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Marcas e empresas buscam diversidade para se adaptar a mudanças da sociedade

Movidas por uma maior conscientização sobre diversidade e inclusão, consumidores exigem diversidade e boas práticas éticas e sociais de empresas, que buscam evitar boicotes e cancelamentos

às 14h01
Com mais acesso à informação e a movimentos articulados globalmente, consumidores passaram a cobrar mais responsabilidade social de empresas e marcas (Rosemary Ketchum/Pexels)
Com mais acesso à informação e a movimentos articulados globalmente, consumidores passaram a cobrar mais responsabilidade social de empresas e marcas (Rosemary Ketchum/Pexels)
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As mudanças de comportamento e de consciência da sociedade em relação a injustiças, preconceitos e práticas consideradas incorretas do ponto de vista ético, social e ambiental já interferem fortemente no mercado e nas estratégias de relacionamento, a ponto de gerar campanhas de boicote e cancelamento contra empresas ou instituições que cometam atos ilegais ou antiéticos. Elas acontecem de forma cada vez mais rápida e global, impulsionada por movimentos como “Black Lives Matter” (contra o racismo), “Não é Não” (contra o machismo e o assédio sexual), “Sleeping Giants” (contra os discursos de ódio) e “Greve Global pelo Clima” (criado pela estudante sueca Greta Thumberg, contra o aquecimento global). Estes e muitos outros se articulam ou se propagam pelo mundo a partir de contatos por sites, blogs e redes sociais. 

“O acesso ampliado à educação e informação, impulsionado pela globalização e tecnologia, tem permitido maior conscientização sobre diversidade e inclusão. As redes sociais e plataformas digitais têm sido fundamentais para amplificar vozes marginalizadas e promover movimentos sociais, desafiando normas e pressionando empresas a adaptarem suas práticas. São mudanças de comportamento de uma sociedade mais conectada, onde é possível de forma rápida propagar situações que geram ou dão nome a esses movimentos”, avalia o professor Alexandre Meneses Chagas, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPED) da Universidade Tiradentes (Unit) 

Para ele, o fenômeno pode ser definido como uma evolução social, na qual as pessoas estão se tornando mais conscientes e exigentes em relação à diversidade e inclusão. “Isso se reflete na maneira como as marcas são percebidas e na importância que a gestão de reputação de marcas tem hoje. As empresas estão sendo desafiadas a se posicionar de forma autêntica e inclusiva, entendendo as nuances culturais, valores e sensibilidades de diferentes grupos demográficos. Isso é essencial para uma comunicação real e assertiva. Portanto, a diversidade e a inclusão não são mais um diferencial, mas um valor inegociável para empresas que desejam se manter relevantes e respeitadas em um mundo cada vez mais conectado e consciente”, afirma Chagas.

Empresas diversas

Para além de “regular”, “corrigir” ou simplesmente “cancelar” uma marca, os movimentos oriundos desta conscientização social também estão moldando a gestão de reputação de marcas e alterando as expectativas do público em relação a elas, forçando as empresas a se adaptarem a essas mudanças. Isso passa também por uma maior diversidade na composição das empresas e na construção do que se produz, do que se vende e do que se propaga. Um exemplo é uma presença maior de gestores e colaboradores negros, indígenas, mulheres, idosos e pessoas LGBTQIA+ nas equipes, além da presença de funcionários nascidos ou radicados em diferentes regiões do Brasil. É uma amostra de que, por estar se tornando mais diversificada, a população vem desejando ver suas identidades refletidas nas marcas. 

“As empresas veem a diversidade e inclusão como questões de negócios, não apenas sociais. Consumidores conscientes e exigentes esperam autenticidade das marcas em práticas de diversidade. Isso muda o mercado, com empresas buscando autenticidade e inclusão. Consumidores apoiam marcas que refletem seus valores, evidente no movimento ‘se eu não me vejo, eu não compro’. Marcas que não se adaptam podem perder relevância e respeito. Conservadores contra a diversidade evitam produtos de marcas que adotam diversidade”, explica o professor.

Afinal, por quê a diversidade se tornou tão importante na definição e na composição de uma marca ou de uma empresa? De acordo com Alexandre Chagas, isso pode ser explicado a partir de quatro conceitos:

  • Representação: quando uma empresa tem um quadro de funcionários diversificado, ela é capaz de representar melhor a diversidade de seus clientes. Isso pode ajudar a empresa a criar produtos, serviços e campanhas de marketing que ressoam com um público mais amplo.
  • Inovação: a diversidade pode levar à inovação. Pessoas com diferentes experiências de vida e perspectivas podem trazer novas ideias e abordagens para a mesa.
  • Reputação: empresas que valorizam a diversidade podem melhorar sua reputação e atrair mais clientes, parceiros de negócios e talentos.
  • Conformidade: em muitos países, há leis que exigem ou incentivam a diversidade no local de trabalho. Empresas que têm um quadro de funcionários diversificado podem estar em melhor posição para cumprir essas leis.

“Com a sociedade cada vez mais diversificada, as empresas precisam refletir essa diversidade para se manterem competitivas. A diversidade promove inovação e uma melhor compreensão do público. Não é apenas uma questão de justiça social, mas uma estratégia de negócios eficaz. Empresas que valorizam a diversidade estão se posicionando para o sucesso em um mundo global e consciente”, acrescenta o professor, que faz um alerta: essa diversidade precisa ser acompanhada por autenticidade, respeito e uma compreensão profunda das questões e sensibilidades culturais. o que exige uma estratégia mais ampla e coerente de responsabilidade social corporativa. “As ações da empresa devem estar alinhadas com seus valores declarados. Caso contrário, a empresa pode ser vista como oportunista ou insensível, o que pode levar a boicotes ou cancelamentos”, conclui Chagas. 

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