A doença de Behçet é uma condição autoimune e inflamatória crônica que afeta diversas partes do corpo, caracterizando-se por ciclos de remissão e reativação dos sintomas. Embora rara, é especialmente prevalente em algumas regiões do Oriente Médio, Ásia e Mediterrâneo, sendo mais incomum em populações ocidentais. No Brasil, a incidência exata ainda é desconhecida devido à dificuldade diagnóstica, mas acredita-se que os casos sejam subnotificados. Devido à variedade de sintomas e sistemas afetados, o diagnóstico precoce e o acompanhamento especializado são fundamentais para evitar complicações.
A doença de Behçet é conhecida por sua ampla gama de manifestações que variam de pessoa para pessoa, tornando o diagnóstico um desafio para médicos. Segundo a médica reumatologista e professora do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit), Alejandra Debbo, os sintomas mais comuns são lesões orais indolores, geralmente na forma de aftas, e úlceras genitais, que podem surgir em áreas como a virilha e o períneo.
“Na pele, também aparecem nódulos dolorosos, conhecidos como eritema nodoso, e lesões parecidas com espinhas, que indicam inflamação autoimune. As manifestações oculares, como uveíte e vasculite retiniana, causam visão turva e vermelhidão nos olhos, podendo evoluir para cegueira se não tratadas adequadamente. Além disso, o envolvimento neurológico, como dores de cabeça intensas que não respondem a analgésicos, exige avaliação e monitoramento por neurologistas devido ao risco de lesões no sistema nervoso”, explica a médica.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da doença de Behçet é principalmente clínico, uma vez que não há exames laboratoriais específicos para confirmá-la. “O diagnóstico é feito com base nos sintomas relatados e, em alguns casos, por biópsias das áreas afetadas. O tratamento varia de acordo com a gravidade das manifestações e é focado no controle dos sintomas e na prevenção de surtos. Úlceras leves são tratadas com corticosteróides tópicos e anestésicos, enquanto casos mais graves podem requerer corticosteroides orais e imunossupressores, como azatioprina, ciclofosfamida e metotrexato”, observa a Dra. Alejandra Debbo.
Em situações de maior complexidade, principalmente quando há envolvimento neurológico ou vascular, pode ser necessário o uso de agentes imunobiológicos, como medicamentos anti-TNF (Fator de Necrose Tumoral), medicamentos que reduzem a inflamação bloqueando a ação do TNF-α, proteína que desencadeia resposta inflamatória excessiva em doenças autoimunes. Este tipo de terapia tem mostrado resultados positivos na estabilização da doença em pacientes com quadros graves e resistentes a outros tratamentos.
Acompanhamento
A doença de Behçet requer um tratamento multidisciplinar, envolvendo médicos de diferentes especialidades para atender às variadas manifestações da condição. “Além do reumatologista, o acompanhamento regular com oftalmologista e, em alguns casos, com neurologista, é essencial. O tratamento integrado ajuda a controlar os sintomas e prevenir danos permanentes, melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes”, reforça Alejandra.
Adotar um estilo de vida saudável é uma das melhores estratégias para minimizar os surtos da doença e melhorar a resposta ao tratamento. Alejandra recomenda práticas como um sono reparador, exercícios físicos regulares, alimentação equilibrada e a gestão de gatilhos emocionais, todos importantes para a estabilização do quadro clínico. “Embora rara, a doença de Behçet possui um componente genético que pode aumentar o risco em pessoas com histórico familiar de doenças autoimunes”, alerta.
Embora a doença de Behçet seja crônica e sem cura, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem ajudar a controlar os sintomas e a manter a qualidade de vida dos pacientes. “Com um acompanhamento médico cuidadoso e uma abordagem multidisciplinar, é possível lidar com as manifestações da doença e evitar complicações graves, assegurando que os pacientes tenham uma vida produtiva e plena”, recomenda a médica reumatologista.
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