Uma grande troca de experiências entre Brasil e Estados Unidos. Foi o que motivou muitos estudantes a participarem da mesa-redonda realizada nesta terça-feira, 16, com o médico e professor americano Matthew T. Corey, geriatra e diretor de farmacoterapia do Cambridge Health Alliance (CHA). A instituição sediada em Boston é parceira internacional do Grupo Tiradentes e um dos principais complexos de saúde dos Estados Unidos. Corey está ao longo desta semana em Aracaju, sede do GT, para fazer uma série de visitas, palestras e minicursos.
O debate com o tema “Internato em Boston: duas perspectivas” foi realizado presencialmente no Campus Farolândia, da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe), com transmissão on-line para todas as escolas de saúde do Grupo em Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Também participaram duas alunas que fizeram, em maio, um mês de internato no CHA, em Boston, dentro da primeira turma do Programa Clinical Experience Abroad: Clerkship for Medical Students.
Uma delas, Marcella Chagas, do 10º período de Medicina da Faculdade Tiradentes de Jaboatão dos Guararapes (Fits Piedade), destacou que o sistema hospitalar americano tem muitas diferenças em relação ao brasileiro, inclusive na fase de formação. “De fato, o estudante de medicina de lá tem um contato diferente do que temos aqui. A gente vai pra prática muito cedo, principalmente quando a metodologia é PBL, e lá, o aluno é muito observacional, muitos alunos só começam a ter prática na hora da residência”, disse ela, explicando também que os pacientes americanos costumam buscar seus primeiros atendimentos com médicos generalistas e estes indicam os exames e tratamentos necessários, enquanto que, no Brasil, os pacientes vão direto aos especialistas.
Letícia Sarmento, do 7º período de Medicina da Unit Sergipe, foi uma das estudantes que assistiram com interesse à mesa-redonda. Ela pensa em seguir a carreira médica fora do país e já começou a pesquisar sobre o assunto. “Eu já sei um pouco de como é essa revalidação nos Estados Unidos, já tive vontade [de fazer intercâmbio] e é sempre algo curioso pra gente, saber o que fazemos no Brasil e a experiência dos outros profissionais fora do país. O que isso vai agregar pra nós é entender como a saúde funciona em outro país, além das oportunidades que a gente pode ter a partir desse contato. Isso é um incentivo, nos mostra que isso é possível”, disse ela
Aos alunos, o doutor Corey destacou que os participantes do programa têm muitos conhecimentos a trocar com os estudantes e professores do centro, que é a escola médica ligada a Harvard University, uma das mais conceituadas do mundo. Um deles é o aperfeiçoamento na língua portuguesa, requisito muito exigido dos profissionais americanos pelo fato de Boston ter uma grande presença de imigrantes e descendentes de brasileiros, portugueses e africanos de países que falam a língua portuguesa, como Cabo Verde e Angola. Apesar disso, é recomendado que os alunos tenham conhecimentos intermediários de inglês.
SUS vs 50 sistemas
Outro aspecto ressaltado pelo professor é a grande abrangência do serviço de saúde prestado pelo CHA às comunidades de Boston e das cidades de Cambridge e Somerville. Nas três regiões, são cerca de 140 mil pacientes atendidos, o que inclui imigrantes e populações mais vulneráveis, como idosos, crianças e pessoas LGBTQIA+. Por outro lado, Corey se disse bastante interessado na organização do SUS (Sistema Único de Saúde), que concentra os serviços públicos de saúde no Brasil e cobre todo o território nacional, abrangendo toda a população.
O professor fez um comparativo com o cenário norte-americano, que tem 50 Estados administrando seus próprios sistemas de saúde e com legislações próprias, além de seguros sociais públicos que cobrem os tratamentos das populações mais carentes. “A resposta dos Estados Unidos à pandemia não foi a melhor do mundo, e mostrou muitas lacunas de acesso para pessoas de vários níveis sociais, bem como na distribuição de vacinas. Admiro muito a distribuição de vacinas no Brasil e vejo que o SUS pôde fazer uma campanha coordenada e instantânea em todo o país, que é enorme. E tragicamente, a gente [EUA] não tem esse poder”, avaliou.
Outras visitas
O vice-presidente Acadêmico do Grupo Tiradentes, professor Temisson José dos Santos, explicou que a passagem do professor Corey por Sergipe faz parte de um projeto maior, que inclui as próprias atividades de intercâmbio estudantil e visitas mútuas de professores do CHA e das instituições do GT (Unit Sergipe, Unit Alagoas, Fits Piedade e Fits Goiana). Algumas destas visitas, que incluíram cursos e eventos com alunos de Medicina, já aconteceram em outros momentos, tanto em Aracaju quanto em Maceió e no Recife.
Para Temisson, o contato direto do americano com os estudantes brasileiros trouxe uma série de ganhos. “Tem um ponto muito relevante, que é identificar a importância e a qualidade da sua formação, e de uma formação de ponta que é oferecida aqui no Brasil, pela Universidade Tiradentes e pelas outras instituições que formam o Grupo Tiradentes”, citou.
Asscom | Grupo Tiradentes