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Pedalando nos caminhos da ciência: a história do mestrando Jônatas Levi

Pesquisador que estuda no PEP superou dificuldades para retomar os estudos e desenvolver pesquisas na Unit; trajetória incluiu longos percursos de bicicleta entre o trabalho e a universidade

às 21h48
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Ele segue todos os dias em um mesmo ritmo, sob pedaladas firmes e compassadas, com força nos braços para manter o equilíbrio, olhar altivo, foco e concentração total na direção pela qual deve seguir. E quando um destes elementos lhe faltam, outros se achegam a ele como sustento: a coragem, a fé e a determinação. O caminho percorrido pelo baiano Jônatas Levi Campos Barbosa dos Santos lhe permitiu chegar a paragens cada vez mais altas e mais distantes, tanto na vida quanto na carreira. E esta jornada inclui um caminho diário de 14 quilômetros, feito de bicicleta entre a cidade da Barra dos Coqueiros, onde mora atualmente, até o Campus Farolândia da Universidade Tiradentes (Unit), em Aracaju, onde está a poucos dias de defender a sua dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP)

Jônatas está na Unit desde 2018. Na ocasião, ele recomeçava os estudos acadêmicos, pois, 12 anos antes, tinha sido aprovado para fazer Química Industrial na Universidade Federal de Sergipe (UFS), mas teve que trancar o curso porque não conseguia conciliá-lo com o emprego no qual trabalhava. O recomeço veio acompanhado por uma conquista importante: ele foi primeiro colocado da seleção entre os bolsistas do Programa Universidade Para Todos (ProUni). “Ganhei a bolsa 100% do ProUni para o curso de Engenharia Ambiental. Mas na época não abriu turma. Aí, para não perder a bolsa, inscrevi-me em Engenharia Civil. Só que, seis meses depois, começou o curso de Engenharia Química, que era o meu sonho”, lembra.

Desviado esse primeiro obstáculo na volta ao estudo, Jônatas também teve que superar, nas palavras dele próprio, um sentimento de “vergonha” por ter reencontrado uma professora da época de seu primeiro curso na UFS: a professora Elayne Emília Santos Souza, então coordenadora na Unit, que acolheu o antigo aluno e convidou-o para participar de um projeto de iniciação científica, sobre o desenvolvimento de queijos e sorvetes com baixo teor de lactose, sob orientação da professora Cleide Mara Faria Soares, do PEP e do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP). 

Ao deixar o emprego, foi aprovado como bolsista, mas teve que dar aulas particulares em vários bairros da cidade durante o dia, para complementar a renda. “Às vezes a gente romantiza, mas só eu sei o que eu tive que suar, acordar cedo, trabalhar, rodar pela rua, sair às 22h30 para pegar o coletivo”, diz o pesquisador, que gastava duas horas em três linhas de ônibus para se deslocar entre a Farolândia e o bairro Cidade Nova, onde morava na casa de um colega nascido em sua cidade de origem, Entre Rios (BA). 

Foi neste momento em que ele descobriu as duas rodas como um meio de transporte mais ágil que o ônibus e mais econômico para chegar às aulas particulares e ao Campus Farolândia à noite. E a rotina era bem puxada. “Precisava estar sempre andando pela cidade [Barra, Socorro, São Cristóvão e Aracaju]. Meu tempo na Unit era basicamente para a IC e aulas à noite. Teve dias de percorrer mais de 60 quilômetros entre idas e vindas, de bicicleta”, enfatiza. O cansaço físico foi compensado pelo tempo ganho na rotina e pela oportunidade de manter uma atividade física. Hoje, ele gasta 45 minutos entre a casa e o Campus, onde toma banho nos vestiários e se troca antes de iniciar os trabalhos do dia. 

A determinação impulsionou ainda o desempenho de Jônatas na IC, cuja pesquisa resultou em uma patente depositada e apresentações em congressos nacionais e internacionais. Mesmo com a pandemia da Covid-19, que restringiu as atividades públicas em 2020, ele continuou os trabalhos em casa e conseguiu participar de outros dois projetos de iniciação científica: um método de separação e aproveitamento simultâneo da proteína (whey protein) e lactose contida no soro e um estudo sobre o processo de adsorção (fixar uma molécula em algo) e dessorção (separar) das moléculas de lactose. Eles também resultaram em patentes depositadas. 

O aluno se formou em Engenharia Química no ano de 2022 e logo entrou para o mestrado no PEP, onde avançou em uma pesquisa sobre a produção de bioquerosene de aviação (BioQAv) através da biomassa produzida a partir de insumos como a casca de coco e o bagaço de cana de açúcar. A dissertação deverá ser defendida até o final de julho deste ano, com orientação do professor Cláudio Dariva, e deverá ter prosseguimento em uma futura tese de doutorado. 

Motivos para seguir

Em todo este trajeto, Jônatas destaca o apoio dado pelas pessoas com quem foi encontrando pelos corredores, laboratórios e salas de aula, incluindo assistentes do curso, técnicos de laboratório e pesquisadores do ITP. “Sempre tive acesso aos meus professores e coordenadores e com uma relação muito boa. Meus colegas, a minha turma foi interessante, fiz grandes amigos. O pessoal da limpeza e prestação de serviços sempre foram bem-educados comigo. As relações pessoais, o apoio, o puxão de orelha quando necessário, a palavra amiga, isso sim, não tenho do que reclamar”, cita o pesquisador. 

Estas relações também são encontradas em outras fontes de apoio que movem o futuro mestre a seguir em frente nas mesmas pedaladas firmes e compassadas pela estrada do conhecimento. Um incentivo que vem dos pais, da esposa e de Deus. “Sei que pode soar estranho, mas é minha obrigação continuar, prosseguir. Não a obrigação com conotação negativa, mas no sentido de ter tudo que preciso para seguir em frente. Isso não quer dizer que a vida é fácil, que será moleza. Não é! Quero dizer apenas que possuo as ferramentas para vencer as dificuldades”, enfatiza.

E uma destas ferramentas está em sua fé. Jônatas, que é evangélico, refere-se à sua trajetória usando passagens de dois Evangelhos: o de João, no qual Jesus Cristo declara ter vindo “para que todos tenham vida em abundância”, e o de Lucas, no qual o apóstolo Pedro é orientado a “lançar as redes em águas mais profundas”, e acaba com o barco lotado de peixes. “Falamos tanto em meritocracia, equidade, igualdade de condições, de crescimento, porém, é necessário entender que nada “é de graça” e que cada um precisa fazer a sua parte. A vida com abundância que Deus oferece (sempre está a nos oferecer) está atrelada a um esforço nosso. É isso que me move”, conclui.

* – Texto alterado em 12/07/2024, às 11h42, para correção de informações

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