Um tipo de bordado que encanta pela beleza e pela complexidade de sua elaboração. Ele surgiu na Europa, mas fincou raízes e foi aprimorada no nordeste brasileiro, sendo acolhida como um patrimônio característico do nosso estado. Trata-se da renda irlandesa, produzida principalmente na cidade de Divina Pastora, no Vale do Cotinguiba. Em 2009, ela foi considerada por lei um patrimônio cultural do Brasil e foi incluída no livro de registros e saberes do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional), que reúne e cataloga os bens culturais imateriais de cidades e regiões brasileiras. Dez anos depois, a Lei Estadual 8.586/2019 declarou a renda de Divina Pastora como Patrimônio Imaterial de Sergipe.
A técnica envolve o uso de fios de seda ou de algodão branco sob a forma de lacê, um tipo de cordão ou fitilho que é costurado em pontos e segue um desenho previamente planejado em rascunhos de papel. Estima-se que essa renda tenha sido criada no Século 15 por damas da aristocracia italiana, mas rapidamente difundida pelos outros reinos e países europeus.
Por volta do século 17, freiras católicas irlandesas foram enviadas ao Brasil (à época colônia de Portugal) e ensinaram a feitura da renda para mulheres ligadas aos engenhos e fazendas de cana-de-açúcar da região de Divina Pastora, que por sua vez multiplicaram esse aprendizado entre as mulheres escravizadas que trabalhavam nas fazendas (conhecidas como “mucamas”). Com a abolição da escravatura e outras mudanças sócio-econômicas da região no fim do Século 19, a técnica foi popularizada para as outras mulheres da região, que passaram a desenvolver o ofício de rendeira.
O aprimoramento da feitura da renda se deu quando as rendeiras sergipanas adicionaram relevos, desenhos e camadas aos lacês, além de experimentar outros tipos de matéria-prima que conferem mais brilho e realce às peças, que depois de prontas são costuradas em roupas, toalhas e peças decorativas. Estas características se destacaram como originais e sofisticadas, sendo transmitidas pelas gerações e fazendo de Divina Pastora um dos principais pólos produtores desse tipo de artesanato no Brasil e no mundo.
“A renda irlandesa é conhecida em todo o país e no exterior, pois o trabalho realizado pelas rendeiras é de excepcional qualidade. Em Sergipe várias localidades produzem a renda, mas é no município de Divina Pastora que existe uma maior concentração delas”, afirma o texto do Projeto de Lei 197/2019, que foi aprovado na Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) e se desdobrou na lei que a declarou Patrimônio Imaterial do Estado.
A fama feita em Sergipe ganhou o Brasil e o mundo por volta dos anos 2000, a partir de criações do estilista sergipano Altair Santo, que compôs diversas peças de roupa baseadas na renda irlandesa e que ganharam destaque em eventos e concursos de moda, peças de teatro e programas de televisão na Europa e no eixo Rio-São Paulo. E mais recentemente, no Arraiá do Povo, em Aracaju, a cantora baiana Solange Almeida fez o seu show com um vestido customizado de renda irlandesa, elaborado pela estilista sergipana Carol Cajé.
O patrimônio sergipano também encanta e desperta a atenção do país que difundiu a técnica, a Irlanda. Em junho de 2023, o embaixador da Irlanda no Brasil, Seán Hoy, fez uma visita oficial a Sergipe (com passagem pela Unit) e aprofundou seu conhecimento sobre a produção singular desse artesanato. Meses depois, em novembro, uma delegação sergipana visitou Dublin e também tratou sobre a promoção de intercâmbio comercial de artesanato produzido em Sergipe, com destaque para a viabilização da exportação de peças de renda irlandesa produzidas no estado.
com informações de Agência Alese, Rádio UFS, Secom-SE, E-Dublin e Rede Artesol
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