Como funcionam os sistemas educacionais do Brasil e dos Estados Unidos? Essa é uma das perguntas respondidas através de pesquisas do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes (Unit), em parceria com a University of Massachusetts Boston (UMass Boston). O período de imersão na cidade americana fez com que a professora Simone Silveira Amorim, integrante do PPED, despertou-lhe o interesse no sistema de educação local e descobriu que ali também existem dificuldades, principalmente no acolhimento a filhos de imigrantes latinos em escolas locais.
A questão foi estudada a partir da pesquisa “A trajetória profissional de educadoras imigrantes em Massachusetts”, iniciada em 2018. Sua proposta foi analisar a trajetória profissional de três educadoras imigrantes no estado de Massachusetts, identificando as contribuições advindas da inserção delas no sistema educacional, tendo em vista os saberes e práticas docentes necessários para exercer a profissão.
De acordo com Simone, a inclusão e a integração dos professores imigrantes nas escolas do estado americano são grandes desafios enfrentados em Massachusetts. “Especialmente porque eles têm um número impressionante de imigrantes vivendo lá. Há a dificuldade de incorporar essas pessoas todas no sistema educacional e oportunizar-lhes as condições necessárias para sobreviver em uma sociedade. Então, eu comecei a ver de perto esses aspectos relacionados à educação, conhecer o funcionamento efetivo”, disse ela, que à época morava em Boston com a família e tinha seus dois filhos estudando em escolas locais.
A experiência familiar permitiu à pesquisadora uma vivência mais próxima do sistema educacional americano e, a partir de contatos feitos na região, ela criou um projeto de iniciação científica voltado para educadores imigrantes nos Estados Unidos, com a participação das colaboradoras do grupo Hilary Marques e Manoela Barbosa, e do aluno de iniciação científica João Pedro Gomes, que entrevistaram as docentes imigrantes sobre o assunto e ajudaram no levantamento das outras informações necessárias à pesquisa. O projeto já foi concluído, mas ainda há alguns dados que estão sendo produzidos.
Um resumo expandido com as primeiras conclusões já foi apresentado na última edição da Sempesq (Semana de Pesquisa da Unit Sergipe) e submetido para publicação em uma revista científica de educação, em inglês e em português. Um segundo artigo foi produzido por Simone Amorim, em parceria com professoras da UMass Boston e do Molloy College, em Nova York, também aceito para publicação em revista científica estrangeira. “Ela, analisou como conflitos e colisões tornam os conhecimentos fluidos, colocando-os em movimento na educação em geral na medida em que as fronteiras fictícias são dissolvidas e as interconexões locais e globais são reveladas, sob a perspectiva da Pedagogia Crítica e das ideias desenvolvidas pelo educador brasileiro Paulo Freire, um dos mais respeitados teóricos educacionais do mundo”, explica a professora..
Parceria
Além dos artigos, a pesquisa rendeu uma iniciativa concreta: a Portuguese Language Partnership for Education (Parceria para a Educação em Língua Portuguesa), uma parceria que reúne docentes, pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos, diretores de escolas em Massachusetts e administradores ligados à educação, em geral. Ela foi formada com o objetivo de discutir e buscar soluções para o aprendizado de português no sistema educacional do estado americano, garantindo o ensino bilíngue a alunos filhos de imigrantes brasileiros, portugueses e de outros países lusófonos.
“Ela procura desenvolver estratégias para apoiar o trabalho realizado por esses docentes em sala de aula, a partir de material didático e ações que sejam importantes para comunidade, conscientizando sobre a importância da educação e da manutenção da língua de origem. Porque a criança que vai morar lá fica inserida num contexto que é monolíngue, de aprender o inglês. Eu vi muitas crianças lá, que eram filhos de brasileiros e que nasceram lá ou tinham se mudado com seus pais, que falavam muito pouco em português. A partir da legislação recente, os educadores de lá estão tentando fazer com que as crianças tenham direito de ter aulas e em suas próprias línguas, para que essa essa origem cultural não se perca”, conclui Simone.
Asscom | Grupo Tiradentes