A área de exatas, em especial a matemática, historicamente tem sido um terreno predominantemente masculino. Este cenário influencia diretamente a motivação e interesse das meninas em se envolverem com essas disciplinas.
A falta de representatividade gera uma imagem estereotipada da mulher, muitas vezes associada a fragilidade e sensibilidade, desencorajando o desenvolvimento do raciocínio lógico e abstrato. A psicóloga e professora da Universidade Tiradentes (Unit), Ana Karolina Nunes Silveira, pontua que a representatividade é um meio de quebrar esse padrão de pensamento.
“Socialmente somos construídos através da cultura e crença de um determinado povo. O machismo é uma das manifestações resultantes dessa relação, contudo a matemática sendo uma área de predominância masculina, reforça a imagem que temos do feminino (frágil, sensível, incapaz de ser racional). Por isso a representatividade é um meio de quebrar esse padrão de pensamento, pois é através dela que percebemos que a mulher também é um ser racional, coerente e firme”, destaca.
Segundo dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA) no Brasil, apenas cerca de 20% dos profissionais registrados na área de engenharia são mulheres. Bem como, os dados da Sociedade de Computação (ACM) nos Estados Unidos, que mostra que apenas cerca de 20% dos graduados em ciências da computação eram mulheres.
Embora a participação das mulheres na matemática tenha aumentado ao longo dos anos, elas ainda são minoria em muitos contextos acadêmicos e profissionais. Dados da União Matemática Internacional (IMU) mostram que a representação das mulheres na matemática varia de país para país, mas geralmente é menor do que a dos homens.
Educação: um caminho para o empoderamento
A valorização da educação é um fator fundamental no processo de empoderamento das meninas. “A mudança é um processo que exige posicionamento crítico, e nos tornamos prontos a questionar e pensar criticamente sobre o mundo a partir da educação; processo que acontece além da escolarização”, reforça
Para mitigar os desafios enfrentados pelas meninas na área de exatas, a inserção de mulheres no ensino superior e em cargos de liderança se mostra como uma estratégia eficaz. A presença de referências femininas na área proporciona modelos a serem seguidos e encoraja a quebra de barreiras. “Além da inserção de mulheres no ensino superior, é importante tê-las também em cargos de liderança na área”, orienta.
O desencorajamento familiar também é um fator crítico que pode impactar diretamente o interesse e a dedicação das meninas. “Recebemos a influência de diversos fatores em nossa construção, um deles é a família (primeiro contato social), então ela exerce forte influência na formação de ideias, crenças e modos de enxergar o mundo do sujeito, porém esse não é o único”, pontua Ana Karolina.
Ambiente inclusivo
Promover um ambiente educacional inclusivo requer a presença de referências femininas na área. A psicóloga enfatiza a necessidade de professoras e profissionais que sirvam como modelo para as meninas, proporcionando um ambiente que estimule o interesse e a confiança nas disciplinas de exatas. “A partir da representatividade, precisamos de professoras, dentre outras profissionais na área que sejam referência”, relata.
O papel da sociedade é fundamental para apoiar e incentivar as meninas a superar os obstáculos e prosperar em áreas de exatas. “Somos seres sociais, existimos a partir de nossas relações, então a desconstrução social dessa ideia é importantíssima para legitimar a igualdade de gênero,” destaca Ana Karolina.
A representatividade e a educação emergem como peças-chave no empoderamento das meninas nas áreas de exatas. Superar os desafios e promover a inclusão requer esforços coletivos, desde a família até a sociedade como um todo. Com ações concretas e a valorização da educação, é possível trilhar um caminho de igualdade e oportunidades para as futuras gerações de meninas nas ciências exatas.
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