“Quanto mais tempo na iniciação científica, mais pensante você se torna”. Assim define a pesquisadora Robertta Jussara Rodrigues Santana, do alto da sua experiência de quatro anos e meio em projetos de iniciação científica, desenvolvidos em praticamente todo o tempo do curso de graduação em Farmácia na Universidade Tiradentes (Unit). Em parte deste tempo, nos três primeiros anos, ela atuou em pesquisas sobre produtos naturais, biomateriais, nanotecnologia e lesão medular. Já no período restante, de um ano e meio, as linhas de pesquisa seguiram pela área de produtos naturais, cosméticos e envelhecimento cutâneo.
Ela conta que decidiu ingressar nos projetos de pesquisa assim que começou a graduação, motivada principalmente por ser fascinada pelo meio científico, desde a infância. “Eu sempre fui o tipo de criança que adorava documentários sobre descobertas científicas. Lembro que sempre achei muito fascinante a forma como ocorreriam interações químicas, o que me encaminhou para que, no Ensino Médio, minha disciplina favorita fosse Química. E isto me levou a escolher um curso de graduação que tivesse muita química e um mundo maior ainda de possibilidades”, disse Robertta, referindo-se à escolha pela Farmácia e à ciência como o caminho que escolheu.
O objetivo de seguir com a ciência foi amadurecendo com o tempo e, após seis meses de experiência com o primeiro projeto, a estudante foi tendo a certeza e a confirmação de que a pesquisa científica, dedicada principalmente à produção de artigos, patentes, produtos e processos destinados à indústria. Para ela, o contato diário com os professores e pesquisadores abriu o seu leque de atuação como futura profissional. “Na iniciação científica eu aprendi a pensar para resolver problemas, o que se encaixa perfeitamente nas atribuições do farmacêutico. Então, com o passar do tempo, algumas ideias foram amadurecendo e eu percebi que eu era capaz de enxergar as dores, como as da indústria de cosméticos e criar soluções fora do meio acadêmico e que como farmacêutica eu poderia resolver essas dores/problemáticas”, destacou Jussara.
A partir dos projetos de iniciação científica que participou, com orientação da professora-doutora Juliana Cordeiro Cardoso, do Programa de Saúde e Ambiente (PSA), a aluna desenvolveu o seu trabalho de conclusão de curso (TCC): “Extração guiada de fenólicos antioxidantes a partir das cascas do fruto de Punica Granatum para produção de formulação anti-idade”. A pesquisa buscou produzir um cosmético para tratamento do envelhecimento cutâneo, a partir de insumos obtidos no processo de extração sustentável de substâncias presentes na casca de romã. “A questão da alta toxicidade de muitos cosméticos destinados para o tratamento da hiperpigmentação e do envelhecimento cutâneo, nos chamou a atenção para desenvolver um cosmético que apresentasse baixa ou nenhuma toxicidade para o tratamento destes distúrbios cutâneos”, detalhou Robertta.
A trajetória na iniciação científica rendeu ainda um desconhecimento. Em agosto do ano passado, a egressa foi uma das vencedoras do XI Prêmio João Ribeiro de Divulgação Científica e Inovação Tecnológica, concedido pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica de Sergipe (Fapitec/SE). Ela ficou em 3º lugar na categoria Jovem Cientista, a partir de um trabalho de revisão de literatura sobre o uso da nanotecnologia para produção de nanolarvicidas, com aplicação para o controle de larvas relacionadas a doenças tropicais negligenciadas.
No mestrado
Após a formatura, em dezembro de 2022, Roberta escolheu fazer um mestrado, definido por ela como o caminho para prosseguir com sua carreira acadêmica e continuar a sua formação como pesquisadora. Ela ingressou no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Industrial (PBI), onde está cursando o mestrado e desenvolve uma pesquisa sobre “Extração e Caracterização do óleo do café para aplicações farmacológicas”, com orientação dos professores-doutores Thiago Rodrigues Bjerk e Elton Franceschi.
O estudo envolve a obtenção de produtos naturais (óleos e extratos vegetais) utilizando solventes pressurizados e a caracterização cromatográfica destes. O objetivo é obter o óleo de café rico em bioativos e aplicar este produto na elaboração de cosméticos ou como insumo farmacêutico ativo (IFA) na elaboração de produtos farmacêuticos.
O aprofundamento e os objetivos das pesquisas levaram Robertta a criar uma startup, a Standlyc Company, especializada na criação de soluções sustentáveis para a indústria de cosméticos. Nessa função, ela atua no desenvolvimento da extração e caracterização de vegetais para aplicação nestes produtos. Ela ainda integra uma equipe multidisciplinar de desenvolvimento de cosméticos inovadores, ligada ao programa Catalisa ICT, uma parceria do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) com o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Robertta Jussara destaca que a Unit foi importante para a sua formação acadêmica e profissional, colaborando de forma decisiva para construção da carreira, principalmente através de seu corpo docente. “Acredito que o ponto chave para um bom profissional, está em quem educa. Se hoje eu tenho uma formação acadêmica que me permite ser uma farmacêutica que é mestranda e empresária, eu devo agradecer ao corpo docente do meu curso. Obviamente que a estrutura da instituição foi muito importante, mas de maneira secundária, porque quem me tornou uma profissional que é um ser pensante foram meus professores”, afirmou.
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