A mangaba é considerada há muitos anos como um dos símbolos mais representativos de Sergipe, em sua culinária e na identidade de seu povo. O fruto, conhecido pelo nome científico Hancornia speciosa, é uma das mais produzidas e mais apreciadas pelo público, principalmente em forma de sucos, polpas, sorvetes, mousses e outras receitas culinárias. No entanto, ele também pode servir como base para o desenvolvimento de outros produtos, como medicamentos e cosméticos. Este é um caminho que vem sendo seguido há muito tempo por pesquisadores que atuam nos programas de pós-graduação stricto sensu da Universidade Tiradentes (Unit).
Um dos principais atrativos da mangaba para indústria farmacêutica e cosmética para está em sua composição natural, rica em polímeros e moléculas ativas, que possui propriedades cicatrizantes. “Isso tem sido o foco de pesquisas científicas em nossa Universidade, e proporciona o desenvolvimento de produtos inovadores, que podem ser aplicados no tratamento de feridas e a regeneração da pele”, afirma a professora Juliana Cordeiro Cardoso, do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Industrial (PBI).
Ela lidera um grupo de pesquisa do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), dedicado a estudos sobre a extração e avaliação da ação e toxicidade de produtos naturais para a incorporação como substâncias bioativas em diferentes áreas. Ele é formado por professores e pesquisadores ligados ao PBI e ao PSA (Pós-Graduação em Saúde em Ambiente).
O trabalho do grupo alcançou um marco significativo para o mercado farmacêutico: o desenvolvimento de uma membrana cicatrizante inovadora, baseada nos polímeros e moléculas ativas do fruto da mangabeira. “Este produto apresentou eficácia na promoção da cicatrização de feridas e resultou na obtenção de uma patente concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2023. Este feito atesta a originalidade e o potencial terapêutico da nossa invenção e destaca a importância da pesquisa aplicada e da colaboração interinstitucional”, explica Juliana.
A professora acrescenta que, além do setor farmacêutico, a mangaba tem encontrado espaço no mercado cosmético. Um exemplo vem da Saboaria Marvan, empresa sergipana que atua no segmento de cosméticos e incorporou a mangaba na produção de sabonetes artesanais. “Esta iniciativa diversifica o uso do fruto e contribui para a valorização de produtos naturais e sustentáveis. A participação da Saboaria Marvan no Programa Centelha, que apoia pequenas empresas inovadoras, evidencia o potencial da mangaba como um insumo para o desenvolvimento de novos produtos”, destaca.
Estas possibilidades de uso abrem novos caminhos de desenvolvimento econômico para as comunidades e regiões que vivem da extração do fruto. Esta produção é realizada de modo extrativista, predominantemente por mulheres, conhecidas como catadoras de mangaba, organizadas em comunidades e presentes principalmente em regiões dos municípios de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Pirambu, Japaratuba, Estância e Indiaroba. Na pesquisa Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS), divulgada em 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nosso estado aparece como o segundo maior produtor de mangaba do país, com 372 toneladas que renderam cerca de R$ 1,3 milhão em rendimentos.
Juliana Cardoso assevera que a importância de agregar valor à cadeia produtiva da mangaba vai além do aspecto econômico. “No estado de Sergipe, as mulheres catadoras de mangaba representam um símbolo de resistência e perseverança. A valorização da mangaba e sua transformação em produtos inovadores têm um impacto social significativo, promovendo a inclusão e o desenvolvimento sustentável. A bioeconomia, que se baseia no uso sustentável de recursos biológicos, como a mangaba, oferece uma oportunidade única para o desenvolvimento do estado de Sergipe, impulsionando a economia local e promovendo a conservação ambiental”, destaca a professora.
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