Na era da hiperconectividade, onde conteúdos são produzidos e consumidos em ritmo acelerado, compreender o funcionamento das mídias e seus impactos sociais nunca foi tão necessário. As transformações tecnológicas, impulsionadas por ferramentas como a Inteligência Artificial (IA), vêm modificando profundamente a forma como as mensagens são criadas, distribuídas e absorvidas. Com isso, surgem também novos desafios: como manter a criatividade diante de algoritmos? Qual o papel do ser humano no processo de criação? E como garantir diversidade e representatividade nas narrativas contadas pelas marcas?
Foi com essa perspectiva que o curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Tiradentes (Unit) realizou a 4ª edição do Midiálogo sem Cortes, nos dias 14 e 15 de maio, no Campus da Unit Farolândia. Gratuito e aberto ao público, o evento reuniu alunos, professores, anunciantes, agências e veículos de comunicação para uma experiência prática e reflexiva sobre o mercado da comunicação, com foco no tema: “Cr[IA]tividade e storytelling: Como viver o futuro do Marketing”.
Aprendizado que vem da prática
Muito mais do que um evento acadêmico, o Midiálogo é uma verdadeira imersão no mercado para os alunos que o realizam. Segundo o professor Mário Eugênio Lima, coordenador geral do evento, a iniciativa integra a disciplina de Laboratório de Planejamento de Mídia e é pensada e executada integralmente pelos estudantes.
“O protagonismo é deles. Desde a criação da identidade visual, busca por patrocinadores, produção de campanhas e escolha dos palestrantes até o planejamento da mídia. Tudo é feito por eles. Isso torna o aprendizado muito mais significativo, pois simula o funcionamento real do mercado”, afirma o professor.
Para além da prática, o evento se consolida como uma ponte direta com o mundo profissional. “É uma grande oportunidade de networking. Os alunos acabam criando conexões com palestrantes, empresas, anunciantes, patrocinadores. Muita gente está envolvida nesse processo. E, não menos importante, o evento traz o mercado para dentro da universidade. Trabalhamos apenas com palestrantes renomados, profissionais com forte atuação no mercado, e isso permite que os estudantes vejam, na prática, aquilo que aprendem nas aulas teóricas”, complementa.
A força do protagonismo estudantil
Para o estudante do 7º período de Publicidade e Propaganda, Micheas Borges, um dos responsáveis pela organização da edição deste ano, o desafio foi superar todas as expectativas anteriores. “A gente queria inovar. Trouxemos intérpretes de Libras pela primeira vez, mais de 30 marcas parceiras com ativações inéditas, ações de credenciamento. Tudo isso foi fruto do nosso empenho em criar um evento que já nos prepara para o mercado de trabalho”, relata Micheas.
O processo de criação também passou por um filtro estratégico: o tema principal e os subtemas foram definidos em grupo, com foco em assuntos de interesse ampliado, que não ficassem restritos apenas à publicidade. “Queríamos atrair jornalistas, criadores de conteúdo e influenciadores. Por isso, optamos por tratar de inteligência artificial e storytelling no contexto nordestino, algo que dialoga com todos os comunicadores”, explica.
O mercado dentro da universidade
Durante os dois dias de evento, os debates contaram com a participação de nomes de peso do mercado, como Bruno Barros, Marcolino Joe, Adilson Antônio Corrêa Júnior, Eddie Azevedo, Marcell Veloso, Natália Santos e Ederson Dé Manoel. A presença desses profissionais permitiu uma troca real entre teoria e prática, com discussões que foram desde os impactos da IA no processo criativo até a importância da identidade regional no storytelling.
A professora Talita Déda, coordenadora operacional dos cursos de Comunicação, destaca o impacto transformador da proposta. “É um projeto feito por eles e para eles. Ver o protagonismo dos alunos, a qualidade da entrega e o comprometimento com cada detalhe é algo que nos enche de orgulho. A cada edição, o parâmetro sobe, e isso só mostra o quanto estão preparados para os desafios do mercado”, analisa.
Storytelling e valorização cultural
Na segunda noite de debates, o foco foi o storytelling nordestino. O publicitário Marcell Veloso, secretário de Comunicação do município de Estância (SE) e palestrante do painel, ressaltou a potência natural da região para a contação de histórias. “Gosto de dizer que nós, nordestinos, somos os maiores contadores de histórias, então falar de storytelling aqui é quase um pleonasmo. Temos esse talento natural e estamos prontos para nos destacar. Embora a IA já seja consolidada no mercado, no nosso contexto local ela ainda interfere pouco, pois nossa comunicação tem características muito próprias”, compartilha.
