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A renda da Irlanda que foi adotada como patrimônio sergipano

Técnica de bordado trazida por freiras irlandesas no Século 17 foi aprimorada pelas rendeiras de Divina Pastora, que ganharam fama pela beleza e complexidade de suas peças

às 15h36
Exemplo de uma bolsa confeccionada com bordados de renda irlandesa (Victor Ribeiro/ASN - acervo)
Exemplo de uma bolsa confeccionada com bordados de renda irlandesa (Victor Ribeiro/ASN - acervo)
A cantora Solange Almeida ao lado da estilista Carol Cajé, que idealizou o figurino inspirado na renda irlandesa (Isis Oliveira/Secult)
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Um tipo de bordado que encanta pela beleza e pela complexidade de sua elaboração. Ele surgiu na Europa, mas fincou raízes e foi aprimorada no nordeste brasileiro, sendo acolhida como um patrimônio característico do nosso estado. Trata-se da renda irlandesa, produzida principalmente na cidade de Divina Pastora, no Vale do Cotinguiba. Em 2009, ela foi considerada por lei um patrimônio cultural do Brasil e foi incluída no livro de registros e saberes do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional), que reúne e cataloga os bens culturais imateriais de cidades e regiões brasileiras. Dez anos depois, a Lei Estadual 8.586/2019 declarou a renda de Divina Pastora como Patrimônio Imaterial de Sergipe

A técnica envolve o uso de fios de seda ou de algodão branco sob a forma de lacê, um tipo de cordão ou fitilho que é costurado em pontos e segue um desenho previamente planejado em rascunhos de papel. Estima-se que essa renda tenha sido criada no Século 15 por damas da aristocracia italiana, mas rapidamente difundida pelos outros reinos e países europeus.

Por volta do século 17, freiras católicas irlandesas foram enviadas ao Brasil (à época colônia de Portugal) e ensinaram a feitura da renda para mulheres ligadas aos engenhos e fazendas de cana-de-açúcar da região de Divina Pastora, que por sua vez multiplicaram esse aprendizado entre as mulheres escravizadas que trabalhavam nas fazendas (conhecidas como “mucamas”). Com a abolição da escravatura e outras mudanças sócio-econômicas da região no fim do Século 19, a técnica foi popularizada para as outras mulheres da região, que passaram a desenvolver o ofício de rendeira. 

O aprimoramento da feitura da renda se deu quando as rendeiras sergipanas adicionaram relevos, desenhos e camadas aos lacês, além de experimentar outros tipos de matéria-prima que conferem mais brilho e realce às peças, que depois de prontas são costuradas em roupas, toalhas e peças decorativas. Estas características se destacaram como originais e sofisticadas, sendo transmitidas pelas gerações e fazendo de Divina Pastora um dos principais pólos produtores desse tipo de artesanato no Brasil e no mundo. 

“A renda irlandesa é conhecida em todo o país e no exterior, pois o trabalho realizado pelas rendeiras é de excepcional qualidade. Em Sergipe várias localidades produzem a renda, mas é no município de Divina Pastora que existe uma maior concentração delas”, afirma o texto do Projeto de Lei 197/2019, que foi aprovado na Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) e se desdobrou na lei que a declarou Patrimônio Imaterial do Estado. 

A fama feita em Sergipe ganhou o Brasil e o mundo por volta dos anos 2000, a partir de criações do estilista sergipano Altair Santo, que compôs diversas peças de roupa baseadas na renda irlandesa e que ganharam destaque em eventos e concursos de moda, peças de teatro e programas de televisão na Europa e no eixo Rio-São Paulo. E mais recentemente, no Arraiá do Povo, em Aracaju, a cantora baiana Solange Almeida fez o seu show com um vestido customizado de renda irlandesa, elaborado pela estilista sergipana Carol Cajé. 

O patrimônio sergipano também encanta e desperta a atenção do país que difundiu a técnica, a Irlanda. Em junho de 2023, o embaixador da Irlanda no Brasil, Seán Hoy, fez uma visita oficial a Sergipe (com passagem pela Unit) e aprofundou seu conhecimento sobre a produção singular desse artesanato. Meses depois, em novembro, uma delegação sergipana visitou Dublin e também tratou sobre a promoção de intercâmbio comercial de artesanato produzido em Sergipe, com destaque para a viabilização da exportação de peças de renda irlandesa produzidas no estado.

com informações de Agência Alese, Rádio UFS, Secom-SE, E-Dublin e Rede Artesol

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