“As pessoas normalmente têm uma visão completamente desvirtuada em relação ao processo adotivo. Muitas pensam que a gente tá fazendo um bem. Mas, na verdade, foi uma escolha e que aquela criança está satisfazendo mais bem a gente do que a gente a ela. Ser pai, pra mim, é energia. Eu sou agraciado porque tenho três baterias que me dão força. Eu consigo dormir tarde e acordar cedo sem reclamar. Ser pai é isso, é ter energia. Elas são energia, força, e contribuem para o dia a dia da gente, em todos os sentidos”, revela Igor Libertador, professor de Design Gráfico da Universidade Tiradentes.
A declaração acima é de um pai que optou por passar, duas vezes, pelo processo adotivo, além de ser surpreendido, pouco tempo depois, com a chegada de uma terceira filha. O professor Igor Libertador é casado, tem duas filhas adotivas e uma biológica com sua esposa. O interesse pela adoção começou desde criança. O professor recorda que questionava a mãe sobre a possibilidade dela adotar uma criança. “Eu acho que a vontade de ser pai começou nesse momento. Eu não sabia o que era ser pai. Naquele momento, não tinha consciência da paternidade. Mas, eu sabia que quando eu tomei a decisão de ter minhas filhas, eu estava preparado. Em todos os sentidos”, evidencia.
A primeira adoção ocorreu há dez anos. O professor estava dando aula na Universidade Tiradentes quando o assistente social entrou em contato para avisar que havia uma criança para ele e a esposa conhecerem. “Quando eu cheguei pra ver a criança, no interior, foi amor à primeira vista. A partir do momento que teve esse fato, foi aquele sentimento de pertencimento, realmente, da paternidade. Eu costumo dizer que o processo adotivo é inverso. A felicidade é completamente diferente. A vinda dela fez muito mais bem pra mim do que eu pra ela”, destaca.
O professor Igor Libertador se emociona ao memorar os três momentos igualmente importantes de sua vida: a adoção das duas filhas e a chegada de sua filha biológica, que é a mais nova das três. A descoberta da gestação da filha biológica só ocorreu no quinto mês, despertando a surpresa para o pai e a mãe. O trio oportunizou felicidade plena e garantiu o desenvolvimento de um comportamento importante para a exitosa relação familiar e social: o altruísmo.
“Muito diferente do que as pessoas acham desse sentido, de que ser pai é ruim, vai perder tempo, por exemplo, o sentimento que eu tenho é que eu evoluo e cresço cada vez mais. Eu mudei. Sinto que houve uma evolução, principalmente na percepção, no sentimento, no cuidado, na sensibilidade da gente perceber o que um outro ser precisa. Eu tive que aprender tudo e desaprender tudo. A gente começa a mudar o pensamento, a forma de agir. A gente começa a tirar a forma de pensar do eu e começa a pensar em elas. A partir do momento que elas chegaram eu tento promover o bem estar. Eu penso mais no outro, no próximo, isso foi uma das maiores mudanças”, expõe.
Pai e o seu despertar
Voltando ao tempo da infância, o professor Igor Libertador recorda que sempre solicitava à sua mãe que ela o ensinasse a fazer ovo. Contudo, sua mãe não o ensinava, ela mesma fazia o ovo para ele. Essa vivência despertou, em sua consciência, que as funções no âmbito familiar devem ser compartilhadas e não segmentadas pelo viés do que é dever do homem e dever da mulher.
“Aqui em casa não tem uma função definida. A função é aquela que a gente sente vontade naquele momento e faz. Tem dias que eu cozinho, em outros lavo os pratos… A gente é uma família que tenta demonstrar pras meninas o pensamento da questão do sexo, ser homem ou mulher, não tira nem coloca o direito nem o dever de ninguém. Então, elas vêem o pai usando rosa, porque o homem usa rosa. O homem lava o prato. Para elas isso é muito engrandecedor porque gera a referência. Eu acredito que a pessoa que eu vou ser no futuro depende daquilo que eu vivencio naquele momento presente ou passado. Eu nunca pedi pras minhas filhas darem bom dia pra ninguém. Elas o dão naturalmente porque ouvem a mãe e o pai dando bom dia. O melhor de tudo é saber que eu e a mãe somos referência nesse processo”, expressa o professor Igor.
A referência e a educação são prioridades na família do Igor Libertador. Ela busca, dessa forma, garantir que as filhas tenham consciência de que elas são capazes de alcançar seus objetivos e, principalmente, que ninguém pode menosprezar ou diminuí-las por serem que são nem por suas escolhas. O necessário, para ele, é ter ou criar possibilidades para que o sonho se torne real.
“Cada pai tem seu contexto, experiência e vontades. Para os pais e futuros pais, eu digo: deixem acontecer. Acredite em você, que você vai conseguir. Não querendo dizer qual a melhor forma de educar um filho, mas existe uma linha que pode trabalhar, que é não educar seu filho separando entre homem e mulher. Independente do sexo, ou da opção, vai ser sempre filho, filha… Eu tenho trabalhado muito a questão do empoderamento. Ele não está só na questão da cor, mas de que todos são capazes, têm o mesmo direito, a gente só precisa dar a chance. Se você tiver um filho, dê chance a ele. Cor não tem sexo. Esporte não tem sexo. Sexo não tem sexo. Acredite em você e acredite nos seus filhos”, completa o professor Igor Libertador.