“Estamos formando gente para profissões que nem sabemos quais serão. Um relatório do governo norte-americano mostra que as dez profissões que mais formaram em 2009 não existiam em 2004, portanto, formar pessoas hoje é muito mais difícil e desafiador. Temos que pensar fora da caixa. É preciso errar para inovar, mas a nossa geração sempre foi a do acerto, o aluno era excelente quando tirava nota dez. Hoje, isso é importante, mas deixou de ser o essencial. É preciso ser criativo, saber trabalhar colaborativamente, resolver problemas, ou seja, há outros elementos que constituem esse profissional para o século 21”, contextualiza o professor Mozart.
Ele compara o Brasil a um espadachim que precisa esgrimir com as duas mãos para resolver os problemas do Século 20 e, ao mesmo tempo, trazer o que há de novo para a sala de aula. “50% das nossas crianças, ao final do ciclo de alfabetização, não estão nos níveis adequados de leitura, escrita e numeramento. De cada cem alunos que concluem o ensino médio, somente sete aprendem o que é esperado em matemática e 28 em língua portuguesa. Não temos um sistema equânime e ainda há 1 milhão de jovens, de 15 a 17 anos, fora da escola, e dez milhões, de 15 a 29 anos, na ociosidade. Não dá para ignorar esta realidade e pensar somente na educação para o Século 21”, argumenta Mozart.
O secretário Jorge Carvalho diz que é preciso refletir sobre uma escola capaz de permitir ao cidadão desenvolver habilidades pessoais e sociais para viver em plenitude. Para Jorge, a responsabilidade da escola do Século 21 é ensinar o estudante a aprender a ser, fazer, conhecer e conviver. “Desenvolver a capacidade de ser responsável, autônomo, ter discernimento; incorporar os novos padrões da cultura, novos saberes, o conhecimento social e historicamente acumulado pela humanidade; se preparar para interagir com o outro, estar em grupo, gerenciar conflitos e, nesta relação, ser capaz de enfrentar os problemas. É dessa educação que estou falando, uma educação que forma o ser na sua integralidade”, explica.
Mediador do debate, o professor José Fernandes de Lima destaca a importância da reflexão constante sobre a educação. “Os países desenvolvidos imprimiram um sistema de desenvolvimento econômico montado na geração de conhecimentos, na inovação, e qualquer nação que queira acompanhar este desenvolvimento é obrigada a investir na formação dos seus cidadãos, da educação básica à superior, da infantil à pós-graduação. No Brasil, temos um ingrediente a acrescentar: a educação brasileira é tardia, ainda há muitas pessoas fora deste processo. Precisamos pensar a questão da desigualdade, da garantia do acesso, em como fazer para que as nossas escolas se sintam mais valorizadas e envolvidas com todo o desenvolvimento da nossa sociedade”, analisa o ex-presidente do Conselho Nacional de Educação.