educação brasileira, o desenvolvimento de pesquisa na área de ensino de línguas, o que, consequentemente, irá me engrandecer como docente”.
Manoela Barbosa fez toda a sua carreira acadêmica na Unit. Além de mestre em Educação pelo PPED, ela fez a sua graduação no então curso de Licenciatura em Letras – Inglês, pelo qual se formou em 2018. De lá para cá, ela participou de muitas outras atividades de monitoria acadêmica, iniciação científica e oficinas, chegando a ser palestrante do MIT Global Startup Labs, realizado na Unit em 2020, em parceria com o Massachusetts Institute of Technology (MIT). “Eu sou cria da Universidade Tiradentes. Ela foi responsável por todo o meu desenvolvimento e crescimento como pesquisadora e docente”, resumiu.
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