O combate e a prevenção contra o câncer muda de cor e de foco no mês de novembro: se o “Outubro Rosa” traz uma preocupação maior é com os tumores de mama, que atingem principalmente as mulheres, o “Novembro Azul” se volta mais para os homens, cada vez mais afetados pelo câncer de próstata. Segundo dados do Ministério da Saúde, ele provocou mais de 17 mil óbitos no Brasil em 2023, sendo a segunda maior causa de mortes por câncer na população masculina, atrás apenas dos tumores de pele não-melanoma. E uma estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) aponta para o surgimento de 71.730 novos casos por ano durante o triênio 2023-2025.
Mas estas preocupações das autoridades de saúde não estão se restringindo mais aos casos de câncer. As doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC), abuso de álcool e drogas, outros tipos de câncer e problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e estresse crônico, também alcançam índices alarmantes de casos e de mortes provocadas em homens, despertando um maior enfoque na prevenção e no cuidado.
“Tanto as causas externas, quanto as doenças crônicas, que tendem a adoecer e causar mortalidade dos homens ao longo da vida são fortemente influenciadas por fatores comportamentais, o chamado estilo de vida. Além disso, a desigualdade social, más condições de trabalho e a cultura de machismo contribuem para influenciar o modo de alimentação, abuso de álcool, consumo do tabaco, padrões de comportamento violento e resistência frente a medidas de proteção e autocuidado. Essa rotina adoecedora é construída socialmente, seja no trabalho, no trânsito ou na vida doméstica”, diz o professor André Luiz Baião Campos, do Programa de Integração do Ensino à Saúde da Família (Piesf) e do Ambulatório de Clínica Médica do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit).
A rotina que impõe a exposição a esses fatores de risco, bem como as questões genéticas, fazem com que a mortalidade seja maior entre os homens. “A ocorrência de hipertensão, diabetes, por exemplo, torna-se maior e leva ao resultado que vemos nas estatísticas: infartos, AVCs, insuficiência renal e amputações são mais comuns entre homens do que entre mulheres”, acrescenta o professor, que também relaciona o problema a comportamentos e tabus ainda comuns na população masculina. “Pelo machismo, a prevenção de doenças masculinas é muitas vezes dificultada. Há preconceitos e estigmas que cercam a saúde do homem. Uma imagem de invencibilidade, força, coragem de se expor a riscos é reforçada desde a criação de meninos em contraposição a valorização do autocuidado que é mais ensinado às meninas”, detalha.
Quebrando preconceitos
Um destes comportamentos é o de evitar o exame do toque retal, adotado como estratégia de rastreio e detecção do câncer de próstata. Segundo o professor da Unit, estudos científicos já provaram que o rastreamento em massa por toque retal não é suficiente para impactar em mortalidade, o que já foi revisado e validado por diversas Sociedades Médicas. Baião avalia que a valorização excessiva da temática do câncer de próstata, bem como a ênfase no toque retal como estratégia de rastreamento é um dos maiores desafios da conscientização sobre a saúde do homem, o que precisa ser superado em nome de um cuidado mais geral e abrangente sobre a saúde masculina.
“O alerta e o chamado aos homens deve ser para vencer a resistência à mudança do estilo de vida, para a prevenção e o rastreio de doenças cardiovasculares, à cultura da paz e superação do machismo que leva a exposição, tanto a doenças transmissíveis como às crônicas. Também se deve aproveitar o Novembro Azul para uma reflexão sobre saúde no trabalho e saúde mental”, indica André, frisando que o movimento mundial da campanha tem como objetivo alertar os homens sobre a importância dos cuidados com a saúde.
A prevenção contra todas estas doenças passam principalmente por mudanças no estilo de vida de cada homem, adotando práticas como manter uma dieta equilibrada, fazer exercícios regularmente, controlar o colesterol e a pressão arterial, além de evitar o cigarro e o consumo excessivo de álcool.
Ações em andamento
Por conta do Novembro Azul, instituições mobilizam seus locais e estruturas para ações de promoção e conscientização da população masculina quanto aos cuidados com a própria saúde. “Essas iniciativas promovem o diagnóstico precoce, a prevenção e o cuidado integral com a saúde masculina, incentivando os homens a superarem tabus e a adotarem uma postura preventiva”, pontua Baião.
Algumas delas vêm sendo realizadas pela Unit, seja pelos alunos e professores que atuam na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) ou através do recém-inaugurado Complexo de Especialidades em Saúde Profª Amélia Uchôa, no Campus Farolândia, que agrega os ambulatórios de atendimento dos cursos de Psicologia, Medicina, Fisioterapia, Odontologia, Enfermagem e Biomedicina.
No próprio SUS, muitas ações da campanha são realizadas pelas Unidades Básicas de Saúde, onde está baseada a Estratégia Saúde da Família. Além das consultas e ações coletivas, o SUS aproveita a ocasião para divulgar a oferta de vacinações, avaliações, testes rápidos e exames, que são 100% gratuitas e de acesso universal. Farmácias, clínicas privadas e redes de laboratórios realizam parcerias para oferecer exames a preços acessíveis ou até gratuitos durante a campanha, além dos programas de conscientização oferecidos aos colaboradores de grandes empresas, incentivando a realização de exames preventivos e palestras sobre autocuidado.
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