A queda de 4,1% no Produto Interno Bruto (PIB) de 2020, confirmada nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou outra antiga ferida da sociedade brasileira: a desigualdade social entre ricos e pobres, que acabou agravada pela pandemia do coronavírus. Dados recentes do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), baseados em pesquisas do próprio IBGE, mostraram que 12,8% da nossa população ficou abaixo da linha de pobreza extrema, isto é, precisam sobreviver e sustentar a família com apenas R$ 246 por mês.
Este contingente, ainda conforme a FGV, é equivalente a mais de 27 milhões de pessoas consideradas muito pobres, e fez o país superar a marca alcançada em 2011, quando esse total equivalia a 12,4%. Os economistas apontam que esse foi um efeito do fim do auxílio emergencial do governo federal, que durante o início da pandemia, pagou R$ 600 mensais a mais de 55 milhões de desempregados e trabalhadores de baixa renda.
Na análise da professora Rizete Serafim Costa, do curso de Serviço Social da Universidade Tiradentes (unidade Pernambuco), a pandemia da Covid-19 expôs questões que vão além dos problemas no sistema público de saúde e da falta de uma política nacional de vacinação em massa. “A pandemia vem colocar uma lupa no processo da desigualdade social no nosso país. A população está cada vez mais pauperizada, os programas sociais estão mais reduzidos”, define ela, relacionando o assunto aos dados do desemprego no Brasil, que segundo o IBGE, ficou em 13,9% no último trimestre de 2020.
Mesmo com uma ligeira queda, a falta de trabalho aumentou significativamente durante a pandemia, por força dos casos de coronavírus e das medidas que restringiram tanto a circulação de pessoas quanto o funcionamento de parte da economia. “Há os trabalhadores informais que devido a pandemia não conseguem trabalhar, então existe empobrecimento também desses trabalhadores. Um exemplo, são os trabalhadores informais que ganham o sustento junto ao entorno das universidades, vendendo alimentação, e se viram de uma hora pra outra,com as universidades fechadas, sem o acesso, sem o trânsito do aluno, do então, eles não tem mais com quem comercializar”, citou Rizete.
Impactos
Para ela, um dos maiores impactos da desigualdade social no Brasil pode ser mensurado pela alta nos preços da cesta básica. A Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, feita pelo Departamento Intersindical Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em mais de 10 capitais brasileiras, apontou que, no ano passado, o custo da cesta básica subiu entre 17,76% e 32,89%. O preço mais caro dos itens da cesta foi apurado em São Paulo: R$ 631,46, o que equivale a mais da metade do atual salário mínimo de R$ 1.100,00.
A professora de Serviço Social destaca que as questões sociais, assim como as de saúde, não podem ser separadas da economia, pois a desigualdade entre classes é fruto de um modelo econômico no qual os trabalhadores produzem riquezas. Para Rizete, é preciso políticas públicas mais consistentes, que ajudem a reduzir as desigualdades. “É preciso que os governos, e aí, no caso do Brasil, tenham um comprometimento em pensar políticas sociais, não de formas pontuais, mas que de fato assegurem melhorias nas condições de vida da população”, alertou ela.
Ascom | Grupo Tiradentes
com informações de Exame.com
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