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Dezembro Vermelho: tratamento e informação auxiliam pessoas que vivem com o HIV

Uso de medicamentos antirretrovirais e rotina de cuidados melhoram qualidade de vida de pessoas com o vírus, que se engajam na luta para disseminar informações e combater o preconceito

às 15h51
O símbolo da campanha Dezembro Vermelho, que marca a prevenção e a luta contra as IST, o HIV e a AIDS (Anna Shvets/Pexels)
O símbolo da campanha Dezembro Vermelho, que marca a prevenção e a luta contra as IST, o HIV e a AIDS (Anna Shvets/Pexels)
A página Infoposithivas, mantida no Instagram com informações sobre a convivência com o HIV
O médico Almir Santana, professor do curso de Medicina da Unit, que atua na luta contra o HIV desde 1987
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Depois do Outubro Rosa e do Novembro Azul, outra importante campanha de prevenção e atenção à saúde está em ação: o Dezembro Vermelho, que chama a atenção da sociedade para a prevenção contra as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e, principalmente, o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), agente causador da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Os trabalhos da campanha começam sempre no dia 1º de dezembro, data que marca o Dia Internacional de Luta contra o HIV/AIDS, e buscam disseminar o máximo de informações e esclarecimentos para prevenir a doença e combater tabus, mitos e preconceitos que ainda persistem em torno do assunto. 

Um dos principais é a confusão que muitas pessoas ainda fazem entre o HIV, que é o vírus, e a AIDS, que é a manifestação da doença causada pelo vírus. “Quando a pessoa diz que tem HIV, ela o detectou e vai fazer o tratamento para que não se transforme em AIDS. A AIDS já é a fase mais tardia da infecção pelo HIV. É muito bom esclarecer essa diferença”, afirma o médico Almir Santana, professor do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit), que atua na luta contra o HIV desde 1987, quando o primeiro caso de AIDS foi diagnosticado em Sergipe. 

“O HIV não define quem você é”, diz um dos posts do perfil @infoposithivas, mantido no Instagram pelo jornalista Saullo Hipólito, que trabalha no Centro de Comunicação Social (CCS) da Universidade Tiradentes (Unit) e convive com o vírus HIV há mais de cinco anos. Usando a sua habilidade como produtor de conteúdo, ele se colocou na linha de frente desse combate ao preconceito e passou a utilizar seu perfil pessoal no Instagram para divulgar informações, esclarecer dúvidas e desmentir afirmações falsas sobre o vírus. Ele explica que seu objetivo é mostrar a todos que a discussão sobre o assunto precisa ser constante, e não apenas em 1º de dezembro. 

“A página tem o objetivo, sobretudo, de inspirar pessoas que vivem com o vírus a se cuidar, com a regulação das vacinas, boa alimentação é um hábito da prática de exercícios físicos. É importante também ressaltar que a página não é só para quem vive com o vírus, mas para todas aquelas pessoas que possam querer ter o conhecimento aprofundado sobre um tema tão relevante mundialmente”, destaca Saullo, que faz tratamento com o uso diário de comprimidos antirretrovirais, medicamentos usados para neutralizar a multiplicação do HIV no organismo.

Menos mortes

Esses medicamentos começaram a ser desenvolvidos por volta de 1987, a partir da descoberta e aprovação do AZT (zidovudina). Em 1996, o Brasil começou oferecer gratuitamente, em seu Sistema Único de Saúde (SUS), o AZT e outros 21 medicamentos aprovados para o tratamento. De lá para cá, a mortalidade de pessoas que desenvolviam a AIDS foi caindo. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o Brasil registrou queda de 25,5% no coeficiente de mortalidade por AIDS ao longo dos últimos 10 anos, indo de 5,5 para 4,1 óbitos por 100 mil habitantes. Em 2022, foram 10.994 óbitos provocados por complicações da doença, contra 12.019 em 2012. 

