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Real chega aos 30 anos mantendo a força e a estabilidade da economia

Plano econômico adotado em 1994 conseguiu controlar uma hiperinflação que afetava a economia, implantando uma moeda que está em vigor até hoje

às 22h08
Notas antigas do real, moeda que já é a mais longeva em vigor na economia brasileira desde 1942 (Reprodução)
Notas antigas do real, moeda que já é a mais longeva em vigor na economia brasileira desde 1942 (Reprodução)
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Era o dia 1º de julho de 1994, uma sexta-feira. Em meio ao clima de torcida pelo tetracampeonato da Copa do Mundo de Futebol, muita gente corria aos bancos e caixas eletrônicos na expectativa de receber as primeiras notas de uma nova moeda que prometia recuperar um poder de compra perdido ao longo de décadas. Eram as primeiras cédulas do Real, que chega agora aos 30 anos como a que vigora por mais no Brasil desde a primeira versão do Cruzeiro que circulou entre 1942 e 1967. 

O objetivo, porém, era maior e mais urgente, conforme o descrito na notícia de primeira página do jornal Correio do Povo, de Porto Alegre (RS), em sua edição daquele dia: ‘Hoje, a vida dos brasileiros entra no ritmo de uma nova moeda e o país volta a ter a esperança de acabar com a inflação que destruiu as anteriores”. Na época, o país passava pelo trauma de uma hiperinflação que, somente em 1993, fez o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), marcador oficial da inflação, bater o inacreditável índice de 2.400%.

Era uma crise que se arrastava desde meados da década de 1970 e levou o Brasil a adotar vários planos econômicos para tentar conter a alta diária de preços e serviços. O primeiro foi o Plano Cruzado 1, em fevereiro de 1986, que resultou na substituição do cruzeiro pelo cruzado. Depois, vieram os planos Cruzado 2 (novembro de 1986), Bresser (junho de 1987), Verão (janeiro de 1989), Collor 1 (março de 1990) e Collor 2 (janeiro de 1991). Todos eles falharam em seu objetivo, porque, na visão do economista e professor Rodrigo Rocha, docente dos cursos de Administração, Ciências Contábeis e pós-graduação Lato Sensu da Universidade Tiradentes (Unit), eles “tentavam controlar os preços na “marra”, fugindo das regras naturais de mercado, de oferta e demanda”.

A mudança de estratégia foi anunciada em agosto de 1993, quando a equipe do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, anunciou o chamado Plano Real, que trazia um longo cronograma de transição e de intensos ajustes estruturais na política econômica do governo e do país, com cortes de gastos, revisão de orçamentos, desvinculação de receitas e privatização de empresas estatais. 

Rodrigo destaca que o grande desafio para conter uma inflação historicamente elevada, como a existente no Brasil, foi controlar as expectativas do mercado e da sociedade como um todo, que ainda tinha desconfianças e receios quanto ao sucesso (ou fracasso) do Plano Real. “Por isso, foi necessário construir uma estratégia com o máximo de transparência e fazer um ajuste fiscal, que demonstrasse que não se faria o que muitos chamavam de ‘travessuras fiscais’, ou seja, desequilíbrios graves nas contas públicas”, lembra ele.

Era a preparação do terreno para a criação, em fevereiro de 1994, da URV (Unidade Real de Valor), um índice que convertia os preços em cruzeiro real para o equivalente à futura moeda. Uma estratégia que, para o professor da Unit, foi bem-sucedida. “O Plano Real desvinculou os salários e a inflação, combatendo gradualmente os aumentos dos preços e usando o dólar como referência. A estratégia de fazer a substituição gradual do Cruzeiro deu certo, pois possibilitou uma transição gradual, finalizando com a efetiva implantação do Plano Real, que até hoje cumpre o objetivo de controlar a inflação. Basta comparar a inflação de 1993, que chegou a 2.500%, e as taxas dos últimos anos que não chegam a 10% (com exceção de alguns momentos específicos, como durante a pandemia)”, destacou Rocha.

Mesmo acumulando uma inflação de 708% de 1994 até aqui, segundo os cálculos do IBGE, os índices mensais do IPCA permaneceram estáveis, em índices que mal passam a casa dos 2%. E ainda que passando por alguns sustos, como as crises econômicas globais do México (1995), dos Tigres Asiáticos (1997), da Rússia (1998) e da bolha imobiliária dos EUA (2008). A resistência é atribuída, principalmente, a medidas constantes adotadas pelos governos subsequentes para controlar os gastos públicos e, ao mesmo tempo, incentivar o crescimento da economia.

“O equilíbrio das contas públicas é um fator importantíssimo, pois possibilita a atração de mais investimentos e o controle do câmbio, evitando a disparada de preços por conta de possíveis aumentos do dólar. Apesar dos momentos mais difíceis que qualquer economia enfrenta, o Real tem conseguido resistir e manter relativa força na economia mundial”, conclui o professor.

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