O WhatsApp é a principal fonte de informação do brasileiro. Foi o que apontou uma pesquisa realizada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. Os dados divulgados na semana passada revelam que dos 2.400 entrevistados, 79% sempre utilizam a rede social e 14% usam às vezes.
Segundo Polyana Bittencourt, professora especialista do curso de Comunicação Social da Unit, o boom desse fenômeno chegou juntos com os smartphones que agregados a uma melhor conexão de internet, com custos baixos, possibilitam infinitas interações a partir de uma tela de celular.
“O cenário é muito favorável ao acesso ininterrupto ao que acontece na internet. O aplicativo tem milhões de usuários e é a plataforma mais popular. Tem muita coisa boa nisso, mas tem muitas consequências negativas. Desses milhões de usuários do WhatsApp muitos não acessam fontes de informação “confiáveis” e se informam baseado no que recebem”, disse.
Consumir qualquer tipo de informação leva as fakenews. A pesquisa revelou que de cada 10 pessoas, oito já identificaram notícias falsas e compartilhamento sem a devida checagem não é rotina para 82% dos usuários. Apesar disso, a checagem indica ainda que a maioria acha difícil identificar uma notícia falsa em redes sociais.
“Muitos usuários não se preocupam em saber quem produziu as informações e não se interessam em buscar informações de outras fontes. Querem respostas rápidas, mas em muitos casos são superficiais e inconsistentes. As informações disseminadas pelo aplicativo podem ter sido produzidas por profissionais como também não. Na internet, infelizmente existe, o anonimato e a ausência de dono ou controle sobre o que se é produzido. Como esse aplicativo pode ser a principal fonte de informação do brasileiro se nele qualquer um pode produzir qualquer coisa? Isso é muito conflitante”, confidenciou Polyana.
Por outro lado, a televisão e os jornais aparecem como veículos de comunicação com maior credibilidade para a maioria, mas para uma parcela com menor escolaridade essa percepção se divide. “Ler uma reportagem com especialistas, explicações e desdobramentos sobre o assunto exige tempo e disposição. Duas coisas que o usuário de WhatsApp não tem. A lógica do comportamento é outra e passa por processo cultural em que a educação pode ajudar muito. Nós usamos muito mal a internet. Por que a maioria consegue ficar uma hora ininterrupta no WhatsApp e não é capaz de ficar o mesmo tempo lendo uma revista semanal ou um jornal que vai enriquecer muito mais?”, questiona.
A professora Polyana Bitencourt revela ainda que sempre orienta seus alunos sobre buscar informações e não desinformações. “Acredito que isso é também um processo educativo. Existem vários aplicativos gratuitos que podem ser excelentes fontes de informação. Gratuitos, fáceis e disponíveis no smartphone. Inclusive, as escolas da França estão proibindo o uso de celular. Se não sabe usar, se não ajuda o processo é preciso rever o uso”, conclui a especialista.