Com o intuito de fomentar uma educação mais engajada e alinhada às demandas da sociedade, o Programa Laboratório Social da Universidade Tiradentes (Unit) visa estreitar o vínculo dos estudantes de Direito com a carreira jurídica e os desafios enfrentados por comunidades historicamente marginalizadas. Além disso, o programa possui desdobramentos significativos em parcerias com universidades estrangeiras, como a Universidade de Valladolid (UVa) e a Universidade de Deusto, ambas na Espanha.
Recentemente, uma visita técnica foi realizada à comunidade quilombola Lagoa dos Campinhos e ao povoado Xocó, como parte das atividades planejadas pelo Programa Laboratório Social. Esta visita não apenas representa um passo importante para o desenvolvimento de projetos futuros, mas também fortalece os laços entre as instituições envolvidas e os estudantes locais e internacionais.
“A visita foi realizada para estabelecer o primeiro contato e compreender as questões relacionadas à demarcação da terra que enfrentam atualmente, sendo também uma continuação do trabalho de campo, incluindo entrevistas com alunos da Universidade de Valladolid, além do primeiro contato dos bolsistas do projeto com as lideranças comunitárias”, explica o orientador do Programa Laboratório Social, professor Fran Espinoza.
Segurança alimentar e desenvolvimento sustentável
No povoado Xocó, a pesquisa se concentra na temática da segurança alimentar. A partir de entrevistas com os moradores, os alunos buscaram compreender os desafios enfrentados pela comunidade e propor soluções que promovam o acesso a uma alimentação nutritiva e de qualidade.
“O projeto de segurança alimentar na Comunidade Xocó surgiu após a divulgação de que mais de 30 milhões de brasileiros estavam passando fome, em 2022. No entanto, durante o trabalho de campo, as hipóteses foram refutadas, pois, devido às redes de solidariedade presentes na comunidade, eles não faziam parte dessa estatística, mas enfrentavam outros problemas relacionados à má alimentação, como obesidade e hipertensão”, elenca o professor.
Fran também destaca que outro fator importante é a necessidade de sensibilizar a sociedade sobre a existência e importância dos povos e comunidades tradicionais no estado de Sergipe. “Inicialmente, a falta de conhecimento da sociedade sobre a existência de povos e comunidades tradicionais no estado de Sergipe é um ponto de partida crucial. Aos poucos, os alunos estão descobrindo a presença desses povos e comunidades, compreendendo conceitos e definições, realizando entrevistas e análises, culminando na redação das pesquisas”, completa Fran.
Aprendizado mútuo
A participação de estudantes internacionais no programa proporciona um enriquecimento cultural e um aprendizado mútuo. Os alunos da Unit e da UVa puderam compartilhar experiências e conhecimentos, ampliando suas perspectivas e desenvolvendo uma visão mais global dos desafios sociais. A estudante do 9º período de Direito da Unit e participante do Programa Laboratório Social, Ana Luiza Dantas Souza, compartilhou sua experiência durante a visita.
“Foi uma experiência incrível e enriquecedora. Amei cada momento, mergulhando na rica cultura e história desse local. Aprendi muito sobre as tradições, costumes e modos de vida dessas comunidades tão vibrantes. A hospitalidade e calor humano que recebi foram verdadeiramente inspiradores. Foi uma oportunidade única de compreender as questões sociais e culturais enfrentadas por essas comunidades, e isso ampliou minha perspectiva. A visita reforçou minha admiração e respeito pela diversidade cultural do nosso país”, destaca.
O papel dos estudantes na implementação de projetos sociais em comunidades como essa, segundo Ana Luiza, é de extrema importância. Eles trazem energia, criatividade e uma perspectiva para resolver desafios locais. Além disso, o envolvimento dos estudantes aumenta a visibilidade dessas comunidades, muitas vezes esquecidas pela sociedade, ajudando a promover mudanças positivas e a construir um futuro mais inclusivo e justo.
“Tenho grandes expectativas em relação aos resultados e impactos dos projetos que serão desenvolvidos na comunidade. Em particular, a pesquisa sobre segurança alimentar na comunidade Xocó promete ser engrandecedora. Espero que os insights obtidos possam informar políticas e práticas que melhorem significativamente a qualidade de vida dos moradores e promovam a segurança alimentar de forma abrangente, tema este que é nosso objeto de pesquisa”, destaca a estudante.
Interculturalidade entre as instituições
A interação entre estudantes internacionais e locais é fundamental para enriquecer as perspectivas e abordagens na realização dos projetos. O estudante de Direito da Universidad de Valladolid, Jaime Gómez Martín, que está envolvido no Programa Laboratório Social, conta que essa troca tem contribuído para impulsionar suas perspectivas e abordagens na realização do projeto.
“Por um lado, os estudantes brasileiros conheciam melhor do que nós o contexto das comunidades indígenas no Brasil. Por outro lado, ajudaram-nos muito com as diferenças linguísticas ao entrevistar membros da comunidade. Gostaria de mencionar especialmente o doutorando Bruno Lis, que conhecia bem a história da comunidade, seu estatuto jurídico e o problema da demarcação de terras. Ele também falava muito bem espanhol e era um ótimo intérprete”, declara Jaime.
Jaime ainda aborda sua visão sobre o programa e destaca as diferenças de realidades existentes na Espanha e no Brasil. “Os desafios enfrentados no Brasil e os esforços para cumprir os objetivos da Agenda 2030 têm enriquecido minha visão de mundo, e espero contribuir com novas ideias. Considero isso como o aspecto mais importante do projeto Laboratório Social, que possibilita a criação de soluções inovadoras por meio do trabalho conjunto de diferentes universidades. A experiência tem sido extremamente positiva, permitindo-me aprender com a luta histórica e a vida atual das comunidades. Foi um privilégio acompanhar o professor Fran, que compartilhou detalhes sobre a religião, cultura e alimentação da comunidade com muito respeito”, revela o estudante.
À medida que as pesquisas continuam e novos projetos são desenvolvidos, espera-se que os resultados gerem impactos significativos não apenas nas comunidades envolvidas, mas também na academia e na sociedade em geral. “A primeira atividade realizada foi a publicação de pesquisas baseadas na oralidade da comunidade. Os livros serão utilizados como material educativo nas escolas locais. Quanto às demais atividades, estamos aguardando os resultados das pesquisas que estão em andamento”, finaliza Fran Espinoza.
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