Dos campos férteis e quentes de Campo do Brito, no agreste de Sergipe, para as montanhas geladas do Canadá. Esse caminho de mais de 7,1 mil quilômetros de distância foi feito pela pesquisadora sergipana Ianny Andrade Cruz, que após fazer a graduação em Engenharia de Petróleo e a pós-graduação em Engenharia de Processos na Universidade Tiradentes (Unit), está cursando um pós-doutorado na Université de Sherbrooke (UdeS), na província canadense de Québec, onde também fez um estágio de doutorado ao longo do período 2022-2.
A primeira passagem pelo Canadá foi para a elaboração da tese de doutorado “Acoplando um sistema IoT de monitoramento e a adição de cascas de ovo para o gerenciamento aprimorado de águas residuais de mandioca: impactos na produção de biogás e na toxicidade do biofertilizante”, que foi orientada pelos professores-doutores Luiz Fernando Romanholo Ferreira e Ranyere Lucena de Souza, do PEP. O estudo, que fez parte da linha de pesquisa ‘Uso e Transformação de Recursos Agrícolas’, buscou a produção de biogás e de fertilizantes orgânicos a partir do beneficiamento de resíduos comuns do agreste de Sergipe, como as cascas de ovos e a manipueira obtida no processamento de mandioca.
“Esse tema foi particularmente especial para mim, pois sou natural do Povoado Gameleira, em Campo do Brito, onde a principal atividade econômica é justamente a produção e o beneficiamento da mandioca. Escolher a manipueira como objeto de estudo representou não apenas uma conexão com minhas raízes, mas também uma oportunidade de contribuir diretamente para a redução dos impactos ambientais associados ao descarte inadequado desses resíduos. Por fim, incentivar a ideia de que esse resíduo ainda pode ser transformado em uma fonte adicional de renda para os agricultores”, diz Ianny, que defendeu a tese em fevereiro de 2023.
A tese foi uma continuidade da dissertação de mestrado “Construção de um reator Anstbr automatizado de baixo custo para produção de biogás”, que ela defendeu no PEP e já buscava formas de otimização da digestão anaeróbia, através do monitoramento do processo. “É importante mencionar que o biogás é uma solução sustentável que oferece uma série de benefícios ambientais, econômicos e sociais, especialmente em um contexto de crescente demanda por energia limpa e renovável. E foi justamente saber de todos esses benefícios que me incentivou a continuar pesquisando sobre o tema, e tentando contribuir de alguma forma para nossa região”, acrescenta ela.
A busca por fontes alternativas de energia motivou Ianny a buscar o estudo no exterior. Após participar de um evento promovido pelo Laboratório de Tecnologias da Biomassa (BTL), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a então doutoranda passou por uma série de entrevistas e foi aprovada na bolsa de estudos para o intercâmbio no BTL, que pertence à UdeS e concentra suas pesquisas no beneficiamento de biomassas para produção de combustíveis renováveis e redução das emissões de gases de efeito estufa, além de trabalhar em parcerias com as indústrias locais de Québec.
Para Ianny, o Canadá oferece um ambiente acadêmico de excelência, uma infraestrutura avançada, incentivos à incentivar a transição energética e busca ativa pela redução das emissões de carbono. “Esses objetivos estão profundamente alinhados com o tema central da minha pesquisa, que envolve a produção de biogás e o aproveitamento sustentável de resíduos orgânicos. O país investe em inovação tecnológica voltada para soluções sustentáveis, o que me proporcionou acesso a recursos e conhecimentos que enriqueceram ainda mais meu trabalho. Além disso, no Canadá, tenho a oportunidade de participar de projetos que envolvem colaboração direta com parceiros industriais, o que traz uma perspectiva prática e aplicável à minha pesquisa. Trabalhar em um ambiente tão integrado entre academia e indústria tem ampliado minha visão sobre como soluções sustentáveis podem ser implementadas de forma eficiente e escalável”, afirma.
Repetindo a experiência
Esta não foi a primeira experiência de Ianny com o intercâmbio internacional. Em 2014, enquanto estudava a graduação em Engenharia de Petróleo na Unit, a então aluna participou do programa Ciência sem Fronteiras, oferecido na época pelo Ministério da Educação (MEC), e fez um ano de mobilidade acadêmica na University of Alaska Fairbanks (UAF), nos Estados Unidos. Neste tempo, ela morou em Fairbanks, no estado do Alaska, e cursou uma série de disciplinas referentes ao seu curso de origem.
Quase 10 anos depois, após passar pelo doutorado no PEP, ela foi convidada a voltar para Sherbrooke, onde mora atualmente e faz pós-doutorado na UdeS. “Durante o período de sanduíche, já houve o convite para minha permanência como pós-doc na instituição. Continuo trabalhando com produção de biogás, e cada dia tenho maior certeza da importância deste tema para o alcance de uma economia circular”, diz Ianny, acrescentando que a vivência no Canadá “tem sido extremamente enriquecedora”, sobretudo pela chance de trocar experiências e manter contatos com profissionais de diversas nacionalidades.
“Essa interação multicultural tem contribuído significativamente para a minha formação, trazendo novas perspectivas e ideias inovadoras para os desafios da pesquisa em energias renováveis. Assim como na Unit, tenho encontrado no Canadá um ambiente acadêmico onde o suporte e a dedicação dos orientadores são pilares fundamentais para o desenvolvimento do meu projeto. Trabalhar com professores que incentivam, desafiam e apoiam de forma constante faz toda a diferença no ambiente acadêmico”, conclui a pesquisadora.
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