A pesquisa científica se fortalece cada vez mais através da integração entre instituições de ensino e centros de pesquisa, que unem esforços e compartilham conhecimentos para aprofundar estudos e desenvolver soluções nas mais diversas áreas de interesse. Assim podem ser definidos os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), centros de pesquisa multicêntricos brasileiros que reúnem universidades, institutos federais, centros de pesquisa, fundações federais e estaduais de pesquisa e parques tecnológicos.
Estes institutos constituem um programa implementado desde 2005 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com o objetivo de incentivar e favorecer o desenvolvimento de grandes projetos de pesquisa de longo prazo e de alto impacto científico, em redes nacionais e/ou internacionais de cooperação científica. Tudo isso com a participação de pesquisadores e bolsistas que cooperam em temas de grande interesse nacional, como energia, nanotecnologia, políticas públicas, agricultura, saúde, meio ambiente, engenharia, computação, entre outros.
“Um instituto é formado livremente por grupos de pesquisadores que se reconhecem como excelentes em determinado tema, em geral com expertises complementares no estudo deste tema. A instituição líder estará bem estabelecida em termos de infraestrutura de laboratórios, grupos de pesquisa, formação de recursos humanos e de produção científica e tecnológica qualificada. A ela se juntam outras instituições, formando um conjunto de laboratórios ou grupos de pesquisa, numa rede científico-tecnológica”, explica a professora-doutora Silvia Maria Egues Dariva, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP) da Universidade Tiradentes (Unit).
De acordo com ela, os grupos que integram um INCT mantêm a sua rotina de pesquisa, desenvolvendo as suas atividades nos laboratórios, conduzindo a formação de alunos nos cursos de graduação e de pós-graduação, e captando recursos públicos e privados para financiar as suas pesquisas.
“Entretanto, serão promovidas oportunidades para os pesquisadores partilharem seus conhecimentos e infraestrutura, através de workshops periódicos, orientação compartilhada de alunos de mestrado e doutorado, mobilidade dos alunos para missões de pesquisa, participação em bancas, colaboração efetiva na solução de problemas tecnológicos”, detalha Sílvia, apontando que o programa traz, desde sua primeira edição, um incremento substancial nos padrões de excelência e produtividade da ciência e tecnologia brasileiras. “Além de maior inserção do país no cenário internacional. Sempre que o ser humano colabora com outros, o resultado é maior do que a soma das partes”, completa.
Hoje, são 204 INCTs vigentes em todo o país, abrangendo todas as áreas de conhecimento (Ciências Humanas, Biológicas, Exatas e Agrárias). Todos são vinculados ao CNPq, que organiza o programa e arrecada recursos próprios e de outros órgãos de fomento à pesquisa nacionais e estaduais. Desse total, 58 institutos foram aprovados e admitidos na chamada mais recente do CNPq, a 58/2022, e têm investimentos de cerca de R$ 324 milhões do MCTI.
INCT na Unit
Um destes novos INCTs tem a participação do PEP/Unit: o INCT Capicua, dedicado à (Bio/Foto)Catálise, Adsorção e Intensificação de Processo para avançar na Captura e Utilização de CO². Trata-se do desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas e estratégias para a captura e conversão de gás carbônico, dentro da tecnologia CCUS (Carbon Capture Utilization and Storage) utilizada para a redução dos poluentes emitidos na atmosfera – e, por consequência, dos efeitos do aquecimento global.
Com financiamentos de R$ 6 milhões em cinco anos, o INCT Capicua está em funcionamento desde dezembro de 2022 e surgiu a partir de um projeto do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da Universidade Federal do Ceará (UFC), que convidou o PEP/Unit para compor o instituto.
A ele, estão integrados quatro laboratórios ligados ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP): o Núcleo de Estudos em Sistemas Coloidais (Nuesc), o Laboratório de Síntese de Materiais e Cromatografia (LSinCrom), o de Comportamento de Fases PVT e o de Prevenção e Controle de Incrustação (LPCI). A Unit também é representada no INCT pelos professores e pesquisadores Juliana de Conto Borges, Andriele Barbosa, Marília Oliveira, Cláudio Dariva, Gustavo Rodrigues Borges, Elton Franceschi, Cesar Costapinto Santana, Klebson Santos e Cochiran Pereira, além da coordenadora Sílvia Egues.
Ela ressalta que esses laboratórios já se dedicam, há muito tempo, a pesquisas relacionadas ao CO2: como desenvolvimento de materiais e processos para a remoção de CO2 em correntes de gás natural; ferramentas de monitoramento in situ de processos de adsorção de CO2; e utilização de CO2 supercrítico em processos de produção de biodiesel e extração de ativos em biomassas. “Mais recentemente, iniciamos estudos em materiais e processo para a adsorção de CO2 diretamente do ar atmosférico, e desenvolvimento de processos termoquímicos e bioquímicos para a produção de biocombustíveis avançados a partir de biomassa. Os resultados das pesquisas nestes tópicos é que contribuirão para o INCT Capicua”, conta a pesquisadora.
Com sede em Fortaleza (CE), o INCT Capicua também envolve laboratórios e grupos de Engenharia Química da UFC, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), da Universidade de São Paulo (USP) e das universidades federais de Santa Catarina (UFSC) e de São Carlos (UFSCar/SP), além de participantes estrangeiros do Imperial College London (Reino Unido), da Universidad de Málaga (Espanha), da University of Alberta (Canadá) e do Missouri University of Science and Technology (Estados Unidos). Cada um deles tem atribuições e pesquisas definidas que contribuem com as metas e objetivos do instituto.
Encontro presencial
Os integrantes do INCT Capicua se reuniram presencialmente pela primeira vez entre os dias 14 e 15 de março, para um workshop em um dos campi da UFC, em Fortaleza. Na ocasião, além de visitas aos laboratórios e uma palestra do professor Enrique Castellón, da Universidad de Málaga, os representantes apresentaram pesquisas que estão em andamento em cada universidade, além de fazer uma mesa-redonda com empresas locais. Foram alinhadas novas possibilidades de parcerias e outras pesquisas em temas específicos, incluindo o desenvolvimento de um protótipo de reator de conversão termoquímica de biomassa. “Estamos todos animados com as perspectivas de trabalhos futuros e esperamos um dia sediar um workshop do INCT Capicua aqui na Unit”, finaliza Sílvia.
Leia mais:
Entenda o que são os INCTs e seu papel relevante para a ciência no Brasil
Estudante de Engenharia Mecatrônica desenvolve projetos com foco em um futuro sustentável