A gestação é uma jornada repleta de transformações e desafios emocionais, impactando profundamente a vida das mulheres. Nesse contexto, a oferta de assistência psicológica gratuita durante o pré-natal e pós-parto emerge como um investimento crucial na saúde mental materna. Essa abordagem não apenas visa prevenir possíveis transtornos mentais, mas também fortalecer a capacidade das gestantes e puérperas de enfrentarem os desafios da maternidade.
A psicóloga clínica e hospitalar, mestre em ciências da saúde e preceptora na Universidade Tiradentes (Unit), Camila Santiago, destaca a importância da assistência psicológica gratuita durante o pré-natal como um investimento vital na saúde mental materna.
“Ter a possibilidade de espaços que ofereçam assistência psicológica gratuita viabiliza não só ações preventivas de manutenção da saúde mental materna, mas também facilita o fortalecimento dos recursos de enfrentamento desta mãe durante o período gravídico e consequentemente preparo para o puerpério”, afirma a especialista.
Partindo da ideia de que cada gestação é única, Camila ressalta que o primeiro desafio psicológico é a própria decisão de ser mãe. “As expectativas criadas em torno da gestação, questões econômicas, sociais, transformações físicas e alterações hormonais podem ser aspectos desafiadores para a gestante. Especial atenção é dada às mulheres com histórico de transtorno psiquiátrico, já que a gestação pode aumentar a vulnerabilidade emocional, tornando-se um fator de risco para recidivas”, explica.
Questões emocionais na gestação
Com base em sua vasta experiência profissional, Camila destaca as preocupações emocionais mais comuns enfrentadas pelas mulheres durante a gestação. “Medo da perda de emprego, autoestima baixa, insegurança sobre a recuperação do corpo pós-gestação, receio de ser rejeitada pelo parceiro e preocupações com a saúde do filho são exemplos frequentes. Há um distanciamento entre a percepção idealizada da maternidade e a realidade, surgem sintomas de ansiedade que podem prejudicar diversos aspectos da vida da gestante”, ressalta.
A assistência psicológica, segundo Camila Santiago, visa oferecer um espaço de escuta ativa e qualificada. “Isso permite que a gestante elabore seu sofrimento e atenuar sintomas de ansiedade e estresse. A intervenção técnica realizada por profissionais capacitados favorece o autoconhecimento, fortalecendo as capacidades internas da gestante para lidar com as dificuldades do período gestacional”, destaca.
Camila destaca que o pós-parto apresenta desafios adicionais, como a necessidade de desconstruir a visão romantizada da maternidade. “A continuidade da assistência psicológica para aquelas mulheres que já se encontravam em fragilidade psicoemocional na gestação é um fator protetivo. Além da sobrecarga física e da privação de sono, existe uma sobrecarga emocional relacionada aos aspectos subjetivos da relação mãe-bebê e suas expectativas”, afirma.
O puerpério, período de aumento da vulnerabilidade psicoemocional, pode apresentar diferentes padrões psicológicos. “O comprometimento mental brando, conhecido como ‘baby Blues’, pode evoluir para depressão pós-parto. A assistência psicológica durante o pré-natal e pós-parto atua como medida preventiva, favorecendo a promoção da saúde mental materna e a ressignificação de sentimentos negativos”, alerta Camila.
Para Camila, a assistência psicológica gratuita tem impactos significativos na prevenção de transtornos mentais pós-parto. “O suporte preventivo e a intervenção precoce nos sintomas negativos favorecem o não desenvolvimento de transtornos mentais mais severos. O investimento na saúde mental materna não apenas promove o bem-estar da mãe, mas também contribui para o desenvolvimento emocional do bebê, fortalecendo a base familiar como um todo”, conclui.
A assistência psicológica gratuita durante o pré-natal e pós-parto surge como um caminho essencial para promover o bem-estar materno. Ao reconhecer a singularidade de cada gestação e oferecer suporte emocional qualificado, essa abordagem visa não apenas prevenir transtornos mentais, mas também fortalecer a capacidade das mulheres de enfrentar os desafios da maternidade. A continuidade desse suporte no pós-parto emerge como um fator protetivo, contribuindo para uma adaptação mais saudável à nova fase da maternidade e, por conseguinte, para a construção de uma sociedade mais saudável e acolhedora.
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