A importância das narrativas que se conectam com a realidade do público também foi destaque na fala de Ederson Dé Manoel, founder no Code School, que reforçou o valor da cultura nordestina como ativo de comunicação. “O Nordeste tem uma riqueza cultural gigante, mas que ainda não é tão acessível para outras regiões. Contar uma boa história é o caminho para levar essa cultura, a informação, o conhecimento, o entretenimento”, afirmou.
Para Ederson, as tecnologias de IA entram como suporte nesse processo, ajudando a tornar as narrativas mais acessíveis e envolventes. Ele reforça que, no cenário atual, quem não souber utilizar a inteligência artificial será inevitavelmente engolido. “Uma coisa é o que a gente quer dizer, outra coisa é o que o outro escuta. E aí entra a importância da clareza, da sensibilidade. Não se trata de substituir o humano, mas de potencializar nossas habilidades. A IA é uma aliada na construção de mensagens mais eficazes, ignorá-la é se tornar irrelevante”, destaca.
Conectando criatividade, mercado e futuro
A profissional de marketing digital Natália Santos, digital team leader da agência Trilha Propaganda, também chamou atenção para o papel da IA como ferramenta de apoio, e não como substituição da criatividade humana. “A IA está aí para facilitar, mas não para criar no nosso lugar. A sensibilidade, o olhar criativo, a capacidade de interpretar e conectar são atributos humanos. E isso ainda faz toda a diferença no mercado, especialmente aqui no Nordeste, onde o toque humano na comunicação é muito forte”, afirma.
Ela também destacou o papel dos profissionais mais experientes na orientação dos mais jovens quanto ao uso responsável e estratégico dessas ferramentas. “Os profissionais ainda estão aprendendo a lidar com isso, principalmente os mais jovens, que estão começando agora e tentando entender até onde a IA pode ajudar. Quem já está há mais tempo no mercado, acaba tendo um papel muito importante nesse processo. A gente precisa ajudar, orientar, mostrar que a IA é uma aliada, mas que o trabalho continua sendo nosso”, complementa Natália.
O redator e roteirista da Trilha Propaganda, Eddie Azevedo destacou a importância de entender que cada marca tem uma demanda única, e por isso, as soluções criativas precisam ser construídas sob medida. “Em comunicação não existe fórmula pronta. Cada marca tem seu próprio problema, e para cada problema existe um contexto específico, que depende do público”, afirmou. Para ele, o diferencial da Trilha está exatamente na forma como valoriza a identidade regional. “O sergipano quer se ver representado, quer se identificar, e a gente tem trabalhado muito para isso. As nossas campanhas exalam essa identidade local”, ressalta.
Ao falar sobre o uso da inteligência artificial nos processos criativos, Eddie trouxe um olhar estratégico. “A IA ajuda sempre, mas é preciso saber até onde ela pode ir. Eu costumo dizer que o Storytelling é o macro, uma visão mais ampla. A IA te mostra o caminho mais rápido, mas se você não souber para onde quer ir, não tem IA que resolva. A direção da história precisa ser sua. A IA é só uma ferramenta para otimizar o processo”, complementa.
Formação contínua
Entre os participantes do evento, o interesse pelo tema foi evidente. A estudante de jornalismo Rívia Rodrigues contou que se inscreveu por curiosidade, mas acabou se surpreendendo com a qualidade dos debates. “Eu sei bem pouco sobre Inteligência Artificial. Vi nessa oportunidade uma chance real de aprender mais, e, para mim, tem sido surpreendente. Hoje a gente sabe que existem ferramentas como o ChatGPT e outras IAs que escrevem, às vezes até melhor que os humanos. Quero aprender a usar isso a meu favor”, finaliza.
Essa já é a quarta edição do Midialogo, que mais uma vez se consolidou como um dos eventos mais relevantes da área de comunicação. A programação registrou lotação máxima, com todas as vagas esgotadas ainda no dia anterior ao início das atividades. Para ampliar o acesso ao conteúdo e envolver um público ainda maior, o evento também foi transmitido ao vivo pelo YouTube, e a gravação está disponível para o público no canal oficial da instituição.
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