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Pesquisa do PPED detalha as práticas pedagógicas do Conservatório de Sergipe 

Existente desde 1945, o Conservatório de Música se consolidou como um importante espaço um espaço de formação e educação no estado e teve suas práticas estudadas em uma dissertação de mestrado

às 14h08
A sede atual do Conservatório de Música de Sergipe, no centro de Aracaju (André Moreira/ASN)
A sede atual do Conservatório de Música de Sergipe, no centro de Aracaju (André Moreira/ASN)
A professora Ester Villas-Boas do Nascimento, docente do PPED/Unit e pianista formada pelo Conservatório (Jonatha Dionísio)
A professora Kadja Emanuelle Araújo Santos, doutoranda do PPED/Unit e atual coordenadora pedagógica do CMSE (Reprodução/Memorial de Sergipe)
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O samba “Divina é a Música”, composto por Osório Lima e gravado em 1976 pela cantora Beth Carvalho, descreve a música como algo “que veio ao mundo antes de Cristo para a humanidade alegrar”, e que pode ser encontrada “no bico de um passarinho a cantar”, “no teclado de um piano e na batuta de um maestro”, bem como “no riso, na fé, nas dores e na memória de todos os compositores”. A sua beleza também se faz presente na formação destes músicos, em espaços como o Conservatório de Música de Sergipe (CMSE). 

A pesquisadora Kadja Emanuelle Araújo Santos, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPED) da Universidade Tiradentes (Unit) e atual coordenadora pedagógica do CMSE, se aprofundou em importantes pesquisas sobre a instituição. Em 2023, ela defendeu no PPED a dissertação de mestrado “As Práticas Educativas no Conservatório de Música de Sergipe (1961-1979)”, que analisou, a partir de documentos oficiais e de notícias da imprensa local na época,como foram as práticas educativas que a instituição teve que adotar após o fim da disciplina de Canto Orfeônico, extinta por força da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1961. 

“Os resultados desta pesquisa contemplam dados como a primeira prática educativa da Instituição, as alterações pedagógicas nas décadas de 1960 e 1970, estudo sobre o aumento das matrículas, criação dos cursos e grupos musicais, a exemplo a Orquestra Sinfônica da Escola de Música de Sergipe (1962). Assim como, a constatação da participação feminina no ensino e na aprendizagem de Música em Sergipe, as alterações de denominação e mudança de sede”, explica a autora, que teve como orientadora a professora-doutora Ester Villas-Boas do Nascimento, do PPED/Unit.  

A dissertação foi apresentada em maio deste ano na mesa redonda da 22ª Semana Nacional de Museus e divulgada no podcast Pesquisas do Memorial, ambos promovidos pelo Memorial de Sergipe, espaço mantido pela Unit e pelo Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP). Um recorte da pesquisa foi apresentado em novembro passado no 24º Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical (Abem), em Ouro Preto (MG). Outro recorte, focado na pesquisa documental realizada nos jornais da época, está entre as comunicações que serão feitas no 12º Congresso Brasileiro de História da Educação, que acontecerá entre 14 e 17 de agosto em Natal (RN). E o artigo “A escrita polifônica sobre a fundação do Conservatório de Música de Sergipe” foi publicado na revista Interfaces Científicas-Educação, da Editora Universitária Tiradentes (Edunit). 

Como ele surgiu

O Conservatório existe desde a criação do então Instituto de Música e Canto Orfeônico de Sergipe (Imcose), em 28 de novembro de 1945, por um decreto do então interventor Hunald Santaflor Cardoso. No texto, o decreto traçava o objetivo do Instituto: “[…] preparar e diplomar em curso especializado o professorado de música e canto orfeônico imprescindível às necessidades da instituição pública local”. Seu fundador e primeiro diretor foi o professor e maestro Genaro Plech. 

