Texto: Álvaro Müller / Fotos: Marcelo Freitas
A sociedade sergipana precisa, urgentemente, se voltar para a realidade da educação em Sergipe, analisar seus problemas e discutir soluções. O chamamento é do secretário de Estado da Educação, professor Jorge Carvalho do Nascimento. Em palestra ministrada nessa segunda-feira, 23, para alunos do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes, Carvalho apresentou dados alarmantes, tanto na rede pública quanto na particular.
O índice de analfabetismo em Sergipe, segundo dados da Oscip Todos Pela Educação, era de 16.9% em 2013 – praticamente o dobro da média nacional, 8.5%. “Significa dizer que cerca de 280 mil sergipanos, com 15 anos ou mais, eram analfabetos. Isso é gravíssimo, chocante. De 1992 a 2013, o Nordeste reduziu sua população analfabeta em 15%. Sergipe reduziu em 10%. E o mais preocupante é que, em 2011, tínhamos menos analfabetos do que em 2013. Ou seja, se não acordarmos, há uma tendência de que o analfabetismo volte a crescer e vale ressaltar que eu não contabilizo aqui o analfabetismo escolar, de pessoas que concluem o ensino médio despreparadas”, analisa Jorge Carvalho.
O secretário de Estado da Educação também apresentou dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), calculado pelo Ministério da Educação a partir da taxa de rendimento escolar e médias de desempenho nos exames padronizados aplicados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Em 2005, quando Sergipe calculou o Ideb do ensino fundamental pela primeira vez, de acordo com desempenho de alunos do quinto ano, a nota da rede estadual foi de 3,0. Em 2013, chegou a 4,1 e a meta é obter nota 5,3 em 2021, o que ainda estaria muito aquém dos 7,0 estipulados como o mínimo aceitável pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), composta por 34 países, que objetiva promover políticas públicas voltadas para o desenvolvimento econômico e o bem-estar social.
Esses dados fazem do Ideb do ensino fundamental, na rede estadual de ensino em Sergipe, o sexto pior do Brasil, à frente apenas da Bahia, Rio Grande do Norte, Amapá, Alagoas e Pará. Já a rede particular registra um índice de 6,1, mais alto do que os 5,3 que a Secretaria de Estado da Educação tem como meta para daqui a seis anos. Jorge Carvalho acredita que esta diferença impulsiona a expansão do ensino privado.
“As famílias querem seus filhos melhor preparados, melhor qualificados. Mas se verificamos a posição da o ensino fundamental particular sergipano no ranking nacional, temos a terceira pior escola privada do Brasil, à frente apenas do Maranhão e da Paraíba. Ou seja, ninguém está bem em Sergipe. Ou nós refletimos sobre os problemas, ou afundaremos e feneceremos todos juntos”, alerta o secretário.
Exclusão social
Outro grave problema apresentado por Jorge Carvalho durante a palestra na Unit foi o alto índice de jovens que não chegam ao Ensino Médio em Sergipe. Em 2014, segundo dados do Censo Escolar (Inep/MEC), 62% das matrículas no Estado eram do ensino fundamental e apenas 14% do ensino médio. O principal gestor da educação pública em Sergipe já busca o diálogo com setores estratégicos da sociedade para mudar este cenário.
“Procurei a Federação Nacional de Estabelecimentos Particulares de Ensino, conversei coletivamente com os secretários municipais de Educação, tenho dialogado com prefeitos, dirigentes de escolas, grupos de professores, entidades da sociedade civil organizada como o Rotary Club e outras instituições. Tenho tido uma boa receptividade no sentido de que precisamos fazer com que as pessoas tomem consciência do problema”, afirma Jorge Carvalho.
Palestra na Unit
Segundo a diretora de Pesquisa da Universidade Tiradentes, professora Ester Fraga Vilas-Bôas, a palestra do secretário Jorge Caravalho do Nascimento estreita ainda mais o diálogo entre a Unit e o Governo do Estado. “O Plano Nacional de Pós-Graduação determina que as 48 áreas da Capes intervenham na educação básica no Brasil, exatamente para verificarmos os dados no Estado em que trabalhamos e ajudarmos a melhorar esse quadro”, ressalta Ester.
Para a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unit, professora Simone Amorim, é inconcebível um mestre ou doutor que não tenha conhecimento da situação educacional do Estado onde ele atua. “Muitas vezes a pessoa se envolve muito em sua própria pesquisa e não consegue ampliar os horizontes do conhecimento. Por isso, a presença do secretário Jorge Carvalho significa muito, pois é uma oportunidade ímpar de sabermos, da fonte, como está a educação em Sergipe”, analisa.
O mestrando em Educação pela Unit, Caio Guimarães, também reconhece a importância de dialogar com o professor Jorge Carvalho. “Para nós, que pesquisamos educação, conhecer a realidade da área a partir de uma palestra do secretário é fundamental, pois ouvimos do gestor responsável a situação do nosso próprio objeto de pesquisa. Não importa o tema de mestrado ou doutorado, todos vamos trabalhar de alguma forma com a educação sergipana”, diz.