Como uma universidade faz parte da vida de uma cidade? Esta pergunta pode ser bem respondida por Aracaju, um pequeno arraial de pescadores que foi elevado à categoria de capital da então Província de Sergipe, em 17 de março de 1855, pelo presidente Inácio Joaquim Barbosa. Destes 170 anos de evolução e crescimento, 63 tiveram a participação da Universidade Tiradentes (Unit), desde a sua fundação em 1962 como Ginásio, na Rua Laranjeiras, até o crescimento e consolidação do Campus Farolândia, que fez emergir em torno de si o bairro mais populoso da capital.
Boa parte desta história foi vivida pelo contador José Ednilson dos Santos, da Diretoria Administrativa e Financeira, que tem a mesma idade da empresa na qual começou a trabalhar em 1985, há 40 anos. Aracajuano nascido no bairro Cidade Nova, na zona norte, ele acompanhou a evolução da região desde 1982, quando foi morar no Conjunto Augusto Franco, que tinha acabado de ser inaugurado e já ficava ao lado do futuro bairro. Ele conta que a atual Farolândia era um grande deserto, com descampados e faixas de areia, além de um velho farol e grandes propriedades de terra que estavam abandonadas.
“A distância para o Centro era a mesma, só que o deslocamento era mais complicado. Eu me lembro que só tinha duas linhas de ônibus: a Augusto Franco/Bugio e a Augusto Franco/Beira-Mar. A Avenida Canal 4, no conjunto, era de piçarra e, por causa da chuva, os ônibus não podiam nem vir até aqui, por causa da lama. A gente se deslocava lá do início do conjunto para pegar o ônibus”, recorda Ednilson, que passou a fazer mais esse trajeto quando entrou para a então Faculdades Integradas Tiradentes (Fits), instalada em sua primeira sede própria, construída em 1969 na Rua Lagarto.
O cenário começou a mudar a partir do início da década de 1990, quando o professor Jouberto Uchôa de Mendonça, fundador da Fits, decidiu comprar as terras de um sítio situado próximo ao antigo farol. O objetivo: instalar o campus da futura Universidade Tiradentes, que já estava em processo de criação e autorização. Na época, o local tinha apenas uma capela deteriorada, cercada pelos descampados onde cavalos pastavam e grupos de homens jogavam futebol durante o dia.
A escolha daquela área não foi aleatória, mas surpreendeu muita gente e desmentiu alguns comentários informais que corriam à época, supondo que o novo campus seria construído em alguma área na saída da cidade, pela BR-235, tomando o caminho do interior. “Na verdade, o professor Uchôa é uma águia, que enxerga longe. Como ele sempre foi um cara que teve visão, ele entendeu que Aracaju iria crescer para o sul, na direção da zona de expansão. E como esse sítio era uma área muito grande, ele enxergou dentro do seu planejamento uma expectativa de crescer ao vir pra cá”, diz Ednilson, que assinou o cheque de pagamento dos primeiros lotes do velho sítio, em nome da Fits.
Gerando negócios
O atual Campus Farolândia foi inaugurado em 1995, quase um ano depois do reconhecimento oficial da Unit pelo Ministério da Educação (MEC). A velha capela foi restaurada e, à medida em que seus blocos e unidades eram construídos, outras obras foram acontecendo no entorno da área, com a construção de ruas, avenidas, casas, condomínios e, principalmente, o comércio. Tudo que pudesse suprir a demanda de milhares de estudantes que vinham do interior sergipano e até de estados vizinhos para estudar na Unit e trabalhar em outros bairros de Aracaju, quando não no próprio bairro.
“As casas começaram a vir para cá e começou a gerar renda. Onde tem pessoas, principalmente alunos, tem que ter um comércio. Onde se cria um campus, também tem loja, posto de gasolina, conveniência, bar, restaurante, livraria, copiadora, o pipoqueiro… Tanto dentro quanto fora da faculdade”, diz o contador, que também foi professor dos cursos de Administração e Ciências Contábeis, além de participar da abertura dos campi da Unit em Itabaiana, Estância, Propriá e Maceió (antiga Unit Alagoas, atual Unima).
Hoje, o antigo deserto tem 41.116 habitantes, segundo a última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma população maior do que a de 65 municípios sergipanos. José Ednilson é um destes moradores, no fundo, tinha a certeza de que o entorno daquela antiga capela se transformaria em um dos principais bairros da cidade. “Não sei se eu imaginava, porque isso é questão de desenvolvimento e depende também de política pública. Mas tenho a certeza que eu não duvidava disso, pela pessoa que é o professor Uchôa: um educador e empreendedor acima de tudo”, conclui.
Formando pessoas
O mesmo fenômeno já aconteceu no Centro de Aracaju, quando a antiga Fits concentrava seus cursos na Rua Lagarto, que passou a ser o atual Campus Centro. A intensa movimentação de pessoas e serviços impulsionou o comércio da região entre as décadas de 1970 e 2000, atraindo principalmente as pessoas que, assim como o contador José Ednilson, trabalhavam na cidade durante o dia.
“Você tem uma escola, um Colégio Tiradentes que se desponta como faculdade e chega à universidade dentro de uma área urbana que é o Centro. E ajuda a formar uma série de pessoas, principalmente dentro do ensino superior noturno. A gente deu muita oportunidade às pessoas que não tinham condições de fazer estudar manhã e tarde, e a Unit vem com essa proposta, desde o seu nascedouro, em cursos de demanda da sociedade”, considera o professor Marcos Wandir Nery Lobão, diretor de Relações Institucionais da Unit.
A geração de emprego e de renda em torno de suas unidades é apenas uma das contribuições prestadas pela Unit ao longo dos seus 63 anos de atividade. Wandir destaca a formação de profissionais e de quadros que se destacaram no mercado profissional e que também entraram para a vida pública, ocupando cargos de gestão e de relevância na administração da cidade, do Estado e até mesmo da União. “A qualidade desse ensino sobrepôs uma série de barreiras, e hoje, a gente tem a relevância da formação destas pessoas pela Unit, ou pela Faculdade Tiradentes, com elas ocupando postos importantes, seja do setor empresarial ou do setor público”, afirma.
Ainda de acordo com o professor, a Unit também têm se destacado por manter um diálogo muito próximo com o poder público municipal, em todas as suas esferas e administrações. Um diálogo através do qual o conhecimento produzido em salas de aula se reverteu em projetos conjuntos, propostas e soluções para resolver problemas e promover avanços no dia-a-dia de Aracaju, principalmente em áreas como saúde, educação, assistência social, economia, mobilidade urbana e meio ambiente.
“Quando a gente fala de políticas públicas, a gente tem que associar a formação dos nossos alunos e dos nossos professores em relação ao que é relevante para a sociedade. Nós temos ações que envolvem Aracaju e vários outros municípios a partir da Universidade de Tiradentes, do seu Instituto de Pesquisa [ITP] e do Tiradentes Innovation Center. Socorrer ou mesmo trabalhar junto, apoiar uma determinada política pública com programas efetivos, também atrai empreendimentos privados, e essas grandes parcerias empresariais é que também têm mantido a universidade pujante e viva”, frisa Wandir.
Leia mais:
Prefeita de Aracaju participa de ação em homenagem ao Dia Internacional da Mulher
Unit firma acordo de cooperação na área de TI com a Prefeitura de Aracaju
Passeio de ônibus pelo Campus Farolândia encanta e impressiona estudantes