O descarte inadequado de medicamentos não só é um problema ambiental, mas também uma séria questão de saúde pública. Isso ocorre porque as substâncias químicas presentes nos medicamentos descartados de forma incorreta podem contaminar as fontes de água e contribuir para o desenvolvimento de bactérias resistentes, representando um risco significativo para a saúde humana e animal.
Segundo dados da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), cerca de 30% dos medicamentos comercializados no Brasil são descartados de forma inadequada. Esse problema, além de gerar impactos negativos ao meio ambiente, pode colocar em risco a saúde pública. A farmacêutica e professora da Universidade Tiradentes (Unit), Ingrid Borges Siqueira, explica os principais riscos do descarte inadequado.
“Medicamentos descartados em lixões ou despejados no vaso sanitário podem contaminar as fontes de água, pois os sistemas de tratamento de água nem sempre conseguem remover completamente os produtos químicos presentes nos medicamentos. Quando falamos de descarte inadequado de antibióticos, este pode contribuir para o desenvolvimento de bactérias resistentes. Além do risco de toxicidade para humanos e animais”, pontua.
Descarte e impactos negativos
A especialista destaca a importância da logística reversa como método seguro e ambientalmente responsável para descartar medicamentos vencidos ou não utilizados. “Esta ação pode ser feita em redes de drogarias ou postos de recebimento em unidades de atendimento à saúde. É importante ressaltar que existe uma diferença no descarte entre medicamentos sólidos, líquidos e injetáveis. Todos eles serão descartados nos pontos de coleta, em totem para descarte, separando somente as caixas ou bulas”, orienta.
Dessa forma, não só as farmácias desempenham um papel crucial na conscientização sobre o descarte correto de medicamentos. “Educação aos pacientes, fornecimento de instruções de descarte, programas de devolução de medicamentos e a disponibilidade de informações sobre postos de coleta são algumas das ações que podem ser realizadas pelas farmácias, segundo a especialista”, elenca Ingrid.
Os pacientes também podem identificar se uma farmácia oferece programas de devolução de medicamentos vencidos ou não utilizados através de:
- Pesquisas na internet
- Informações por profissionais de saúde
- Divulgação em mídias sociais
- Visita pessoal às farmácias ou drogarias
Os impactos ambientais negativos do descarte inadequado de medicamentos na água e no solo podem ser devastadores. “Podem gerar impactos como contaminação da água potável, toxicidade para a vida aquática, desenvolvimento de resistência antimicrobiana, contaminação do solo, afetando a qualidade do solo e a saúde das plantas. Impacto na biodiversidade, resultando na perda de habitats e na diminuição da diversidade de espécies de animais e vegetais”, pontua.
Existem regulamentações específicas ou diretrizes governamentais relacionadas ao descarte de medicamentos que os consumidores devem estar cientes:
- Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010
- Resolução 222, de março de 2018 (ANVISA)
- Resolução nº 358, de 29 de abril de 2005 (CONAMA)
- Decreto n.º 10.388 de junho DE 2020
Para minimizar o desperdício de medicamentos e evitar a acumulação de medicamentos não utilizados em casa, a especialista enfatiza algumas dicas. “Primeiramente, sempre se orientar com o Farmacêutico. Comprar somente o necessário para atender o tratamento, não fazer estoque de medicamentos, ficar atendo à data de validade, armazenar os medicamentos de maneira adequada para contribuir com a sua integridade e evitar compartilhar medicamentos ou a automedicação”, finaliza.
Leia também: Como a saúde bucal pode afetar a saúde mental, e vice-versa