Ela atormentou os brasileiros ao longo das décadas de 1970 e 1990, atingindo recordes anuais centenários, até ser dominada e estabilizada pelo Plano Real, em 1994. No entanto, suas projeções e movimentos a cada mês e a cada ano ainda são acompanhadas com tensão e atenção pelo mercado e pelas autoridades e por quem segue as idas-e-vindas da política econômica nacional. Trata-se da inflação, que se dá através da evolução dos preços de produtos e serviços, afetando diretamente as finanças de cada brasileiro.
A edição mais recente do Boletim Macrofiscal, divulgado em 21 de março pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, reduziu de 3,55% para 3,5% a projeção para 2024 do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é o indicador oficial da inflação no Brasil. O número está dentro da meta de 3%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. O mesmo boletim manteve a estimativa para o crescimento da economia em 2,2%.
Já o boletim Focus, produzido pelo Banco Central com base em consultas a economistas e analistas do mercado, em edição divulgada na última segunda-feira, 6, projeta que o IPCA feche o ano de 2024 em 3,72%, poucos décimos a menos que a previsão do Focus anterior, em abril, que foi de 3,76%. E o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma dos bens e dos serviços produzidos no país, foi estimado em 2,05%.
Mas como acontecem essas projeções? Elas se baseiam basicamente no comportamento dos preços dos bens e serviços mais demandados pela sociedade ao longo do tempo, que formam uma média ponderada calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para se chegar ao IPCA.
“A partir da análise de cada um desses bens e serviços e das expectativas sobre o comportamento dos preços destes bens e serviços, é feita a projeção para um determinado período, que pode ser mensal, trimestral, anual etc. Para projetar o futuro dos preços, cada item é analisado individualmente, avaliando os fatores que o influenciam. Alguns exemplos são: produção agrícola e efeitos climáticos esperados, a exemplo de chuvas, secas etc.; dólar, que terá efeito nos preços de tudo que é importado; custos diversos, a exemplo de fertilizantes, combustíveis, etc”, explica o economista e professor Rodrigo Rocha, dos cursos de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Tiradentes (Unit).
Por sua parte, o PIB é calculado a partir da expectativa de vários indicadores, como os níveis de emprego, de endividamento das famílias e empresas, de produção das atividades econômicas e de demanda dos mercados internacionais, entre outros. “Esses fatores são importantes para estimativa, pois uma economia com um bom nível de emprego e renda, por exemplo, tende a ter maior consumo, estimulando que as empresas produzam mais bens e serviços para atender esta demanda, aumentando a riqueza do país. Outro exemplo importante é o mercado internacional, que tem um grande peso na compra de produtos brasileiros, e, por isso, acompanhar o desempenho econômico de outros países é muito importante para a estimativa do PIB”, detalha Rodrigo.
E nós com isso?
O professor acredita que a revisão das projeções de inflação e do PIB para 2024 aconteceu por força de mudanças significativas nas expectativas citadas. “É para se aproximar da realidade, que pode fugir das expectativas devido a situações não previstas inicialmente, na avaliação das atividades econômicas”, diz ele, citando como exemplo a agropecuária, setor que ganhou enorme relevância para a economia brasileira. “Se tiverem mudanças significativas nas previsões produtivas (por questões climáticas, por exemplo), a estimativa do PIB precisa ser revisada”, acrescenta.
Apesar da percepção de desimportância por parte do grande público, as discussões sobre PIB e inflação têm impacto e presença na vida das pessoas, por estarem relacionadas ao poder de compra, à capacidade de pagar contas e às oportunidades de emprego e renda. E esses fatores são levados em conta nos planejamentos de medidas econômicas. “Com estas estimativas o Governo planeja seus gastos e suas ações, podendo, por exemplo, ter mais dinheiro disponível para a construção de estradas, hospitais, escolas etc., ou para o pagamento de programas assistencialistas, a exemplo do bolsa família. As empresas também podem tomar melhores decisões sobre a realização de investimentos, que geram emprego e renda, levando em consideração estas estimativas”, esclarece Rodrigo.
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