Mais do que um simples artefato pirotécnico, o Barco de Fogo, declarado patrimônio cultural imemorial de Sergipe pela Lei 7.690 de 2003, é um dos maiores símbolos culturais de Estância (SE). Sua origem remonta a história de Francisco da Silva Cardoso, conhecido como Chico Surdo. Um morador de Estância que sonhava em ser marinheiro. Por ser surdo, ele não pôde realizar esse desejo, mas encontrou uma maneira criativa de expressar sua paixão pelo mar e pelas festas juninas: criou um barco que “voa” com o auxílio de fogos de artifício.
Este barco, feito de madeira e decorado com esmero, percorre um cabo de aço, soltando fogos ao longo do trajeto e encantando a todos que assistem ao espetáculo. Para eternizar ainda mais essa tradição, a lei nº 7.301/2011 de autoria do então Deputado estanciano Gilson Andrade, PTC, foi instituída na data 11 de junho no calendário oficial do estado de Sergipe como uma forma de homenagear o seu criador.
O professor de História e diretor de Turismo de Estância, Wesley Nascimento, explica que o Barco de Fogo desempenha um papel crucial na transmissão cultural e no fortalecimento da identidade local. “A realização anual do Barco de Fogo permite a transmissão e preservação de conhecimentos, habilidades e práticas associadas à construção e condução do barco, bem como à preparação e execução dos fogos de artifício. Isso ajuda a manter viva a memória coletiva e a identidade cultural da comunidade”, explica.
Além de fortalecer a identidade local, o Barco de Fogo é uma importante atração turística. A tradição atrai visitantes de diversas regiões, impulsionando a economia local ao gerar receita para hotéis, restaurantes e lojas. “A produção do Barco de Fogo estimula a produção e o comércio de materiais e produtos relacionados, além de proporcionar empregos temporários e oportunidades de renda para os moradores da região”, explica Nascimento.
Envolvimento da comunidade
A preparação e celebração do Barco de Fogo envolvem a participação ativa e colaborativa da comunidade local em várias etapas:
- Construção do Barco: A comunidade se reúne para a construção da estrutura do Barco de Fogo, geralmente feita de madeira, e sua decoração. Este processo envolve carpinteiros, artistas plásticos, artesãos e voluntários que contribuem com seus conhecimentos e habilidades.
- Preparação dos Fogos: A preparação dos fogos de artifício que serão utilizados no Barco de Fogo também mobiliza membros da comunidade, que podem ser especialistas na produção e manuseio seguro desses artefatos.
- Envolvimento Religioso: A celebração do Barco de Fogo está inserida em um contexto religioso, portanto, membros da comunidade ligados à igreja local participam ativamente dos rituais e das atividades relacionadas às festividades dos Santos Juninos.
- Participação nas Festividades: Durante a festa, a comunidade se une para acompanhar o desfile do Barco de Fogo pelas ruas da cidade, participando ativamente do evento como espectadores e apoiadores.
Contribuição da Unit na preservação da tradição
A Universidade Tiradentes (Unit), comprometida com o desenvolvimento social e cultural da região, assume um papel fundamental na preservação do Barco de Fogo. A diretora do campus da Unit em Estância, Adriana Rocha, explica que a instituição realiza anualmente a Gincana Junina Universitária, com o objetivo de fortalecer e exaltar a cultura local. “Na entrada do campus, temos uma réplica do Barco de Fogo, e durante a gincana, incluímos tarefas que destacam a importância dessa tradição. Os alunos participam ativamente e se envolvem profundamente, pesquisando e aprendendo sobre essa parte vital da nossa herança cultural”, afirma Rocha.
Além disso, a Unit apoia o grupo cultural Marujos do Chico Surdo, que organiza um cortejo cultural no Dia do Barco de Fogo. “Este é o terceiro ano que nós nos colocamos como parceiros de agentes culturais da cidade e colaboramos com patrocínio para ajudar nesse evento. A história de Chico Surdo e a criação do Barco de Fogo são ensinadas e celebradas, garantindo que essa tradição continue viva e seja passada de geração em geração”, acrescenta Adriana.
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