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Fala nordestina e preconceito linguístico

Para a Profa. Dra. Ana Cláudia Mota, quando os sotaques forem vistos como riqueza cultural, o preconceito linguístico não terá mais vez.

às 20h16
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O Brasil é um país plurilíngue, na perspectiva de que apresenta uma imensa diversidade linguística, seja por questões sociais, geográficas ou de faixa etária. O dialeto nordestino é diverso e ao mesmo tempo único, ao passo que estabelece a forma de falar de pessoas que nasceram no nordeste do Brasil.

De acordo com a professora da Universidade Tiradentes, Ana Claudia Mota, doutora em Letras pela Universidade de São Paulo, os falares nordestinos sofreram influências das matrizes de todos os povos que colonizaram o nosso país, a exemplo dos portugueses, africanos e indígenas.

“O sotaque do nordestino é muito peculiar e caracteriza o seu povo e a sua cultura, seja dentro de um próprio estado, ou de um estado para outro. Por exemplo, a Bahia, faz divisa com Minas, Sergipe, Piauí, Tocantins e Goiás, e nessas localidades, a fala desses baianos tem uma grande aproximação com as demais regiões circunvizinhas.

Considerando que todos somos brasileiros, de onde, então, vem o preconceito linguístico? Ana Cláudia explica que historicamente, o Nordeste legou ao Brasil uma plêiade de intelectuais, mas isso não foi o suficiente para manter a sua importância, tendo em vista de que os aspectos socioeconômicos foram os mais preponderantes.

“Fruto de um padrão estabelecido por uma elite econômica e intelectual, ao longo dos anos, os falares nordestinos refletiram um estigma que está diretamente associado à questão de prestígio social. Assim, para outras regiões do Brasil, a exemplo do sul e sudeste, o falar do nordestino é visto como sendo “diferente”, seja na forma de pronunciar as palavras, no vocabulário e costumes. Em suma, todo juízo de valor negativo reflete o desrespeito às variedades linguísticas, o que não é peculiar do Brasil. Essa diversidade, que é saudável, ocorre em todas as línguas vivas, povos e culturas”.

Apontado pela docente como o ‘o lado mais perverso do preconceito linguístico’ é quando um profissional necessita neutralizar a sua fala para seguir um padrão linguístico.

“Por exemplo, a situação de um candidato não ser aceito a uma vaga de emprego pelo julgamento do seu sotaque. Quando o oxente do baiano, o vote do sergipano, o desdobro do cearense, o visse do pernambucano, o mangar do alagoano, o vou banhar do maranhense, o ingembrado do piauiense e o broto do potiguar forem vistos como riqueza cultural, o preconceito linguístico não terá mais vez”, finaliza.

Quer conhecer um pouco mais sobre preconceito linguístico?

Leia a obra “A língua de Eulália” do autor Marcos Bagno e  também o Dicionário Nordestinês, disponível neste link.

 

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