Estima-se que 10% a 15% da população brasileira sofra com a Síndrome do Intestino Irritável (SII), uma doença crônica que afeta o funcionamento do intestino e causa diversos sintomas gastrointestinais, como dor abdominal, gases, diarreia e constipação. Apesar de não ter cura, a SII pode ser controlada com tratamento adequado, melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
O médico gastroenterologista e professor da Universidade Tiradentes (Unit), Marcel Lima Andrade, conta que ao contrário de outras doenças que inflamam o intestino como infecções, doença celíaca ou doença de Crohn, a SII acontece por conta de uma alteração na sensibilidade e forma com que o intestino contrai em resposta a determinados estímulos.
“O principal sintoma é a dor abdominal, que pode ter intensidade variável, chegando a ser até incapacitante. Além disso, é comum que o paciente tenha uma alteração do seu hábito intestinal, podendo ter diarreia, intestino preso ou até mesmo variar entre esses dois hábitos. Outros sintomas como enjoos, inchaço e gases também podem estar presentes”, explica.
Diferentes fatores podem desencadear essa sensibilidade alterada do intestino, sendo elas: Intolerâncias alimentares, estresse, alterações hormonais como vistas na tensão pré-menstrual e menopausa, infecções e alterações na microbiota intestinal são alguns exemplos de gatilhos para as crises. “O tipo de SII depende justamente do hábito intestinal, se é um padrão de diarreia, constipação ou misto. O diagnóstico é feito através da história clínica do paciente e o tratamento vai depender justamente desse padrão, buscando aliviar a dor e regularizar o hábito intestinal”, orienta Marcel.
Diagnóstico e tratamento
Segundo Marcel, o diagnóstico da SII é essencialmente clínico, baseado na história do paciente e nos sintomas relatados, além de alguns exames. “Os exames de sangue e imagem solicitados são, em sua maioria, normais e servem para afastar outras doenças que podem ter sintomas semelhantes. É investigada a presença de anemia, doenças autoimunes, desnutrição, infecções, endometriose e tumores, por exemplo. Em alguns casos pode ser solicitado também exames endoscópicos como a colonoscopia”, pontua.
Como a doença é multifatorial, a abordagem também deve ser. O gastroenterologista aponta alguns deles. “Existe o tratamento medicamentoso para aliviar a dor e regularizar o hábito intestinal, mas também existem dietas específicas que melhoram os sintomas, modulação da microbiota intestinal, bem como a prática de atividade física e controle do estresse também são fundamentais. Práticas alternativas como hipnose, acupuntura também auxiliam no tratamento”, elenca Marcel.
O tratamento da SII é individualizado e visa aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente. As medidas terapêuticas podem incluir:
Mudanças na dieta: Eliminar alimentos que desencadeiam os sintomas e seguir uma dieta rica em fibras solúveis pode ajudar a controlar a diarreia e a constipação;
Medicamentos: Antidiarreicos, antiespasmódicos, antidepressivos em doses baixas e probióticos podem ser prescritos para aliviar os sintomas específicos da SII;
Terapia: A terapia cognitivo-comportamental pode ajudar a controlar o estresse e a ansiedade, que podem piorar os sintomas da SII;
Probióticos e prebióticos: O uso de probióticos e prebióticos pode ajudar a melhorar a microbiota intestinal e reduzir os sintomas da SII.
“Alguns alimentos geram mais sintomas nos pacientes com SII, como alimentos muito fermentativos e, por isso, costumam piorar os sintomas. O conjunto desses alimentos é conhecido pela sigla em inglês FODMAP, que significa oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis. A restrição desses alimentos por algumas semanas com a reintrodução gradual é uma estratégia para o tratamento”, complementa Marcel.
Apesar de ser uma doença que não oferece risco à vida do paciente, a SII causa um grande impacto na qualidade de vida, acarretando problemas pessoais, familiares e até no trabalho ou estudo. “O paciente pode desenvolver sintomas ansiosos ou depressivos além de não ter uma boa relação com a comida. Sendo assim, às vezes é necessário o auxílio de outros profissionais como psicólogos ou psiquiatras para auxiliar o paciente. E mais uma vez, a prática de atividade física tem um papel importante também nessa questão, como uma medida para ajudar no controle do estresse” orienta o gastroenterologista.
Alguns sinais de alerta que os pacientes com SII devem estar cientes incluem:
- Perda de peso sem causa aparente;
- Sangramento retal;
- Febre;
- Vômitos persistentes;
- Dor abdominal intensa e persistente;
- Anemia.
“Com o tratamento adequado e a implementação de mudanças no estilo de vida, é possível controlar a SII e viver com qualidade de vida. É importante que os pacientes se mantenham informados sobre a doença, busquem apoio profissional e participem de grupos de apoio para compartilhar experiências e obter mais informações”, pontua.
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