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Copa do Mundo Fifa 2014 é tema de conferência na Unit

Ao realizar conferência na noite dessa quarta-feira, 30, no Teatro Tiradentes, a economista sul-africana Zahira Asmal estimula plateia universitária a refletir sobre o que está por trás de megaeventos esportivos.

às 17h52
A palestrante ladeada pelos professores Ricardo Mascarello e Gilton Kennedy, coordenador de Extensão
Palestrante revela as mudanças ocorridas no seu país com o mundial de 2010
Público discute questões pertinentes e abordam o tema com preocupação
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Palestrante revela as mudanças ocorridas no seu país com o mundial de 2010

Palestrante revela as mudanças ocorridas no seu país com o mundial de 2010

A vigésima edição do campeonato mundial de Futebol FIFA de 2014,  que será disputada por seleções de 32 países em 12 Estados a partir do dia 12 de junho, tem sido motivo de manifestações favoráveis e contrárias por parte da população brasileira. Os que se dizem contrários, levam em consideração os custos estratosféricos das obras dos estádios que vão sediar as partidas de futebol, fato que por si só gera expectativa de consequências nefastas para o país após o certame e que sobrepõe questões como espaço urbano, mobilidade, entre outras.

Para abordar o assunto a partir da comparação entre a Copa do Mundo Fifa 2010, realizada na África do Sul e a Copa do Brasil 2014, a coordenação do curso de Arquitetura da Unit, em parceria com a  Diretoria de Pesquisa e Extensão/PPED Unit, elaborou o Seminário Internacional Design, Cidades e Megaeventos Esportivos e trouxe para discutir questões pertinentes a economista sul-africana Zahira Asmal. É ela a responsável por moldar e fundar a organização sem fins lucrativos Designing_South Africa.

Momentos antes do início da conferência que despertou a atenção e o interesse de toda a plateia, Zhaira, de forma muito solícita, manifestou suas opiniões a cerca do tema.

– Houve muito uso de dinheiro público na construção de estádios para a Copa da África?

Toda a estrutura para a Copa na África do Sul foi paga pelo governo.

– As obras estruturantes para o Mundial 2010 foram entregues a contento?

Sim, todas elas.

Público discute questões pertinentes e abordam o tema com preocupação

Público discute questões pertinentes e abordam o tema com preocupação

– A Copa do Mundo ajudou no desenvolvimento do país? Sobretudo na questão de infraestrutura das cidades?

Realmente a Copa do Mundo fez a estrutura funcionar para ela. Mas como aconteceu antecipadamente, os cidadãos estão utilizando esse espaço. Mesmo a estrutura pública que antes não existia, o sistema viário se tornou mais eficaz em decorrência da Copa do Mundo e hoje é utilizado pelos cidadãos. A estrutura está facilitando a vida das pessoas.

– O que foi feito para que os estádios não se tornassem um elefante branco no pós Copa?

O estádio Soccer City em Johanesburgo é utilizado de forma mista. Ali acontecem eventos musicais e políticos. Porém, na Cidade do Caboaonde o Cape Town Stadium, foi feito justamente para a Copa, em razão das leis, ainda antigas, não existe uma utilização proativa do espaço. É necessário o estudo de uma forma de melhor utilização porque se torna realmente um espaço inativo para qualquer fim. Em Johanesburgo isso acontece, mas tem de se pensar numa forma da não transformar num elefante branco como você se referiu.

– O futebol sul-africano cresceu depois da Copa do Mundo? Oferece melhor estrutura para o torcedor?

É importante fazer aqui um histórico do que representou a Copa do Mundo para a África do Sul. Tivemos o apartheid que ainda deixou rastros e como o futebol não é o esporte mais importante para os sul africanos, o futebol era visto como um esporte para negros, por isso era deixado de lado. Com o advento da Copa do Mundo, começaram a investir no esporte, mas, ele ainda suscita melhorias até mesmo para que haja mais adesão. Contudo, com a realização do certame, como todas as luzes se voltaram para o futebol, existe uma grande quantidade de pessoas que já são favoráveis a esse esporte.

– Como você tem observado a organização do Brasil para a Copa do Mundo?

Quando visitei o Brasil há dois anos, senti um clima de apatia na população. Agora sinto um clima de negatividade. Se compararmos essa mesma época do ano com 2010 na África do Sul, era visível nas ruas das cidades pessoas com as suas bandeiras nos espelhos dos carros, todo mundo animado.  E isso não era porque seria feito um grande trabalho no caso os jogadores, porque o futebol não é o primeiro da lista e sim, para receber todos os visitantes e também não é porque a sociedade estava muito favorável ao investimento ou porque o governo estivesse fazendo um bom trabalho. Não! Eles tinham também as suas críticas em relação a inúmeras questões. Mas o importante era recepcionar as pessoas. Proporcionar um clima de festividade em decorrência da Copa do Mundo. Enquanto que aqui no Brasil se observa uma negatividade no ar.

