Para muitos, o 2 de novembro é um dia de dor, sofrimento e ausência. Para outros, um dia de saudades e boas lembranças. Sentimentos como esses são despertados pelo que se comemora nesta data: o Dia de Finados, que também é chamado de Dia dos Fieis Defuntos. A ocasião é reservada para relembrar a memória de parentes, amigos e personalidades públicas que já faleceram. No Brasil, é um feriado nacional reconhecido por lei, no qual muitos aproveitam para levar flores, velas, orações e lágrimas aos túmulos onde os corpos de seus entes queridos estão sepultados.
A instituição do Dia de Finados surgiu de um costume iniciado por volta do Século 1, nos primórdios do Cristianismo, quando os fieis costumavam fazer missões, orações e rituais em homenagem aos mortos, sem seguir uma data específica. Essa data só surgiu por volta do ano 998, por instituição do abade Odilon de Clony, no antigo Reino da França, que unificou as datas e celebrações no chamado “Dia de Todas as Almas”, que passaria a ser celebrado no dia seguinte ao 1º de Novembro, Dia de Todos os Santos. Anos mais tarde, a data foi oficializada pela Igreja Católica e por praticamente todas as igrejas cristãs.
Segundo a professora Rosângela Maia Aragão, coordenadora da Capela da Universidade Tiradentes (Unit), o Dia de Finados é quando os católicos relembram e rezam pelos entes queridos que já faleceram. “A data nos lembra da brevidade da vida e da importância de honrar a memória dos que amamos. Ela traz a mensagem de esperança na vida eterna, ressaltando que a morte não é o fim, mas uma passagem para um encontro com Deus”, diz ela, destacando que a doutrina católica ensina que a morte não é o fim, mas uma transformação, e que a vida eterna é prometida aos que creem. “A morte é vista como o fim da vida terrena e o momento em que a alma se apresenta diante de Deus para o juízo. Na liturgia, é afirmado que a vida não é tirada, mas transformada”, contextualiza ela.
Boa parte das tradições e crenças relacionadas ao Dia de Finados se baseia no que a doutrina católica diz sobre o que acontece com uma pessoa após a sua morte: a alma dela pode ser encaminhada para o céu (destinado a quem morre em estado de graça), para o inferno (destinado aos infieis e pecadores convictos) ou para o purgatório (onde são expiados os pecados menos graves que foram cometidos em vida. É neste sentido, explica Rosângela, que a igreja recomenda que os fieis pratiquem neste dia as orações pelos mortos, a celebração de missas e as visitas aos cemitérios, com acendimento de velas.
“Acredita-se que muitas almas estejam no purgatório, passando por um processo de purificação antes de entrar no Paraíso. É uma oportunidade de manifestar amor e solidariedade, além de relembrar a esperança na ressurreição. A oração pelos mortos pode ser vista como uma forma de expiação. É um gesto de solidariedade, que reflete a crença na comunhão dos santos, onde os vivos podem ajudar os mortos por meio de suas preces. Santo Agostinho destaca que as obras de misericórdia, incluindo orações pelos mortos, são uma ajuda significativa. A doutrina do purgatório também justifica essas orações, pois acredita-se que podem auxiliar na purificação das almas”, detalha a coordenadora.
A sequência do Dia de Finados em relação ao Dia de Todos os Santos, determinada pelo abade de Clony, também tem o sentido de enfatiza a comunhão entre os santos e os fiéis defuntos. “Enquanto o Dia de Todos os Santos celebra aqueles que já estão na glória divina, o Dia de Finados é um lembrete da importância de rezar pelos que ainda estão em processo de purificação”, acrescenta a professora, que apresenta ainda um outro significado para data, vista por muitos como um “feriado triste”.
“Essa data pode ser entendida como uma oportunidade de reflexão e de celebrar a vida dos que se foram. É um momento de esperança, conexão e amor, ao invés de apenas tristeza”, conclui Rosângela, em uma definição que pode ser muito bem resumida por um lema muito difundido pelo padre Marcelo Rossi, um dos sacerdotes católicos mais populares do Brasil: “Saudade sim, tristeza não!”.
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