Os traços livres, fortes e coloridos marcam e chamam a atenção de quem passa o olho pelas figuras ali formadas, despertando os mais diversos sentimentos. Para muitos, é o de riso e graça, geralmente acompanhado de reflexão e entendimento sobre um determinado assunto, ou uma determinada pessoa. Estes traços aparecem nas charges, caricaturas, cartuns e grafites, que agora são oficialmente reconhecidos como cultura oficial do Brasil.
Este reconhecimento veio através da Lei 14.996/2024, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada no dia 15 de outubro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A nova lei define como é caracterizada cada uma dessas formas de arte, incumbindo o poder público de “garantir sua livre expressão artística e promover sua valorização e preservação”. Para os artistas, o reconhecimento abrange não apenas o trabalho artístico, mas também o papel desempenhado por cada uma destas expressões gráficas na sociedade.
“Creio que as variadas formas de artes gráficas sempre vão revelar aspectos da cultura de sua sociedade, com opinião, emoção e significações que nos ajudam não só a registrar e difundir nossa história e valores, mas também educar e muitas vezes criticar o que não está tão correto em nosso modo de vida. Não só no Brasil, mas em vários outros países, essas expressões gráficas que aliam a arte e ao questionamento são inerentes ao próprio papel do cidadão em participar de sua coletividade com um olhar mais analítico e sensível”, diz o professor Manoel Dantas Macedo Filho, que além de coordenador pedagógico dos cursos de Computação da Universidade Tiradentes (Unit), destaca-se como poeta, escritor, ilustrador e artista gráfico.
Ele explica que a charge e o cartum (ou caricatura) são geralmente mais vinculados à grande imprensa e aos jornais impressos em geral, sendo a charge uma ilustração humorística com um tom crítico sobre temas atuais, como a política; a caricatura satiriza alguém com base em exageros nos traços físicos ou comportamentais; e o cartum traz um humor mais atemporal com mensagens universais, mas nem sempre crítico. Por outro foco, no contexto urbano, o grafite é uma arte visual trabalhada em espaços públicos com pintura, spray, stencil e outras técnicas, expressando ideias ou temas culturais, geralmente com uma narrativa que pode ser interpretada por muitos como um toque de rebeldia.
O próprio professor, que assina seus trabalhos como Manoel Dama, sempre foi apaixonado por artes gráficas e as adotou como uma segunda atividade. “Me interessei pelo desenho, quadrinhos e caricatura desde criança, com o incentivo da minha mãe que sempre me forneceu papel e lápis para me expressar. Depois fui desenvolvendo minhas habilidades, fiz cursos e procurei trabalhar bastante na área, sempre que possível, mesmo em paralelo ao trabalho docente”, diz ele, que se inspira em diversos nomes de todas as vertentes artísticas, como Henfil, Moebius, Quino, Frank Miller, Gonzalo Cárcamo, Laerte, Hermenegildo Sábat, J.Carlos, Philippe Druillet, Loredano, entre outros.
Ao longo dos anos de carreira, o professor teve muitos de seus trabalhos publicados em jornais, revistas e fanzines, além de exposições coletivas. Entre algumas das personalidades homenageadas em seus cartuns, estão o ex-jogador Pelé, a cantora Elza Soares e o também cartunista Ziraldo (autor de ‘O Menino Maluquinho”). Em abril do ano passado, Dama foi um dos participantes da mostra “Picasso Entre Nós”, uma mostra de mais de 200 cartuns e trabalhos artísticos em homenagem ao pintor espanhol Pablo Picasso, junto a artistas de 35 países. Ele também publicou quatro livros, incluindo dois que reúnem seus trabalhos artísticos: “Desenhos Singelos: Ilustrações digitais feitas com o lado feliz do cérebro” e “Collage: fotomontagens proibidas, criativas, permissivas ou emotivas”.
Para o professor da Unit, os desenhos gráficos são uma atividade que lhe serve como hobby e forma de expressão da sua arte. “Na minha arte sempre procuro expressar algum sentimento e/ou mensagem que, com as palavras não teria a intensidade perfeita para sintetizar. É um trabalho, mas também diverte, inspira, transforma e pode nos levar a lugares onde as sensações visuais infinitas vão sempre inspirar e ensinar algo”, afirma.
A atividade artística de Manoel se entrelaça com a atividade acadêmica, servindo de inspiração tanto para os alunos quanto para os outros professores e pesquisadores. “Apesar de mais focado na computação atualmente, eu capricho sempre na composição de minhas explicações no quadro. Os alunos percebem como eu os valorizo e é importante para que as questões funcionais e técnicas sempre fiquem associadas à estética, que é importante em todos os campos do saber”, conclui o professor, que ao ser perguntado sobre planos de publicar outros trabalhos, foi simples e categórico: “Sempre… As ideias estão vivas!”.
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