A palestrante ladeada pelos professores Ricardo Mascarello e Gilton Kennedy, coordenador de Extensão

A palestrante ladeada pelos professores Ricardo Mascarello e Gilton Kennedy, coordenador de Extensão

– O Brasil não vai entregar praticamente nenhuma obra estruturante prometida. Aconteceu algo parecido na África do Sul?

Ao contrário, toda a estrutura prometida pelo governo foi entregue a contento. Dois anos, houve sim, atrasos, preocupações… Porém, em dezembro de 2009, ainda no período em que estavam sendo realizados os sorteios, todos os estádios, assim como os parques e todo o espaço público de transporte já havia sido entregue a contento.

– Por fim, a Copa foi lucrativa ou deu prejuízos para o país?

Nas contas da Fifa, foi a Copa mais lucrativa. Atém mesmo que a Alemanha. A Fifa só saiu ganhando com isso. Do ponto de vista governamental, houve investimento muito alto de quatro bilhões de dólares americanos, mas, se comparado com os Jogos Olímpicos realizados em Begin, foi um bom investimento. Além desses quatro bilhões a África do Sul investiu para ter estações de trem, rodovias e muitas outras infraestruturas além do que era solicitado para a realização do evento de tão grande porte no país.  Foi positivo, sim!

Os temas tratados pela palestrante durante entrevista, suscitaram  dúvidas na plateia formada por estudantes e profissionais das áreas da Arquitetura e Urbanismo, Design Gráfico, Educação Física, Comunicação, Administração, Economia. Temas como os impactos da construção desses grandes equipamentos no desenho urbano das cidades, megaeventos e suas contribuições para o business esportivo, identidade, cultura, turismo e design urbano foram amplamente discutidos.

O encontro revelou uma excelente oportunidade de troca de opiniões entre a comunidade acadêmica e a conferencista que aproveitou para compartilhar conhecimentos e experiências vivenciadas antes, durante e após a Copa do Mundo de 2010 e sobre as mudanças que a África do Sul sofreu com a realização do certame.

Zahira lembrou que em seu país a população apoiou integralmente a Copa e que não percebe isso no Brasil. “Estamos a poucos dias do primeiro jogo e não vejo motivação popular, talvez em decorrência de que aqui o evento esportivo partiu de uma decisão política e não do interesse da população”, pondera Zahira, lembrando que a ausência da participação civil no processo decisório é fato a ser considerado.

O coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unit, professor Ricardo Mascarello, reforça o pensamento da palestrante a partir da expectativa do evento e o que poderá ocorrer após a sua realização. “Nosso objetivo é promover uma discussão sobre como o megaevento que é a Copa do Mundo pode impactar nas cidades, com estádios, aeroportos, hotéis, serviços e equipamentos urbanos que surgem. É um desdobramento muito incisivo no desenho urbano da cidade e em um viés muito mais pós-Copa”, afirma.

 

 

Ao falar sobre o livro ‘Reflexões e Oportunidades: Design, Cidades e a Copa do Mundo’, de sua autoria, lançado após a conferência, Zahira Asmal justificou:

O livro, escrito no idioma inglês e no Português brasileiro responde a questionamentos como; O que estamos enfrentando aqui? Por que a Copa? Por que o Governo não investe para aliviar a pobreza ao invés de fazer esses grandes estádios? Essas mesmas perguntas que vocês suscitam, nós também tínhamos. Percebi então que era uma grande oportunidade de fazer essas informações circularem. Então convidei 50 editores, formadores de opinião atuantes em diversas áreas e fiz uma pergunta:

O livro traz informações com relação à democracia. Como é que as cidades se transformaram sob o ponto de vista humano, acadêmico, de mobilidade urbana e de moradia. E como o Brasil tem mais tempo de democracia do que a África do Sul que só tem 20 anos?

Procurei abrir esse diálogo para saber como é que os brasileiros com experiência democrática de mais tempo e que já está investindo em infraestrutura há mais tempo em áreas como saúde, habitação etc., pode contribuir para que a África se beneficie dessa democracia brasileira. A ideia é mostrar essa interatividade onde um país aprende com o outro. Do ponto de vista da Copa do Mundo, a África tem lições aprendidas a ensinar e do ponto de vista democrático o Brasil tem a nos ensinar nessa área de educação, saúde e tudo o que o governo tem de constitucionalmente proporcionar aos cidadãos brasileiros e que pode servir de espelho para os cidadãos africano.

 

Fotos – Marcelo Freitas

Colaboração – Thiago Barbosa (Globo Esporte/SE)

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