Uma das habilidades socioemocionais que vem sendo mais exigidas nas relações sociais e no mercado de trabalho é ter uma boa comunicação com as pessoas. Ela passa por questões e situações que vão muito além da fala, mas também por entender, ser entendido e ter uma troca com quem está à sua volta. Essa comunicação vem sendo apontada como algo fundamental para fortalecer não apenas as relações sociais, mas também a autoestima de cada pessoa e a capacidade dela de responder aos desafios do dia-a-dia.
A comunicação é entendida na Psicologia como um conjunto de habilidades sociais, que reúne vários comportamentos necessários para o estabelecimento de relações interpessoais, considerando as características de contexto e de cultura de determinado lugar. “Uma boa comunicação é aquela que vai incluir comportamentos como conseguir iniciar e finalizar conversas, ter uma troca que seja clara de informações, conseguir pedir ajuda, fazer e responder perguntas, compreender, interpretar bem as informações, conseguir expressar aquilo que eu sinto e as minhas necessidades”, explica a professora Michelle Leite, do curso de Psicologia da Universidade Tiradentes (Unit).
Esta comunicação não se restringe à fala em si e nem tampouco ao conteúdo da fala. Ela pode acontecer a partir de conteúdos e linguagens não-verbais, como gestos, tom de voz, expressões faciais, posturas, expressões corporais, contato visual e outras características que podem expressar mensagens e sentimentos. “Se eu consigo me comunicar assertivamente, agressivamente ou passivamente, isso vai depender muito desses outros fatores e aspectos”, diz Michelle.
Tais aspectos incluem a empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do interlocutor e compreender suas perspectivas; e o autoconhecimento de quem comunica em relação às próprias ideias, pensamentos, conhecimentos, razões e emoções. O domínio destes aspectos permite, por exemplo, que uma pessoa comunique suas mensagens e defenda seus argumentos de forma clara e assertiva, sem parecer agressivo ou impositivo, nem demonstrar passividade ou fraqueza.
Michelle explica que cada pessoa pode desenvolver e aprimorar essas habilidades de comunicação em seu dia-a-dia, mantendo conversas francas com as pessoas à sua volta e obtendo respostas delas (os chamados feedbacks) sobre a forma como ela se comunica. “Muitas vezes, nós fazemos de forma automática determinados comportamentos relacionados às habilidades sociais, e a gente não se dá conta disso. Então, o autoconhecimento é importante, além da prática constante e a obtenção de feedback das outras pessoas para que a gente consiga ajustar esses erros na comunicação”, afirma a professora, acrescentando que a psicoterapia pode ajudar em determinados casos de dificuldades na expressão ou na compreensão. .
Timidez ou extroversão
Dois tipos de comportamentos chamam muito a atenção das pessoas nos contatos interpessoais: a timidez (ou introversão), na qual alguém prefere ficar com poucas pessoas ou se sente desconfortável ao interagir com quem está à sua volta; e a extroversão, quando essa interação ocorre com muita facilidade e a pessoa gosta de estar em grupos. Segundo a professora, tratam-se de características peculiares da personalidade de cada indivíduo, que é composta a partir de vários fatores, incluindo os biológicos e os ambientais, . “É a minha genética, o meu temperamento, o ambiente que eu vivo, as experiências que eu tive… e ao longo do tempo essa personalidade vai sendo formada”, detalha Michelle.
A psicóloga esclarece que as habilidades sociais são passíveis de serem aprendidas, independente do traço ou característica de personalidade de cada indivíduo. Entretanto, esses traços podem trazer facilidades ou dificuldades neste processo de aprendizado. “O fato de eu ser introspectivo ou extrovertido não é algo que vai necessariamente determinar que eu terei ou não uma boa comunicação, mas é fato que alguns traços de personalidade nesse sentido possuem mais facilidade do que a outros. Exemplo: uma pessoa que é tímida ou introspectiva pode ter mais dificuldade de iniciar e de manter uma conversa, ou de estar em um grupo de pessoas, uma vez que ela prefere atividades que são um pouco mais solitárias ou com um grupo menor de pessoas”, explica.
Neste sentido, as características pessoais podem se tornar um problema se começarem a causar sofrimento e prejuízo significativo na vida do indivíduo, de acordo com a frequência e a intensidade da influência desses traços em sua forma de pensar e de agir. Isso acontece principalmente devido ao julgamento feito pela sociedade em relação a esta pessoa. Um julgamento que cria insegurança nas pessoas e tende a ser mais forte se essa pessoa apresenta algum tipo de problema, como problemas na fala (gagueira, más-formações) ou mesmo problemas de timidez excessiva.
“A gente volta com aquela ideia do contexto cultural de ser mais comunicativa, mais extrovertida e conseguir estar em grupos. A nossa sociedade tende a reforçar muito mais os comportamentos de uma pessoa com o traço de extroversão, aumentando a auto estima desse indivíduo, fazendo com que ele se enxergue de uma forma mais valorizada. Em contrapartida, isso gera frustrações numa pessoa tímida ou introspectiva, por ela não conseguir ter esse comportamento culturalmente desejado”, diz Michelle.
As pessoas que apresentem dificuldades mais sérias de comunicação e a sociabilidade podem procurar ajuda profissional especializada, sobretudo psicólogos e fonoaudiólogos, que estejam capacitados para trabalhar estas dificuldades e treinar essas competências e habilidades. Técnicas de psicoterapia, como a Terapia Cognitiva Comportamental e o Treinamento de Habilidade Social, podem ser as mais indicadas.
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