No dia-a-dia das ruas, seu nome é associado a um lanche popular e prático, que consiste em um recheio qualquer colocado entre dois pedaços de pão. Já nos meios acadêmicos, ele se refere a um formato de estudo de pós-graduação que permite a realização de parte da pesquisa e do desenvolvimento da tese em alguma universidade de renome no exterior. Trata-se do ‘doutorado-sanduíche’, viabilizado através de parcerias com agências de fomento à pesquisa e inovação.
A Universidade Tiradentes (Unit) está entre as instituições que mais têm atuado nessa modalidade de doutorado. Apenas no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP), foram 37 alunos enviados ao exterior desde a criação do programa, em 2005, além de três que estão no exterior até o final de 2023 e uma que irá embarcar para Portugal em janeiro de 2024. Ao todo, são 41 ‘sanduíches’ em 24 instituições de oito países, incluindo as prestigiadas universidades de Coimbra e do Porto (Portugal); de Valladolid e Autônoma de Madrid (Espanha); de Southampton (Reino Unido); de Havana (Cuba); de Houston e da Califórnia-Berkeley (Estados Unidos) e Universidad de Castilla-La Mancha (Espanha).
“O doutorado-sanduíche é um período que varia usualmente entre seis meses e um ano (podendo ser maior), durante o qual, o estudante de doutorado de um programa de pós-graduação nacional realiza parte de sua pesquisa em uma instituição fora do seu país de origem, geralmente em uma instituição de renome no exterior. Durante esse período, o estudante aproveita as expertises e a infraestrutura do grupo estrangeiro para complementar seus estudos. Ele também pode ser realizado em uma instituição de renome nacional, embora seja menos comum”, detalha o coordenador do PEP, professor-doutor Giancarlo Richard Salazar Banda.
Ele explica também que existem duas maneiras pelas quais um aluno pode se candidatar ao doutorado-sanduíche. A primeira é através de processo seletivo interno para concorrer às bolsas oferecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) a cada programa de pós-graduação. A segunda modalidade é pelo envio de um projeto de pesquisa pelos orientadores aos órgãos de fomento nacionais, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ou para entidades estrangeiras, como a americana Fulbright Foundation.
“Se o projeto for aprovado, o estudante poderá realizar o doutorado sanduíche diretamente, sem a necessidade de passar por um processo seletivo interno do programa, embora precise da anuência do mesmo”, acrescenta Banda, ressaltando que os critérios de seleção são fornecidos pelo próprio órgão de fomento e abrangem tanto o desempenho do discente quanto algumas características do programa de pós-graduação e da instituição no exterior.
Ainda de acordo com o professor, o ‘sanduíche’ geralmente não exige nenhum investimento por parte do aluno ou da universidade, isto é, quando o aluno é contemplado com uma bolsa de estudos, o órgão de fomento também cobre as passagens e o seguro saúde do discente durante o período de permanência na instituição estrangeira.
Para 2024, o PEP possui pelo menos uma bolsa institucional da Capes (podendo ser mais de uma, a depender da demanda nacional). O edital específico com as normas de seleção é publicado usualmente no início do ano. Já o CNPq, o Fulbright e outras agências de fomento devem abrir editais específicos para envio de propostas. Para concorrer, o discente deve estar matriculado no doutorado e cumprir os requisitos que o órgão de fomento solicita para poder se candidatar.
Formação que traz ganhos
Giancarlo Richard cita uma série de benefícios e vantagens que a participação nos ‘doutorados-sanduíche’ proporciona aos programas de pós-graduação. “Ele representa o aumento da qualidade da formação dos alunos, pois o período no exterior permite que os alunos tenham contato com pesquisadores de renome internacional e com as mais modernas técnicas e tecnologias de pesquisa. Isso contribui para a formação de profissionais mais qualificados e competitivos no mercado de trabalho”, disse ele, acrescentando que ele pode resultar também em novas parcerias de pesquisa, intercâmbios de estudantes e pesquisadores, publicações em revistas internacionais e atração de novos talentos.
A universidade, por sua vez, sai ganhando com uma maior visibilidade internacional e uma melhor qualidade da educação, através da internacionalização do currículo, da formação de professores e pesquisadores internacionais, e da integração da universidade ao contexto global, fortalecendo uma “cultura internacional” na comunidade acadêmica. “O aluno que faz doutorado-sanduíche ganha ainda mais vantagem ao se colocar no mercado de trabalho. O período no exterior permite que o aluno adquira uma série de competências e habilidades que são valorizadas pelos empregadores”, concluiu o coordenador, citando aspectos como domínio do idioma, formação de uma rede de contatos e a formação de uma visão global do mundo e dos seus desafios.
*Matéria atualizada em 18/10/2023, às 17h48, para acréscimo de informação.
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