“Meu ciclo começa a ser encerrado, mas vou fazer esse encerramento de ciclo com a mesma disposição que eu comecei”. E assim segue hoje a vida do contabilista Anderson Rego Siqueira, que ao completar 81 anos de idade, neste dia 8 de outubro, mantém-se diariamente em suas funções na Universidade Tiradentes (Unit), assim como faz desde que entrou para a instituição, há 37 anos. Desde o começo do expediente, entre 8h e 9h da manhã, ele pode ser visto no DAAF (Departamento de Assuntos Acadêmicos e Financeiros), no Campus Farolândia, onde hoje é gerente da área financeira e faz principalmente o que mais gosta: conversar com pessoas.
Entre as centenas de pessoas com quem lida diariamente, entre colegas de trabalho, gestores, estudantes e clientes, muitos são ex-alunos do professor Anderson, que lecionou no curso de Ciências Contábeis durante 29 anos, entre 1986 e 2015. Até hoje, são constantes as lembranças, gestos e palavras de respeito, gratidão e admiração pelas lições ensinadas. Seja sobre teorias, cálculos e leis, seja sobre conselhos e experiências de vida que ainda costuma passar para as pessoas.
Uma delas é a de sempre preservar a harmonia entre o grupo que faz parte, seja de alunos ou de colegas de trabalho, sem deixar de lado valores como ética, empatia e respeito. “Se você tiver harmonia com o grupo, tudo vai correr tranquilamente. Em sala de aula, eu era tido como exigente, como ‘casquinha’, mas nunca tive um problema com aluno em sala de aula. Sempre fui respeitado, porque sempre os respeitei. No trabalho, na parte administrativa, me dou com essa turma toda, e sempre estamos descontraindo, porque não adianta, estando numa função de gerência, você querer pisar, maltratar quem está embaixo. Eu sempre acho que são meus colegas, que hoje eu estou aqui e amanhã quem pode estar aqui no meu lugar é ele”, observa.
Trajetória e experiência
Nascido em Maruim, no interior do estado, Siqueira é um dos colaboradores mais idosos em atividade na Unit, destacando-se como um dos profissionais mais experientes. E essa experiência foi sendo adquirida ao longo do tempo, desde que começou a trabalhar no comércio de Aracaju, como office-boy, em 1961. Do primeiro emprego, dois anos depois, foi para uma agência do Bradesco, onde ficou por 13 anos, e passou por outras empresas da cidade, ao tempo em que se formou como técnico de contabilidade.
Em 1970, ele foi aluno do curso técnico de Administração, ministrado pelo então Colégio Tiradentes, e passou a ficar mais próximo do fundador, o professor Jouberto Uchôa de Mendonça. O reencontro dos dois, nos idos de 1977, foi marcante para que ele desse uma virada na sua formação acadêmica. Uchôa, que já o conhecia do Bradesco, incentivou-o a prestar vestibular para o curso de Ciências Contábeis na Faculdade Tiradentes (Fits), que surgiu do antigo Colégio.
Por volta de 1985, três anos depois de se formar, Anderson foi convidado pelo então coordenador do curso, Mário Artur, para assumir como professor em uma das cadeiras. Ficaria para cobrir férias, mas acabou ficando em definitivo, lecionando nos cursos de Ciências Contábeis, Administração, Economia, Turismo e Informática. Dez anos depois, foi chamado para fazer um levantamento completo sobre a situação contábil e financeira da Fits, a essa altura já reconhecida como Universidade.
O relatório, concluído após um trabalho de três meses, rendeu-lhe um convite do professor Uchôa para assumir a contabilidade da instituição, que quase foi recusado. “Porque o contador da época, o Ednilson, já estava aqui há 10 anos e, naquele momento, estava sendo meu aluno no curso superior. Então, eu achei que não era ético da minha parte substituir ele. Foi criado o cargo de gerente contábil e daí fizemos uma parceria: eu era o gerente da contabilidade, ele era o contador, nos ajudamos e nos damos bem até hoje”, relata Anderson. E continuam como colegas da mesma empresa.
Disposição e orgulho
A disposição para se manter nas atividades diárias vem também dos cuidados com o corpo. Diariamente, o professor faz caminhadas e exercícios físicos, além de manter uma alimentação equilibrada. Mas outro segredo, segundo ele, é lidar bem com pessoas. “Eu gosto de estar em contato com as pessoas. Isso me dá uma energia que você não imagina. E, lhe sou sincero, eu ainda não sei o que é cansaço”, garante.
Além de manter-se como colaborador da instituição, Siqueira viu seu filho Elito seguir os mesmos passos na carreira profissional, tendo ele como aluno de Ciências Contábeis na Unit. Hoje, ele está na área financeira de uma empresa de participações e faz pós-graduação em Finanças Corporativas. Ele tem ainda duas netas, sendo que a mais velha está no sexto período do curso de Psicologia. “Eu me orgulho muito de ter minha neta estudando aqui. É continuidade, porque o pai estudou aqui, a mãe dela estudou aqui e ela está estudando aqui, e o avô estudou aqui, que sou eu”, acrescenta, com satisfação.
Essa satisfação mistura-se ao orgulho de sua trajetória, que se entrelaça com a história da Unit, a ponto de ser identificado facilmente como parte da instituição. “Eu digo que a Unit representa tudo na minha vida. A coisa que mais me satisfaz, que enche o meu ego, é quando alguém diz: ‘Esse cara trabalha na Unit!’”, diz ele, descrevendo ao repórter que este orgulho vem muitas vezes pelo encontro diário com seus milhares de ex-alunos. “Aquele rapaz que levantou quando eu cheguei foi meu aluno. Você viu a satisfação dele ao me dar um abraço? Constantemente eu recebo isso. Então, eu só posso me orgulhar dessa instituição”, concluiu o veterano, do alto dos seus 81 anos bem-vividos.
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