O debate sobre as consequências econômicas do coronavírus ganhou força nesta quarta-feira, 3, com dois dados que chamaram a atenção. O primeiro foi o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice, que soma todas as riquezas produzidas pelo Brasil, fechou em queda de 4,1% em relação ao ano anterior. Foi a maior queda anual da série iniciada em 1996, e a terceira pior da história do país, perdendo apenas para os resultados de 1990 (4,4%) e 1981 (4,3%), anos marcados pela crise da hiperinflação.
Este resultado foi influenciado pelos impactos da pandemia, com restrições à circulação de pessoas e o crescimento acelerado das mortes e contaminações causadas pela doença. Até esta terça-feira, segundo as secretarias estaduais de Saúde, 1.726 pacientes com Covid-19 morreram em 24 horas, chegando ao total de 257.562 óbitos desde seu começo. Foi a maior marca alcançada desde o início da pandemia, em fevereiro de 2020.
Para o professor Lucas André Sorgato, da Pós-Graduação em Economia da Universidade Tiradentes (unidade Alagoas), esta sequência no aumento das mortes tem impacto na confiança e expectativa do mercado. “A partir do momento em que você começa a ter esses aumentos, sem previsão de redução, você gera um momento de maior pânico para os agentes econômicos. Esse maior pânico faz com que as pessoas consumam menos, gastem menos, saiam menos, se preocupem mais de fato com a saúde, e nesse ponto, tem um efeito de baixa na economia”, disse ele, citando que o resultado do PIB fez ainda com que o Brasil tivesse a pior década de crescimento econômico nos últimos 120 anos.
Uma das queixas do setor produtivo é sobre as medidas de restrição de circulação de pessoas, incluindo o fechamento de parte do comércio em estados e municípios. No entanto, elas são recomendadas por especialistas da área de saúde, por diminuírem as chances de propagação do vírus. Nos últimos dias, cerca de 15 estados, incluindo Pernambuco, decretaram toque de recolher à noite, com circulação restrita de pessoas e funcionamento apenas dos serviços essenciais e de restaurantes e bares com serviço de entrega (delivery).
O economista pondera que tal medida é importante e não fecha todo o comércio, mas reduz seu funcionamento. “Como se faz isso no final de semana, por exemplo, que são os dias em que os bares e restaurantes estão mais cheios, então você começa a reduzir uma fonte de aglomeração grande. Quando você tira também duas horas de outra fonte de aglomeração que são os shoppings centers, você começa a tentar reduzir focos de aumento de contágio. Para o controle do vírus, isso é extremamente interessante. Para a economia, você tem impactos diferentes nos setores. O setor de alimentação fora do lar talvez seja muito mais impactado do que demais setores de comércio de bens, serviços e produtos”, analisa.
Ainda de acordo com Sorgato, a retomada do crescimento econômico no Brasil e no mundo passa pela vacinação em massa da população, com os imunizantes desenvolvidos em vários países. Só que esta recuperação será a médio e longo prazo, dependendo de uma série de fatores, e não será o suficiente para recuperar os prejuízos da pandemia. “O horizonte desta vacinação vai até o fim de 2021, talvez o início de 2022, se for pensar no mundo todo, para que se tenha uma retomada global no crescimento econômico”, pontua, citando que o Brasil teve uma taxa de desemprego de 13,5% no ano passado (maior da série histórica).
“Não é terminando a vacinação que magicamente as empresas voltarão a contratar para que se tenha essa redução de desemprego. Isso vai diminuir de uma maneira muito lenta e muito gradual. A renda dos trabalhadores também caiu muito nesse período. Então, isso faz com que a recuperação seja ainda mais lenta, porque não tem consumo para girar a economia, afirma o professor, defendendo ainda a manutenção dos auxílios emergenciais criados pelo governo para ajudar às pessoas de baixa renda e às empresas que mantêm empregados com carteira assinada.
Novas cepas
Outro fator preocupante está na circulação de novas cepas do coronavírus, mutações consideradas mais fortes e com maior poder de infecção de pessoas. A transmissão comunitária delas já é confirmada em vários estados. Para o biomédico Ricardo Braz, professor de Imunologia dos cursos de Saúde da Unit (unidade Pernambuco), esse poder de infecção se explica pela maior presença do vírus dessas variantes, principalmente a P.1, encontrada em Manaus.
“Ela apresenta mutações nos genes que codificam a espícula, a proteína que permite a entrada do vírus nas células humanas e, portanto, pode facilitar a infecção pelo Sars-CoV-2. Estudos mostram que adultos infectados com a variante têm carga viral até 10 vezes maior, o que reforça a teoria de que ela aumenta a transmissibilidade”, explicou, ressaltando que a nova cepa é uma das variantes que geram preocupação entre autoridades de saúde de todo o mundo, e que essas novas linhagens causaram epidemias em locais já afetados por epidemias severas anteriores levantando inclusive a possibilidade de reinfecção.
O poder de dano dessas novas cepas à saúde das pessoas é algo que ainda está sendo estudado pelos cientistas, e que vai orientar novas medidas de segurança para o funcionamento das atividades econômicas, mesmo com a vacinação. “Poucos são os estudos disponíveis sobre a proteção entre pessoas que receberam vacinas contra Covid-19, mas já é sabido que a resposta a estas linhagens é diferente das respostas às linhagens originais. As taxas de proteção das vacinas contra as novas variantes ainda não foram totalmente estabelecidas, nem se sabe como a proteção ao longo do tempo. Mas fica o alerta sobre a possibilidade de que a proteção da infecção natural (e das vacinas) possam não ser tão duradouras e que a proteção contra as novas linhagens não seja tão eficiente, conclui Braz, recomendando a manutenção do distanciamento social, do uso de máscara e da higienização das mãos.
Ascom | Grupo Tiradentes
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