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Projeto de IC contribuiu com inovação na produção de derivados do leite

Pesquisa realizada com a participação de alunos de Engenharia Química desenvolveu dois processos para extrair a lactose do leite e do soro, contribuindo para a produção de produtos com baixo teor de lactose, além de aditivos para a indústria

às 15h37
As soluções desenvolvidas na pesquisa atendem a demandas da indústria de produção de leite, ampliando suas possibilidades de mercado (Divulgação/Seagri-SE)
As soluções desenvolvidas na pesquisa atendem a demandas da indústria de produção de leite, ampliando suas possibilidades de mercado (Divulgação/Seagri-SE)
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A busca por processos que aperfeiçoam a produção de derivados do leite, ampliando as possibilidades de sua indústria, foi o caminho da iniciação científica para a pesquisadora Lorena Armando da Silveira, egressa da graduação em Engenharia Química e atual aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP), da Universidade Tiradentes (Unit). Ela fez parte da equipe que desenvolveu um processo inovador de obtenção de produtos com baixo teor de lactose. 

O trabalho foi realizado entre 2019 e 2020 por professores e alunos de iniciação científica da Unit, ligados ao curso de Engenharia Química e ao PEP, sob orientação da professora-doutora Cleide Mara Faria Soares, do PEP. Ele contou com apoio técnico e logístico do Instituto de Pesquisa e Tecnologia (ITP), do Instituto Federal de Sergipe (IFS) e da Universidade Federal de Sergipe (UFS), mais o financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec). 

Lorena lembra que cursava o sexto período da graduação e foi convidado por um colega do curso a època, o também doutorando do PEP Jônatas Levi Barbosa, para conhecer o processo de pesquisa desenvolvido pelo grupo, que já trabalhava no desenvolvimento de produtos com teor reduzido de lactose e no aproveitamento sustentável do soro do leite, um resíduo proveniente da indústria queijeira. Ao entrar para a equipe, alguns resultados do projeto já haviam sido alcançados e a então aluna passou a colaborar com o tratamento dos dados obtidos e o planejamento de novas etapas experimentais e atividades complementares. 

“A partir desse convite, passei a integrar a equipe e, ao realizar uma pesquisa mais aprofundada sobre o tema, percebi sua grande relevância social e ambiental. Além disso, o projeto representava uma oportunidade concreta de contribuir com uma solução inovadora para um problema real da indústria láctea. Também me chamou atenção a possibilidade de aplicar, na prática, diversos conceitos teóricos aprendidos ao longo do curso, o que tornou a experiência ainda mais enriquecedora e motivadora”, contou Lorena, que também participou da elaboração de uma cartilha informativa para a divulgação dos resultados, voltada ao público em geral. 

Esta cartilha informativa, publicada em 2021 pela Editora Universitária Tiradentes (Edunit), destaca a proposta de aproveitamento integral do leite com foco na valorização de subprodutos e na transferência de tecnologia como estratégia para promover inovação e sustentabilidade na cadeia produtiva de alimentos. “O que mais me atraiu para este ramo da ciência foi a possibilidade de contribuir para a sustentabilidade industrial e a inovação tecnológica, aplicando conhecimentos científicos diretamente na solução de desafios reais da sociedade”, diz ela.

Como funcionam

Em processos convencionais, a extração de componentes do leite é realizada por técnicas como filtração, centrifugação e coagulação. Já a pesquisa desenvolvida na Unit aplicou duas metodologias alternativas, baseadas em rigor técnico-científico. A primeira envolve os SAB (Sistemas Aquosos Bifásicos), métodos de separação que usam duas fases líquidas, geralmente compostas por polímeros e sais específicos que permitem a separação seletiva da Whey Protein (proteína do soro) e da lactose. Ela também utiliza a técnica de precipitação seletiva para favorecer a concentração proteica sem precipitar a lactose. 

Já a segunda consiste nos Polímeros Impressos Molecularmente (PIM), materiais específicos com colunas de adsorção que retêm seletivamente as moléculas-alvo, como a lactose, resultando em um leite com baixo teor do componente. “A partir desse leite, foi produzido um queijo tipo coalho adaptado às necessidades de consumidores intolerantes à lactose, seguindo um protocolo validado experimentalmente”, detalha Lorena, acrescentando que “é possível obter outros produtos lácteos com baixo teor de lactose, como queijos e bebidas lácteas”.

Ainda de acordo com a pesquisadora, o projeto conta com uma patente depositada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), contemplando todo o processo tecnológico, desde a recuperação da lactose presente no leite até a obtenção de Whey Protein a partir do soro, utilizando as tecnologias PIM e SAB.

Além de ampliar o acesso e as opções de produtos para consumidores com restrições alimentares, o estudo desenvolvido na Unit apontou outra possibilidade de mercado para as indústrias: a recuperação e reaproveitamento da lactose extraída na produção de aditivos para os setores farmacêutico, alimentício e cosmético. “Isso promove geração de emprego e desenvolvimento local, especialmente em torno dos arranjos produtivos regionais. Considerando que o Brasil importa grande parte da lactose utilizada, essa solução representa um avanço estratégico rumo à autossuficiência e à valorização de tecnologias nacionais”, considera Lorena, destacando que a pesquisa promove práticas sustentáveis, reduzindo o desperdício de resíduos industriais.

Horizontes abertos

Após a conclusão do projeto de iniciação científica, Lorena concluiu a graduação e ingressou no mestrado pelo PEP, na própria Unit, onde desenvolveu uma pesquisa sobre a determinação da solubilidade de gás carbônico (CO2) em água utilizando espectroscopia no infravermelho próximo. Ela deu continuidade a esta linha de investigação no doutorado, iniciado recentemente. Para a pesquisadora, estes caminhos foram abertos a partir dos conhecimentos e experiências que adquiriu durante o projeto que participou na graduação. 

“A iniciação científica foi uma experiência transformadora. Abriu horizontes acadêmicos e profissionais muito além da sala de aula, proporcionando aprendizado prático, domínio de novas técnicas, contato com profissionais experientes e um entendimento mais profundo sobre gestão e inovação em projetos de pesquisa. E a Unit foi fundamental na minha formação, oferecendo infraestrutura adequada, orientação qualificada, apoio logístico e financeiro através dos projetos de Iniciação Científica e colaboração com importantes centros de pesquisa como o ITP, o que proporcionou crescimento profissional e pessoal”, concluiu ela.

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