Para o professor Almir Santana, a redução da mortalidade de pessoas com HIV foi conquistada pelo sucesso do tratamento e pelo aperfeiçoamento dos medicamentos. “Antigamente, tinha paciente que tomava 30 compromissos no dia, e hoje não, Reduziu-se o número de comprimidos, reduziu-se os efeitos colaterais e o tratamento hoje está dando excelentes resultados. A letalidade hoje só acontece quando ou a pessoa é diagnosticada tardiamente, ou recebe o diagnóstico e não faz o tratamento correto”, ressalta ele, acrescentando que os antirretrovirais conseguem baixar drasticamente a chamada ‘carga viral”, melhorando a qualidade de vida do paciente e diminuindo o risco de ele transmitir o HIV para outras pessoas.

O uso diário de medicamentos pelas pessoas que convivem com o HIV deve ser acompanhado por uma alimentação balanceada e uma rotina de exercícios físicos, além da realização de exames médicos em períodos que podem ser de seis meses ou de um ano. isto porque a cura definitiva do vírus ainda não foi descoberta e nem comprovada pela ciência. “O uso [dos comprimidos] é para toda a minha vida ou até que se descubra uma cura. Há indícios de proximidade quanto a esse assunto, mas não é algo para os próximos cinco anos, obviamente. Seguirei na torcida, que é o que me cabe”, anseia Saullo. 

O professor Almir acrescenta que a pessoa com HIV também precisa cuidar igualmente da saúde mental e evitar a entrada em depressão, que pode comprometer até a adesão ao tratamento. Um dos caminhos é manter a vida normalmente. “Trabalhar em todas as suas atividades não muda. O que muda é se preocupar mais com a sua própria saúde. E ela pode ter relacionamentos. Existem as medidas de prevenção, tem a camisinha e tem medicamentos que reduzem a transmissão”, pontuou. 

Preconceito

Muitos destes conceitos distorcidos sobre a AIDS e o HIV são consequência da forma como ela foi tratada ao longo da década de 1980, logo após a confirmação dos primeiros casos nos Estados Unidos, em 1981. Dois anos depois, quando as primeiras mortes causadas por complicações da AIDS aconteceram no Brasil, parte da imprensa sensacionalista da época tratava a doença de forma pejorativa. 

“A questão da sexualidade e a questão de ser uma doença que não tenha cura foram dois pontos que pesaram mais e transformaram em tabu. Na verdade, coincidiu que os primeiros casos foram em homossexuais, mas as pessoas entenderam naquela época que era uma infecção só de gays. Então, isso favoreceu o preconceito e prejudicou muito as campanhas de prevenção”, atribui o professor Almir. 

Saullo Hipólito define a sua decisão de falar abertamente sobre o tema como uma chance de dar voz a outras pessoas que ainda são silenciadas no dia-a-dia e acabam obrigadas a esconder que vivem com o vírus HIV para não sofrer represálias no trabalho, dentro da família ou dos amigos. Para ele, o preconceito da sociedade contra as pessoas com HIV vem de todas as esferas, classes e comunidades, devendo ser combatido através da informação. 

“Mesmo sabendo como acontece a transmissão do vírus, muita gente evita contatos ou, por exemplo, a troca de materiais ou lugares de uso coletivo como o banheiro. Para mim, como uma pessoa preta, bissexual e que vive com o HIV não seria diferente, mas eu lutarei para que esse preconceito seja, cada vez, mais diminuído. Só assim poderemos viver num lugar de respeito, igualdade e equidade”, define o jornalista, que procura trazer o debate de forma descontraída e com muitos exemplos positivos. “O mundo já é pesado demais para a gente ter conversas duras. Acredito que a empatia e a simplicidade possam fazer com que eu consiga atingir mais pessoas e é assim que eu vou seguir, sem permitir que me silenciem sobre um tema tão importante e adequado à contemporaneidade”, acrescenta o jornalista.

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