Segundo pesquisa feita pela Rede Nossa São Paulo em parceria com a Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), a desigualdade social e racial no Brasil afeta a saúde mental da população negra. A percepção dos indivíduos entrevistados pela pesquisa revelou que a preocupação em relação ao racismo e as consequências da discriminação no cotidiano da população negra na cidade, interferem de forma alarmante na qualidade de vida das pessoas negras que vivem em São Paulo.
De acordo com o Centro de Valorização à vida (CVV) e o Ministério da Saúde, as chances de um adolescente ou jovem cometer suicídio é 45% maior entre negros. Entre os do sexo masculino, as chances aumentam em 50% se comparados aos brancos também na faixa etária entre 10 e 29 anos. Dentre as preocupações da população, destacaram-se na pesquisa o medo constante de sofrer abuso ou violência policial, medo constante de sofrer discriminação ou preconceito racial e não saber como lidar, além da questão ligada à pandemia da Covid-19. que também teve um impacto maior sobre o trabalho e a capacidade de gerar renda das pessoas negras.
Já entre as principais causas associadas ao suicídio entre negros, os sentimentos mais citados são a ausência de sentimento de pertencimento, sentimentos de inferioridade e de incapacidade, rejeição, violência e solidão. O entendimento entre a diferença de tratamento em locais públicos e privados, também é uma das causas apontadas pela pesquisa. Os indicadores também mostraram que muitas das pessoas entrevistadas esperam medidas mais práticas de combate à violência e responsabilização das pessoas brancas, entendendo que o problema racial é uma questão para toda a sociedade.
Além disso, traumas, acumulados ou vivenciados de maneira mais intensa, podem desencadear, no longo prazo, transtornos psicológicos em parte da população e afetar a saúde mental. Os especialistas explicam que o estudo feito em São Paulo é uma amostra do que ocorre em todo território nacional. As informações do “Atlas da Violência” no Brasil em 2019, por exemplo, reiteram que 75,5% das vítimas de assassinato no país eram negras e, na década compreendida entre 2007 a 2017, o percentual de negros vítimas de homicídio crescera 33,1%, com proporção maior nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, e Alagoas.
As estatísticas também comprovam que, com base nos dados da PNAD Contínua 2019, um dos principais indicadores do mercado de trabalho, a taxa de desocupação foi, em 2019, de 9,3%, para brancos, enquanto que para pretos ou pardos foi de 13,6%. Já entre as pessoas ocupadas em trabalhos informais, o percentual de pretos ou pardos chegou a 47,4%, enquanto entre os trabalhadores brancos foi de 34,5%.
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