Kedja explica que a criação da instituição se deu no contexto em que as disciplinas ligadas à música eram amplamente ensinadas. “Era um momento em que havia práticas de Canto Coral nas escolas e o compositor Heitor Villa Lobos coordenava nacionalmente o projeto de Canto Orfeônico. A proposta pedagógica da Instituição modificou-se ao longo do tempo, acompanhando as alterações pedagógicas vigentes no Brasil até tornar-se Conservatório de Música de Sergipe em 1971, com uma proposta ampliada de cursos voltados à prática instrumental, à formação técnica e criação de grupos musicais”, diz ela.

Os conservatórios foram criados a partir de instituições de caridade que surgiram ao longo do século 16, para levar o ensino e a prática da música para órgãos e crianças pobres. O primeiro deles foi em Nápoles, na Itália, mas a principal referência surgiu no século 18, com o Conservatório de Música de Paris (França). No Brasil, o primeiro foi fundado no Rio de Janeiro, em 1848, e os principais foram surgindo ao longo da primeira metade do século passado, como o Dramático e Musical de Tatuí, no interior de São Paulo; e o Pernambucano de Música, no Recife.

Atualmente, o CMSE é vinculado à Secretaria Estadual de Educação e Cultura (Seduc) e passou recentemente por uma reforma de sua sede, na Rua Boquim (centro de Aracaju), que reativou a Sala de Concertos Villa Lobos. Seu último processo seletivo teve cerca de 2 mil inscritos e seus perfis nas redes sociais somam mais de 11 mil seguidores. 

Celeiro de talentos

Ester Villas-Boas descreve o Conservatório como a única instituição sergipana que oferta gratuitamente cursos de formação técnica em instrumento musical e canto regulamentados pelo Ministério de Educação, profissionalizando musicistas e cantores na área popular e erudita. “Assim como oferta cursos de formação para os que desejam iniciar o aprendizado musical e oficinas de musicalização para as crianças. Além disso, promove masterclass, recitais, concertos, concertos didáticos com profissionais renomados e grupos pedagógicos”, afirma.

Kadja acredita que o papel principal de um Conservatório é o compromisso com o desenvolvimento de habilidades musicais e com a formação profissional de cantores, instrumentistas, arranjadores e compositores, contribuindo com os campos da cultura, das artes e da educação. “Ele promove a linguagem artística que é potencialmente comunicativa e socializadora. O ensino de música promove o conhecimento e a valorização de várias culturas por meio do estudo das suas obras musicais, técnicas, histórias de vida dos compositores e compreensão da história cultural de cada local. No campo da educação profissional, ele qualifica para o mercado de trabalho, contribuindo para o fortalecimento da cultura e o desenvolvimento da cadeia produtiva da música sergipana”, explica. 

“O CMSE há décadas prepara jovens para o mundo do trabalho como músicos. É uma boa oportunidade para as crianças a partir dos sete anos de idade despertarem sua sensibilidade musical, até para aqueles que se aprofundam na execução de algum instrumento específico. A maior parte dos músicos que atuam no mercado musical sergipano passaram pelo CMS”, garante Ester, citando os cantores e compositores Antônio Rogério e Irineu Fontes, o violonista Heitor Mendonça (atual diretor) , o instrumentista Emmanuel Vasconcelos (criador do conjunto Renantique) e os pianistas Joel Magalhães, Daniel Freire e João Ventura. 

A própria professora Ester Villas-Boas também faz parte da história do Conservatório. Vinda da terceira geração de uma família de músicos, ela começou a estudar Piano na instituição aos sete anos, se formou em 1984 e construiu uma sólida carreira musical em Brasília (DF), onde chegou a ser pianista do Coral do Governo do Distrito Federal e da Catedral de Brasília. Após ser aprovada em concurso na Seduc sergipana, voltou ao CMSE por mais cinco anos, como professora das disciplinas de Piano, Percepção e Teoria Musical. 

“Sinto-me em casa no Conservatório de Música de Sergipe. Ele integra as minhas memórias mais antigas. Meus professores, principalmente de Piano, Geralda Abreu e Paulo César Prado, me ensinaram a desenvolver a disciplina, a concentração, a sensibilidade, a percepção, a excelência”, lembra ela, para quem a música é parte de seu DNA: “O vento, os pássaros, o farfalhar das árvores, o barulho do mar… Tudo é música!”. 

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